O Japão conquistou os paulistanos. Na estreia da categoria destino oriental no Viaja São Paulo, o país asiático foi escolhido por 40% dos entrevistados da pesquisa Datafolha —uma vitória expressiva que deixa para trás destinos como Tailândia (7%) e China (5%).

Se por muitos anos a Europa dominou as listas de desejos, pela primeira vez o Japão também aparece como destino dos sonhos, em um empate técnico com a vencedora histórica Itália e com a Grécia. A nova configuração revela o crescente interesse dos paulistanos por experiências no outro lado do mundo.

Não se trata apenas de um fascínio recente. O imaginário japonês habita há décadas o cotidiano brasileiro, especialmente por meio dos animes e mangás que marcaram a infância e a adolescência de gerações. Séries como “Cavaleiros do Zodíaco”, “Dragon Ball” e “Sailor Moon” abriram caminho para uma conexão afetiva com a cultura japonesa que hoje se traduz na vontade de vivenciar o país de perto.

Uma mudança técnica importante permitiu que os paulistanos dessem vazão a essa fantasia. Desde setembro de 2023, brasileiros com passaporte comum podem entrar no Japão sem a necessidade de visto para estadias de até 90 dias. A medida eliminou uma das principais barreiras para quem planejava a viagem, tornando o roteiro mais acessível e descomplicado.

O momento econômico também favorece. A desvalorização recente do iene frente ao dólar —e, por consequência, ao real— tem ampliado o poder de compra dos turistas e colocado o Japão no radar de quem busca experiências culturais sem abrir mão de um bom custo-benefício. Segundo a Organização Nacional de Turismo do Japão, o país recebeu, só em 2024, mais de 36,9 milhões de visitantes internacionais (número recorde) e somou mais de US$ 56 bilhões em receita turística.

Esse crescimento é resultado de uma estratégia de longo prazo. Desde a promulgação da Lei Básica de Promoção da Nação Turística, em 2006, o governo japonês tem apostado na modernização da infraestrutura e na internacionalização dos serviços. Estações de trem, aeroportos e pontos turísticos contam com placas e informações em inglês, e o transporte público é reconhecido pela eficiência. Ao mesmo tempo, há um esforço para preservar as experiências tradicionais, como os templos de Kyoto, os banhos de onsen e a gastronomia local, que hoje integra listas de Patrimônio Imaterial da Humanidade.

No Brasil, a forte presença da comunidade nipo-brasileira —a maior fora do Japão— também reforça esse vínculo. São mais de 2,7 milhão de descendentes, segundo dados da embaixada do Japão, muitos deles concentrados em São Paulo, o que favorece a circulação de referências culturais, gastronômicas e afetivas entre os dois países. Restaurantes, festivais e centros culturais ajudam a manter viva a conexão e despertam o desejo de conhecer a terra de origem de tantas tradições.

Apesar do entusiasmo, o turismo em alta tem gerado desafios. Cidades como Kyoto e Osaka enfrentam superlotação em pontos turísticos e escassez de mão de obra no setor de hospitalidade. Em resposta, o governo japonês tem investido em soluções tecnológicas e descentralização de roteiros para aliviar os centros urbanos e oferecer experiências autênticas também em regiões menos exploradas.