A queda do voo da Air India com destino a Londres ocorre em um momento crucial para a Boeing, que enfrenta as consequências de uma série de crises envolvendo segurança e produção.
A causa do acidente com uma aeronave Boeing 787-8 ainda não foi determinada, mas o episódio pode prejudicar os planos de recuperação liderados pelo novo CEO, Kelly Ortberg. As ações da Boeing, que haviam subido mais de 20% desde o início do ano, encerraram o pregão de quinta-feira (12) em queda de 4,8%.
Ortberg afirmou na quinta-feira que uma equipe da Boeing está pronta para apoiar a investigação conduzida pelo Escritório de Investigação de Acidentes Aéreos da Índia. A empresa declarou estar “solidária com os passageiros, a tripulação, os socorristas e todos os afetados” pelo acidente.
Veterano da indústria, Ortberg assumiu o comando da empresa em agosto passado e tem buscado estabilizar a produção da Boeing e melhorar seus processos de controle de qualidade após a explosão de uma tampa de porta em um 737 Max-9 em pleno voo, em janeiro de 2024.
O acidente ocorre após dois desastres com o modelo 737 Max-8, em 2018 e 2019, que deixaram 346 mortos no total. Desde então, Ortberg prometeu mudar a cultura da fabricante de aviões.
Embora não tenha havido mortes no incidente de 2024, ele reacendeu questionamentos sobre a qualidade da produção da Boeing, provocou uma troca na alta gestão da empresa e levou à nomeação de Ortberg, ex-CEO da fornecedora de aviônicos Rockwell Collins.
Ortberg afirmou ao Financial Times, em entrevista recente, que a recuperação da Boeing estava em curso, embora tenha evitado afirmar que a virada já havia sido alcançada.
A queda do voo 171, que matou quase todos os 242 passageiros e tripulantes a bordo, além de causar vítimas no solo, chamou atenção para o modelo mais avançado da Boeing, o wide-body 787, usado em voos de longa distância.
A empresa já entregou mais de 1.100 unidades do modelo, conhecido como Dreamliner, que usa materiais compostos leves para melhorar a eficiência de combustível. Este foi o primeiro acidente fatal com o 787 desde sua entrada em operação, no fim de 2011. Antes do acidente, não havia registros de mortes com esse modelo, segundo o banco de dados da Aviation Safety Network.
Apesar do bom histórico de segurança, o 787 já enfrentou problemas de produção. Incêndios nas baterias levaram à paralisação da frota por quatro meses em 2013. Mais recentemente, a Boeing teve de suspender entregas do modelo por quase dois anos devido a falhas de qualidade.
Denunciantes também levantaram preocupações sobre o processo de fabricação do 787. A Boeing rejeitou no ano passado alegações de um engenheiro da própria empresa sobre a integridade estrutural da aeronave, alegando que as questões foram rigorosamente investigadas e que o avião é seguro para operação a longo prazo.
Também foram feitas críticas à fábrica da Boeing na Carolina do Sul, onde o 787 é montado. Entre os críticos estava John Barnett, ex-gerente de qualidade da empresa, que tornou públicas suas preocupações sobre falhas na produção em 2019.
Especialistas em aviação ressaltaram na quinta-feira que ainda é cedo para determinar as causas da queda, mas apontaram irregularidades observadas em vídeos do acidente.
O consultor em aviação John Cox, diretor da Safety Operating Systems, disse que o perfil de voo era “incomum, e isso certamente será investigado”.
“O nariz do avião estava elevado, mas a aeronave estava descendo”, afirmou Cox, acrescentando que também havia dúvidas sobre a posição dos flaps, dispositivos na asa que deveriam estar estendidos. Segundo ele, não era possível saber com clareza se estavam ou não.
O tenente-coronel John R. Davidson, ex-piloto da Força Aérea dos EUA e consultor em segurança aérea, disse que o avião pareceu atingir a velocidade necessária para a decolagem, mas depois teve dificuldade para ganhar altitude, segundo os dados de voo. Isso sugere “uma rotação muito tardia ou uma perda de sustentação logo após a decolagem”.
Entre os possíveis fatores, ele apontou falhas de empuxo ou desempenho dos motores, peso excessivo, configuração inadequada de superfícies móveis e até falhas mais críticas que afetaram a capacidade de subida da aeronave.
“Também não se pode descartar fatores climáticos, cisalhamento do vento ou até colisão com aves, ao menos nesta fase inicial”, afirmou.