Dominick McGee, conhecido nas redes como Dom Lucre, estava entrando na Casa Branca em abril e mal podia acreditar na própria sorte. Três anos antes, ele se descrevia como um “Zé Ninguém”, trabalhando sozinho em seu apartamento, postando conteúdo de direita e teorias da conspiração em sua conta no X (ex-Twitter). Agora, havia sido convidado para o centro do poder americano.
McGee, de 31 anos, estava lá para fazer perguntas em uma coletiva de imprensa voltada para novas mídias —uma iniciativa do presidente Donald Trump para incluir pessoas fora das organizações jornalísticas tradicionais.
“Existe alguma possibilidade,” perguntou ele, “de nomes como Barack Hussein Obama e Hillary Rodham Clinton serem investigados?”
Karoline Leavitt, secretária de imprensa, chamou a pergunta de “revigorante”.
McGee é hoje um dos influenciadores de direita mais proeminentes no X, com 1,5 milhão de seguidores e bilhões de visualizações. Em janeiro do ano passado, foi classificado como o terceiro usuário mais influente da plataforma por uma empresa de análise — atrás apenas de Elon Musk, dono do X, e de Andrew Tate, notório misógino de direita.
Apoiador de longa data de Trump, McGee prospera no X por ser um mestre da provocação: publica vídeos virais que incitam debates inflamados, dissemina ataques políticos enganosos contra democratas e conquista a direita online com discursos permeados de antissemitismo. Embora tenha sido banido da plataforma em 2023 e removido do programa de remuneração em 2024 por suas postagens, essas punições duraram pouco.
Ao contrário da maioria dos criadores que mantém a vida privada e finanças em segredo, McGee abriu sua vida —e seus ganhos— ao New York Times, oferecendo um raro olhar sobre o mundo da influência digital de direita.
“Eu era um ninguém. Não era criador, não era famoso, não tinha seguidores, nem dinheiro”, disse em vídeo gravado nos jardins da Casa Branca. “E olha só o que foi possível criar na terra da liberdade.”
Musk criou em 2023 um programa para pagar criadores, um sistema que inevitavelmente recompensa postagens incendiárias, por gerarem mais engajamento. McGee publica das 9h às 20h quase todos os dias, alimentando polêmicas como profissão.
Mas o retorno financeiro é incerto. Apesar de ostentar roupas de grife, investimentos e supostos pagamentos altos, seus ganhos médios com o X foram de cerca de R$ 305 mil por ano.
McGee sonha em ser rico e famoso como Alex Jones, o conspiracionista do Infowars. Por ora, vive de atenção —e de polêmicas. Ele mesmo reconhece: “Você tem gente milionária tirando 12 segundos do dia para dizer que me odeia? Isso é mais do que eu tinha anos atrás, certo?”
Criado em North Augusta, Carolina do Sul, McGee cresceu sem muitas perspectivas. Pensava que teria que “quebrar a lei, vender drogas ou entrar para uma gangue”.
Tentou outros caminhos: serviu três anos no Exército, estudou Administração na Penn State (mas não se formou), promoveu música rap e abriu uma empresa de reparo de crédito.
Foi nas redes sociais que sua vida mudou. A campanha “Stop the Steal” de Trump, em 2020, o lançou como influenciador de direita. Criou um dos maiores grupos no Facebook dedicados à fraude eleitoral —com mais de 61 mil membros antes de ser banido pela plataforma.
McGee, que é negro e diz se vestir “como rapper”, se destacou em um universo dominado por criadores brancos de boné MAGA.
Após Musk comprar o X em 2022, McGee ganhou centenas de milhares de seguidores. Quando o programa de remuneração foi lançado, ele já estava posicionado.
Críticos denunciaram sua desinformação, mas ele entendeu que a controvérsia alimentava sua relevância. “O primeiro objetivo é ser visto”, disse. “E eles te dão isso.”
Desde o início do programa, McGee recebeu cerca de R$ 871 mil do X. Ganhou R$ 372 mil no primeiro ano e R$ 66 mil no ano seguinte, antes de ser suspenso. Após uma reformulação em outubro, reclamou com Musk, que respondeu: “Vamos resolver.” Desde então, recebeu cerca de R$ 88 mil.
A exclusão do programa de remuneração em 2024 o deixou em crise financeira. Foi salvo por um contrato publicitário com uma meme coin pró-MAGA, pelo qual recebeu mais de R$832 mil em criptomoedas — cujo valor despencou mais de 90% nos meses seguintes.
Quase todo o dinheiro sumiu. Ele tinha cerca de R$ 39 na conta-corrente e dívidas no cartão. Suas economias, em uma carteira de criptomoedas com cerca de R$ 194 mil, estavam sendo usadas para pagar contas.
“Talvez R$ 832 mil seja muito pra mim, que era quebrado”, disse. “Mas entre os criadores, sou pobre. Um dos criadores pobres.”
Seu objetivo pessoal para este ano: comprar seu primeiro Lamborghini. Para isso, pretende mergulhar ainda mais no universo da “manosfera” —onde o sucesso vem de opiniões polêmicas sobre mulheres, famosos e negócios.
McGee justifica seu conteúdo como um meio de sobrevivência: “Não é como comecei. É um mecanismo de sobrevivência. Faço isso para sobreviver. É o que precisa ser feito.”