A montadora chinesa BYD lançou no Reino Unido seu menor e mais barato carro elétrico, ampliando a disputa por veículos acessíveis na Europa —desta vez no segmento de compactos (também chamados de hatch), ainda dominado por motores a combustão.
O modelo Dolphin Surf, com preço inicial de 18,6 mil libras (R$ 140 mil), é equivalente britânico do hatch Seagull, um dos modelos mais populares da marca na China, onde custa menos de £ 6.000 (R$ 45 mil) em meio a uma guerra de preços no maior mercado automotivo do mundo.
“Carros compactos são a próxima fronteira da eletrificação na Europa”, disse Stella Li, vice-presidente executiva da BYD, durante evento de lançamento em Roma. Ela observou que a transição elétrica tem sido mais lenta entre os carros pequenos do que entre os utilitários esportivos.
Segundo a Agência Internacional de Energia, dos 360 modelos elétricos disponíveis na Europa no ano passado, apenas 33 eram da categoria de carros compactos. A previsão é de que mais 23 modelos desse tipo sejam lançados este ano.
Esses carros têm migrado mais lentamente dos motores a combustão por conta das margens de lucro reduzidas e da dificuldade de torná-los simultaneamente acessíveis e rentáveis, diante do custo elevado das baterias.
A BYD, maior fabricante de veículos elétricos do mundo, anunciou no mês passado planos de entrar no mercado japonês de carros pequenos com um modelo ainda mais barato do que o Dolphin —um minicarro quadrado, conhecido no Japão como Kei car, previsto para 2026, com preço inferior ao modelo vendido atualmente no país por 2,9 milhões ienes (R$ 110 mil).
Mesmo antes do lançamento do Dolphin Surf na Europa, com preço inferior a €23 mil (R$ 147 mil), concorrentes como Renault 5, Citroën ë-C3 e Dacia Spring já vinham disputando esse mercado com preços semelhantes ou até inferiores.
Na Europa, as marcas chinesas têm adotado uma estratégia de preços mais contida que na China, principalmente após a União Europeia passar a aplicar tarifas extras sobre veículos elétricos chineses desde o ano passado.
Ainda assim, a expansão da BYD para todos os segmentos deve acelerar o crescimento da marca no exterior. Segundo a consultoria Schmidt Automotive Research, a participação de mercado da BYD e de outras marcas chinesas no Reino Unido e na Europa continental subiu de 2,9% no primeiro trimestre de 2024 para 4,8% nos quatro primeiros meses de 2025.
O Reino Unido, que não adotou tarifas adicionais sobre veículos elétricos chineses, representa hoje quase um terço dos modelos dessas marcas que entram na Europa Ocidental.
De acordo com o site Auto Trader, o número de carros elétricos chineses à venda no Reino Unido entre janeiro e abril cresceu dez vezes em relação ao ano anterior, com mais de 3.300 unidades disponíveis —quase 3% do estoque de novos carros no site, frente a 0,2% no mesmo período de 2024.
Especialistas afirmam que ainda há espaço para queda nos preços dos elétricos compactos, à medida que montadoras ocidentais passam a usar baterias de fosfato de ferro-lítio, mais baratas, para competir com os chineses, que estão ampliando a produção local na Europa para evitar tarifas.
Renault e Volkswagen, por exemplo, estão se valendo de engenharia e componentes chineses para acelerar o desenvolvimento e reduzir custos de seus modelos compactos a serem lançados no próximo ano.
“Quando esses modelos chegarem ao mercado, veremos uma deflação de preços”, disse o analista automotivo Matthias Schmidt.
Cao Li, vice-presidente da Leapmotor —montadora chinesa apoiada pela Stellantis— afirmou que a convergência dos preços entre elétricos e carros a combustão é uma tendência ampla na Europa.
Alguns executivos temem que a guerra de preços vivida na China se espalhe para a Europa. Mas as tensões comerciais crescentes entre China e União Europeia podem mudar essa dinâmica.
Pequim e as montadoras chinesas propuseram substituir as tarifas da UE por um sistema de controle voluntário de preços. Segundo pessoas próximas às negociações, a China teria sugerido um preço mínimo de €35 mil (R$ 224 mil) —o que excluiria modelos acessíveis como os da BYD e da Leapmotor.
Mesmo que os cortes de preços sejam mais limitados na Europa, analistas acreditam que consumidores continuarão atraídos pela alta qualidade dos carros chineses em tecnologia e software.
Segundo a vice-presidente da BYD, a empresa pretende trazer sua tecnologia de recarga ultrarrápida para a Europa nos próximos 12 meses.
Embora a guerra de preços seja vista como prejudicial para as indústrias automotivas da Europa e do Reino Unido, o aumento da concorrência pode ajudar a impulsionar a demanda — ainda abaixo dos níveis pré-pandemia.
“O crescimento da concorrência e o surgimento de novos modelos de destaque devem criar uma pressão de preços positiva para os consumidores no curto prazo e, com sorte, estimular inovação e expansão do mercado no médio prazo”, afirmou Ian Plummer, diretor comercial da Auto Trader.