/ Jun 14, 2025

Como o processo da Disney sobre IA pode revolucionar arte – 12/06/2025 – Tec

A disputa sobre o futuro do conteúdo gerado por inteligência artificial ganhou um novo capítulo nesta quarta-feira (11), quando duas gigantes de Hollywood moveram um processo contra uma startup promissora por suposta violação de direitos autorais.

Disney e Universal —cujos impérios de entretenimento incluem Pixar, Star Wars, Marvel e Meu Malvado Favorito— entraram com uma ação contra a Midjourney, alegando que a empresa treinou indevidamente seus modelos de geração de imagens com base em propriedades intelectuais dos estúdios.

Este é o primeiro processo do tipo movido por grandes estúdios de Hollywood, marcando um momento decisivo na batalha travada por artistas, veículos de imprensa e produtores de conteúdo para impedir que empresas de IA utilizem suas obras como dados de treinamento —ou, ao menos, para que paguem por isso.

Com o avanço acelerado da IA, empresas de tecnologia têm corrido para desenvolver e monetizar ferramentas capazes de gerar imagens e vídeos com qualidade digna de Hollywood. Especialistas afirmam que essas ferramentas podem transformar a indústria do entretenimento nos próximos anos. A ação representa uma tentativa dos estúdios de garantir seu espaço nesse futuro.

“É quase como um ‘finalmente’”, disse Chad Hummel, advogado no escritório de Los Angeles da firma McKool Smith. Até agora, os grandes estúdios vinham evitando se envolver diretamente, mesmo diante de evidências de que ferramentas de IA poderiam ser usadas para gerar conteúdo potencialmente infrator. Agora, eles entraram na briga de forma contundente.

A Midjourney é uma das ferramentas de geração de imagens por IA que mais despertaram a imaginação pública, permitindo que usuários criem imagens sob demanda. O que começou como uma curiosidade rapidamente se tornou uma grande fonte de conteúdo online, com usuários produzindo desde memes e pornografia até novas versões de personagens famosos do cinema e da TV.

Mas essas imagens não surgem do nada: os modelos de IA são treinados com milhões de palavras e imagens disponíveis na internet —incluindo obras protegidas de artistas e estúdios. As empresas de IA alegam que o conteúdo gerado é inédito e que o uso dos dados de treinamento se enquadra no “uso justo” previsto na lei de direitos autorais. Já artistas e empresas de mídia de médio porte afirmam que se trata de roubo de suas criações.

A ação movida por Disney e Universal trata o caso como um embate entre o bem e o mal, chamando a Midjourney de “um poço sem fundo de plágio”. Defensores da indústria de IA respondem que os grandes estúdios estão tentando barrar um avanço tecnológico que poderia liberar uma nova onda de criatividade.

A Midjourney não respondeu aos pedidos de comentário feitos na quarta-feira.

No processo, protocolado na Corte Distrital dos EUA para o Distrito Central da Califórnia, os estúdios alegam que a Midjourney “busca colher os frutos” do trabalho criativo da Disney ao vender um serviço de geração de imagens que “funciona como uma máquina automática de cópias não autorizadas” das obras protegidas.

De fato, conteúdos gerados por IA com personagens como Mario, Shrek ou Ursinho Pooh —todos protegidos por direitos autorais— circulam na internet e frequentemente viralizam, impulsionando novas formas de fan art. Fãs de Star Wars, por exemplo, já podem criar um curta-metragem de 11 minutos com cenários e personagens fotorrealistas, usando apenas uma ferramenta de vídeo por IA.

No entanto, vídeos gerados por IA ainda não são suficientemente avançados para produzir filmes ou séries completos com qualidade aceitável, segundo testes do Washington Post.

Essa limitação pode explicar por que os detentores de direitos autorais demoraram a entrar com ações contra geradores de vídeo por IA, segundo James Grimmelmann, professor de direito da Universidade Cornell. Enquanto a IA já consegue produzir músicas com vozes humanas, o vídeo ainda não atingiu esse patamar. Ferramentas como a Sora, da OpenAI, por exemplo, só conseguem gerar clipes de até um minuto— e mesmo com avanços impressionantes, ainda não oferecem o controle detalhado que diretores e estúdios exigem.

