Investidores estão migrando para prata e platina em busca de alternativas ao ouro e proteção contra a desvalorização do dólar, fazendo os preços dos dois metais dispararem.
Com a posição do dólar como porto seguro global sob pressão, o ouro vive uma valorização histórica: já subiu 25% desde o início do ano, usado como proteção contra incertezas.
Mas, diante de temores de que o ouro esteja caro demais, outros metais preciosos começaram a se destacar. A prata atingiu o maior valor em 13 anos e a platina chegou ao nível mais alto em quatro anos, com ambos registrando alta superior a 10% só em junho.
“O ouro ainda é a principal proteção contra o dólar, mas agora vemos a próxima fase desse movimento”, disse Nicky Shiels, analista da refinadora de metais preciosos MKS Pamp. “O ouro quase dobrou de valor nos últimos dois anos, e o mercado busca o ‘e agora?’.”
Segundo ela, a preocupação com o endividamento excessivo do governo dos EUA tem levado investidores a procurar alternativas à moeda americana.
A prata, usada tanto na indústria quanto na cunhagem de moedas, caminha para seu melhor mês em mais de um ano, negociada acima de US$ 36 por onça.
Os fundos de índice com lastro em prata registraram forte entrada de recursos: mais de 300 toneladas em junho, contra 150 toneladas em maio.
“Parece um movimento de recuperação da prata e da platina em relação ao ouro”, disse Suki Cooper, analista de metais preciosos no Standard Chartered.
Ela observou que a relação entre os preços do ouro e da prata, que historicamente gira em torno de 65, está agora em 93 —sugerindo que a prata ainda está barata.
Ao contrário do ouro, prata e platina têm usos industriais relevantes e a demanda por ambos deve superar a oferta este ano. A prata é utilizada na fabricação de painéis solares, soldas, baterias e revestimentos para vidro.
A platina, por sua vez, chegou nesta semana a US$ 1.273 por onça, acumulando alta de 18% em junho —o melhor mês desde 2008.
Segundo o Conselho Mundial de Investimento em Platina, 40% da demanda por esse metal vem da indústria automotiva, 26,5% da joalheria e 26% de outras aplicações industriais.
A adoção mais lenta que o previsto dos carros elétricos tem beneficiado a platina, já que veículos a gasolina e híbridos usam o metal em seus conversores catalíticos.
A alta do ouro também tem impulsionado a demanda por joias de platina como alternativa. As importações chinesas de platina cresceram em abril, sinalizando renovado interesse no setor de joalheria.
A platina enfrenta seu terceiro ano consecutivo de déficit estrutural. Segundo Cooper, os preços só começaram a reagir agora porque os estoques disponíveis fora das minas estão se esgotando.
“Esperamos déficits profundos para prata e platina em 2025”, disse ela. “Há espaço para mais valorização.”
A demanda de investidores também aumentou: fundos de índice com platina já acumularam entrada de 70 mil onças desde o início do ano.