O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou que não se incomoda com os memes que atribuem a ele o apelido de “Taxad” nas redes sociais.
Ao C-Level Entrevista, novo videocast semanal da Folha, o ministro argumentou que os memes acabam se transformando em algo a favor dele. Segundo ele, as pessoas percebem que o governo está do lado da justiça tributária.
“Eu não estou aqui para normalizar uma situação anormal, que é esse apartheid social que nós vivemos no Brasil. Eu não vou normalizar isso. Eu não estou aqui para achar bonito um dos países mais desiguais do mundo que se gaba de ser a décima economia do mundo”, afirmou.
Segundo Haddad, buscar a justiça é o grande trunfo do governo. “Se o governo se apresentar como alguém que quer fazer justiça, que quer buscar melhoria das pesquisas, é o menor mal”, disse numa referência aos memes que fazem alusão às medidas de alta de impostos lançadas por ele.
Ao longo da entrevista, gravada na noite de quarta-feira (25), após a derrubada do decreto de alta do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) pelo Congresso, Haddad reforçou o discurso de que as medidas atingem o chamado andar de cima da população brasileira, que tem as rendas mais altas.
O ministro classificou esse grupo de pessoas de “morador da cobertura” do país. Ele aproveitou para alfinetar os representantes do mercado financeiro, que se posicionaram contra o aumento das alíquotas do IOF e a criação do imposto mínimo de 10% para os milionários.
“Se a turma da Faria Lima está incomodada, tudo bem”, disse. “Nós estamos falando do morador de cobertura. Todo mundo fala: ‘Ah, o Haddad está aumentando o imposto’. De um rico que não paga imposto, estou. Eu não tenho problema com isso.”
“Eu estou desonerando. Nós vamos chegar ao final do governo com 25 milhões de pessoas a menos pagando Imposto de Renda. É isso que está acontecendo”, disse ele, ao fazer uma referência ao projeto enviado pelo governo ao Congresso, no fim do ano passado, que aumenta a faixa de isenção do Imposto de Renda para o valor de R$ 5.000 e que conta como medida de compensação para a criação de um imposto mínimo para as rendas mais elevadas.
O ministro atribuiu aos 140 mil milionários do Brasil, que pagarão mais imposto de acordo com a proposta, a propaganda contra a medida, com o uso dos memes. “Agora, 140 mil têm um dinheiro que os 25 milhões não têm para ficar impulsionando meme, essas coisas”, afirmou.
Haddad disse estar tranquilo em relação a essas peças usadas pela oposição na internet. “Eu não sou ministro da Fazenda por outra razão. Eu estou aqui para isso, para fazer justiça tributária. Eu nem aceitaria o cargo para fazer uma coisa diferente da que eu estou fazendo. Se as pessoas se ofendem com o fato de que, no país mais desigual do mundo, eu estou tentando buscar justiça tributária, paciência. A minha formação é essa. Eu vou buscar esse resultado enquanto puder.”
Como mostrou a Folha, os memes de Taxad voltaram após o decreto que elevou o IOF. Haddad é chamado de forma recorrente nas redes sociais pelo apelido, que surgiu principalmente com o fim da isenção de imposto sobre compras internacionais de até US$ 50, em julho de 2024, o que ficou conhecido como “taxa das blusinhas”, por afetar o valor de compras em aplicativos como a Shein e a Shopee.
Lideranças do Congresso chegaram a relatar irritação com a postura de Haddad, de outros ministros, e de líderes do PT com o que classificam de tentativa do governo Lula de polarizar o debate de ajuste fiscal ao retratá-lo como uma luta entre do andar de cima e o andar de baixo da população.