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Quanto alocar em previdência privada pensando na sucessão – 20/06/2025 – De Grão em Grão

Arrumar a mala de alguém querido para uma longa viagem exige cuidado. A gente dobra as roupas com atenção, separa os documentos, calcula o que pode ser útil… mas nunca sabe ao certo se aquela jaqueta vai mesmo ser necessária ou se o casaco mais leve seria melhor. Queremos que tudo esteja lá, na medida certa — sem excessos que atrapalhem, nem faltas que causem desconforto.

Essa mesma dúvida aparece no mundo dos investimentos quando tentamos organizar o futuro financeiro de quem vai continuar a viagem sem a gente. Afinal, quanto do patrimônio devemos alocar em previdência privada pensando na sucessão?

A dúvida é legítima. Todos queremos facilitar a vida dos nossos herdeiros — evitar desgastes, burocracias e gastos excessivos com advogados ou impostos. Veículos como a previdência privada do tipo VGBL costumam ser os preferidos para esse fim. E não é por acaso: o VGBL não entra no inventário, permite a escolha direta de beneficiários e reduz prazos e custos de transmissão do patrimônio.

Mas aí surge o dilema: e se eu alocar demais e, um dia, precisar desse dinheiro no curto prazo? Dependendo do momento do resgate, o VGBL pode ser fiscalmente ineficiente. Sua alíquota de imposto de renda sobre os rendimentos começa em 35% e só atinge os desejados 10% após 10 anos, no regime regressivo. No artigo de sábado, comentei como o VGBL se destacou diante da nova proposta tributária do governo. Depois da publicação, muitos leitores me fizeram a pergunta essencial: “Mas quanto, de fato, vale a pena alocar nesse veículo com foco na sucessão?”

Minha sugestão segue uma lógica simples em dois passos. No primeiro, você calcula quanto do seu patrimônio será necessário para cobrir suas despesas até os 95 anos.

Por exemplo, suponha que você tenha 65 anos, um patrimônio de R$2 milhões e gastos mensais de R$8 mil. Assumindo um retorno real de IPCA+5% ao ano líquido de IR, o valor necessário para sustentar esse padrão por 30 anos seria cerca de R$1,509 milhão. Isso deixa uma sobra de R$491 mil, que, em tese, não seria utilizada em vida.

Essa é sua reserva potencial de sucessão. Mas ela também é sua margem de segurança — e é aí que entra o segundo passo. Para decidir quanto dessa reserva deve ir para a previdência, sugiro uma regra de bolso: aloque o percentual equivalente à sua idade. Se você tem 65 anos, até 65% da reserva pode estar no VGBL. No nosso exemplo, R$319 mil que equivale a 65% dos R$491 mil. Aos 70, você repete o passo 1, eleva a parcela de sucessão na previdência para 70% e assim sucessivamente. Essa fórmula simples ajuda a equilibrar liquidez e planejamento patrimonial, protegendo o presente sem comprometer o futuro.

Esse cuidado evita dois erros comuns: alocar demais e perder flexibilidade, ou alocar de menos e deixar herdeiros diante de um inventário custoso e demorado. Planejar a sucessão é um gesto de carinho. É como preparar, com tempo e atenção, a mala de quem amamos. Porque o que mais pesa numa viagem, muitas vezes, não é a bagagem — é a falta de preparo.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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