Apesar disso, estúdios já utilizam IA em etapas de pré-produção, efeitos visuais e imagens de cena. Desde o lançamento do gerador de imagens DALL-E pela OpenAI em 2021, a qualidade do conteúdo gerado por IA melhorou rapidamente. Empresas como OpenAI e Google já oferecem geradores de vídeo ao público. Muitos acreditam ser apenas questão de tempo até que produções inteiras feitas por IA entrem no mainstream.

O sindicato SAG-AFTRA, que representa atores de cinema e TV, já firmou acordos com empresas de IA de voz, permitindo que atores licenciem suas vozes. Nesta semana, o sindicato anunciou um acordo preliminar com empresas de videogame para garantir remuneração a atores cujas vozes ou imagens forem usadas em jogos gerados por IA.

“A paciência e a persistência resultaram em um acordo que estabelece barreiras de proteção para os trabalhadores na era da IA”, disse o sindicato em um comunicado.

Enquanto isso, novas startups como Moonvalley e Runway já colaboram com estúdios de Hollywood para integrar IA aos processos de produção.

A ação de Disney e Universal se soma a uma série de processos movidos por artistas, autores e empresas de mídia contra empresas de IA. Entre os casos mais notórios está o do New York Times contra a OpenAI, criadora do ChatGPT. Paralelamente, muitas dessas mesmas empresas também têm fechado acordos milionários de licenciamento com empresas de IA, dando acesso legal às suas obras. (O Washington Post, por exemplo, tem um acordo de compartilhamento de conteúdo com a OpenAI.)

O processo movido por Disney e Universal adota uma estratégia diferente: em vez de exigir que a Midjourney pare de usar o material dos estúdios como dados de treinamento, o pedido é para que a empresa filtre o que sua IA pode gerar.

“Parece mais uma tentativa de estabelecer expectativas semelhantes às que detentores de direitos já têm com plataformas não baseadas em IA: vocês precisam retirar do ar cópias evidentes de nossas obras”, disse Grimmelmann.

Segundo Hummel, o que os estúdios querem evitar é que empresas de tecnologia consigam excluí-los da equação ao treinar modelos com suas criações sem pagar nada.

“Isso não é uma tentativa de Hollywood de acabar com a IA generativa”, afirmou. “Trata-se de compensação.”

Artistas visuais já sentem os impactos da chegada da IA, disse Jon Lam, designer de jogos e ativista pelos direitos dos criadores. Ele afirma que muitos colegas têm dificuldades para encontrar trabalho, enquanto a IA consegue imitar diversos estilos com um clique. Para Lam, o processo desta quarta-feira é “um grande alento” para criadores que desejam impedir que a indústria use suas obras sem pagar por elas.

Uma eventual vitória de Disney e Universal não significa, no entanto, que artistas estarão protegidos da substituição por IA, segundo Ben Zhao, professor de ciência da computação da Universidade de Chicago e criador do Glaze, ferramenta que protege obras visuais contra cópia por IA. Mas, segundo ele, poderia limitar fortemente o conteúdo disponível para as IAs aprenderem. Sem novos dados, os modelos passariam a reproduzir ideias visuais repetidas, tornando-se menos úteis para estúdios.

Por outro lado, líderes da indústria de tecnologia argumentam que ferramentas como o ChatGPT não poderiam existir sem acesso a material protegido e que obrigar o pagamento individual a cada criador desaceleraria uma revolução tecnológica com enorme potencial econômico.

Estúdios como Disney e Universal deveriam abraçar o vídeo por IA, em vez de tentar barrá-lo, afirmou Adam Eisgrau, diretor do programa sobre IA, criatividade e direitos autorais da organização Chamber of Progress, que representa empresas de tecnologia como a Midjourney.

“Minha reação inicial é que a indústria do cinema tem uma longa história e memória curta”, disse. Ele comparou o processo ao movido décadas atrás contra os fabricantes de videocassetes — um processo perdido pelos estúdios, o que, segundo ele, acabou sendo “uma sorte”, já que lucraram bastante com o formato posteriormente.

Enquanto isso, cada novo avanço no vídeo por IA atrai atenção entusiasmada dos fãs da tecnologia. No último domingo, um usuário postou no fórum Reddit r/aivideo o trailer de um filme inexistente — com referências visuais semelhantes às de séries como Star Wars.

“Por favor, transformem isso em um longa. Seria insano”, comentou um usuário.

“Esse é o plano!”, respondeu o autor da postagem.

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