O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo não fez nenhuma campanha contra o Congresso pela derrubada dos vetos do presidente Lula que retomaram os chamados “jabutis” (subsídios) que devem provocar um aumento na conta de luz.
Haddad disse que apoiou os vetos do presidente Lula (PT) a essas medidas porque confia na opinião balizada dos especialistas —não porque é contra o Congresso.
“O Congresso tem o direito constitucional de derrubar o veto. Agora, o governo não fez nenhuma campanha em relação ao Congresso sobre isso. Não tem uma frase minha, não tem uma frase do presidente, não tem uma frase de ministro acusando o Congresso do que quer que seja. O Congresso usou da sua prerrogativa para derrubar o veto”, afirmou o ministro.
Ao C-Level Entrevista, novo videocast semanal da Folha, Haddad respondeu ao discurso do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-Brasil-AP) na sessão da noite de quarta-feira (25) que derrubou o decreto de alta do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Na sessão do Senado, Alcolumbre subiu o tom ao afirmar que repudiava “com veemência os ataques levianos e injustos que o Congresso” estaria sofrendo desde a sessão de vetos.
Em um longo discurso, o senador disse que há “demagogia e desinformação” em torno do tema e que o Congresso agiu com responsabilidade. “Estou de cabeça erguida e seguirei defendendo um segmento elétrico mais justo”, disse o presidente do Senado.
De acordo com cálculos feitos pelo governo, os vetos derrubados pelo Congresso já elevaram a conta de luz do brasileiro em R$ 35 bilhões por ano. Outros vetos foram adiados e, se todos eles caírem, a fatura total sobe para R$ 65 bilhões.
Os vetos foram derrubados na semana passada e tratam de uma lei que versa sobre o investimento em eólicas em alto-mar (offshore). A decisão dos parlamentares beneficia empresários do setor e impacta a conta de luz do brasileiro.
Haddad disse que se preocupa com o fato de que a derrubada dos vetos vai parar na conta de luz. Sobre a defesa de Alcolumbre à manutenção dos subsídios, o ministro ressaltou que não viu nenhum especialista ou editorial de jornal defender os jabutis.
“Está falando que a imprensa também é falsa, porque vocês publicaram inúmeras reportagens ouvindo todo o setor? Vocês publicaram editoriais. Então vocês também mentiram para o Congresso Nacional? Falsificaram a realidade?”, questionou.
Haddad disse que a decisão do presidente Lula de vetar os jabutis foi técnica, não política, e que acredita que os especialistas que criticaram a manutenção dos subsídios estão corretos.
“É como o aquecimento global. Se eu acredito no que os cientistas estão dizendo, eu não estou ofendendo ninguém, eu estou simplesmente corroborando o que as pessoas que sabem muito mais do que eu estão dizendo. Eu não conheço ninguém que diga que aqueles jabutis vão melhorar o ambiente econômico do Brasil.”
O ministro afirmou que é preciso encontrar uma saída técnica para a derrubada dos vetos e fez um apelo pelo diálogo. “Depois que chega na conta de luz, faz o quê? Essa que é a questão. Vamos fazer uma discussão séria. Se está todo mundo falando que isso tem implicações, o fato de o governo estar concordando com isso não é contra ninguém, é a favor”, justificou. “Temos que encontrar um caminho para não onerar [o consumidor].”
O ministro desconversou quando perguntado sobre os lobbies empresariais que pressionaram o Congresso a manter os jabutis. “Eu não tenho informação. Não conheço os personagens, nem quero conhecer. Não frequentam o Ministério da Fazenda, não pedem audiência para mim. Não sei o nome delas, onde moram”, disse.
Como mostrou a Folha, a crítica do governo aos jabutis, de acordo com parlamentares, foi uma das reclamações com a gestão Lula no Congresso, levando à derrubada do decreto de alta do IOF.
Nos bastidores, lideranças partidárias atribuem a Haddad e outros integrantes do governo as críticas, que alimentaram a rejeição da população à decisão do Congresso de aumentar o custo da energia elétrica.
Em resposta a uma pergunta sobre percepção de que estaria isolado no governo e no Congresso, o ministro da Fazenda disse que é uma pessoa incansável para angariar apoio.
“Você viu a manifestação do Lindbergh Farias [lider do PT na Câmara] a meu respeito? Eu estou com o Lindbergh do meu lado, estou com a Gleisi Hoffmann [ministra da Secretaria de Relações Internacionais] ao meu lado. É toda uma questão da gente batalhar e, pelas causas certas, convencer, falar com as pessoas, explicar”, afirmou.