Você sabia que Lionel Messi, quando criança em sua casa em Rosario (Argentina), gostava de brincar com miniaturas de dinossauros? Que desafiava os irmãos em jogos como T.E.G (uma espécie de War) e Jogo da Vida? Que era fã do Capitão América e do Homem-Aranha?
Eu não sabia, e me surpreendi quando, no início da mostra em cartaz em São Paulo, deparei-me com a reprodução do quarto do pequeno Messi (nascido em 1987), incluindo a cama em que dormia, pôsteres da seleção argentina na parede, cômoda com roupas de criança, a estante com os dinos, os bonecos dos heróis, os jogos de tabuleiro, bolinhas de gude, blocos de montar (estilo Lego).
E chuteira mirim, bola (afinal, a grande paixão dele era o futebol), mais troféus e medalhas, conquistados na base do Newell’s Old Boys, onde jogou de 1995 a 2000.
A visita ao quarto é um aperitivo, encerrada com o telefone tocando. É possível atender, e a voz do outro lado, de um homem falando espanhol, faz o convite ao futuro astro: “Você quer jogar no Barcelona?”.
“The Messi Experience – A Dream Come True” (A Experiência Messi – Um Sonho Vira Realidade), uma exposição imersiva, conta a história daquele que se tornaria o melhor jogador (até agora) do século 21, dos primórdios ao maior sonho, a conquista da Copa do Mundo de 2022, no Qatar, com seu país.
Soube um tempinho atrás que a mostra, que já passou por alguns países e ainda passará por outros, tinha chegado à capital paulista, e houve a oportunidade de conhecê-la nesta semana, coincidentemente em um momento em que o atacante volta a ocupar os holofotes.
Oito vezes eleito melhor futebolista do mundo, Messi, 38, capitaneia o Inter Miami na Copa do Mundo de Clubes, em andamento nos Estados Unidos.
Com a ajuda dele, que fez o gol da vitória diante do Porto no segundo jogo da fase de grupos e comandou as ações do time americano nos outros dois (empates com Al Ahly e Palmeiras), a equipe da Flórida avançou às oitavas de final. Terá pela frente neste domingo (29) o PSG, atual campeão europeu.
Fui à exposição pela manhã, com o intuito de passar cerca de uma hora nela. Fiquei duas horas e meia.
É tão demorado assim para ver tudo? Não. Mas, como estava vazia (vazia mesmo: em todo o percurso pelo amplo espaço instalado no Shopping Eldorado, na zona oeste paulistana, deparei-me com apenas seis visitantes, quatro adultos e duas crianças), aproveitei e demorei-me em cada sala, tirando fotos e vendo os vídeos várias vezes.
Passada a sala da infância, as seguintes (ao todo são nove, incluindo a introdutória, que é a primeira de todas) relatam o encantamento do menino Messi pelo futebol (Maradona ainda brilhava à época, e havia Batistuta, Caniggia, Ruggeri, Simeone), seguindo-se a toda a vivência dele no Barcelona, onde teve sucesso estrondoso, concomitantemente à participação na seleção argentina, na qual falhava em chegar ao topo ano após ano.
Na chegada à Catalunha, no ano 2000, há as impressões de Leo, como ele é chamado pela família e amigos. A projeção do vídeo ocorre “dentro Camp Nou”, o mítico estádio do Barça. As imagens são exibidas no gramado. Algo que pouca gente sabe e que Messi conta? Que em seu segundo jogo pelo time infantil B ele se machuca, o que compromete sua primeira temporada na Espanha.
Na metade da “Experiência”, está a quinta sala, que é a que divertirá para valer a criançada –e os mais velhos também. Nela, em três atividades lúdicas (explicadas por instrutores), o visitante testará seu controle de bola (“Tiki Taka”), seus conhecimentos sobre Messi (“Trivia”) e sua pontaria em chutes a gol (“Precisão”). Cada jogo leva cerca de cinco minutos, e há pontuação –o primeiro e o terceiro podem ser jogados por até quatro pessoas, em soma de forças.
Não passei dos 900 pontos em nenhum (me faltaram rapidez, sabedoria e categoria, e joguei sozinho) –os melhores placares exibiam numeração bem alta, na casa dos milhares.
O Messi de hoje fala com você na antepenúltima sala (que exibe cerca de duas a três dezenas de camisas que ele usou ano a ano, nos clubes e na seleção), em uma projeção na qual uma frase é emblemática: “Os momentos difíceis estão aí para nos ensinar”.
O camisa 10, que no início no Barça vestiu a 30, recebeu críticas duríssima da mídia, por não conseguir conduzir a Argentina ao topo, fosse em Copas Américas, fosse em Copas do Mundo. Tanto que, abalado, desistiu da seleção na metade da década passada, voltando a ela após receber pedidos e mais pedidos do povo argentino.
Uma sala é dedicada a isso, e cito aqui um pequeno defeito na mostra. Quem se senta, seja no chão ou nos bancos, para ver o filme, corre risco de sair com o pescoço dolorido. É preciso olhar para o alto, e não para a frente, por alguns minutos para assistir. Suportável, porém desconfortável.
Os vídeos da penúltima sala, em 360 graus, mostram a superação de Messi, que pela insistência pôde atingir seu principal objetivo: vencer a Copa do Mundo pela Argentina. A narração é a mesma, contudo as imagens, em quatro telas distintas, são diferentes. Se estiver com tempo e quiser detalhamento, veja quatro vezes. No centro do ambiente, uma réplica gigante da Taça Fifa, entregue a quem ganha o Mundial, e erguida por Messi três anos atrás.
O próprio Messi participou da concepção do projeto “Experience”, que, segundo Adriana Marchetti, vice-presidente de Novos Negócios na Dançar Marketing, empresa produtora da exposição no Brasil, tem como objetivo “mostrar principalmente o lado pessoal de Messi, fora dos campos, além de proporcionar um programa maravilhoso em família”.
Se o objetivo é cumprido ou não, cabe a cada visitante concluir. Para mim, a mostra destaca consideravelmente menos a vida pessoal do que a vida profissional do craque.
É um excelente programa familiar? É. Se você gosta de futebol e/ou de Messi, vá, leve os filhos. Aproveite as férias escolares deles. Os preços? Inteira a partir de R$ 100, meia a partir de R$ 50.
Na sala final, que tem também a lojinha temática (ofertando somente camisetas, a R$ 128, e moletons, a R$ 318), o personagem da mostra lhe oferece oportunidade única. Em um painel, Messi faz o convite para uma selfie com ele. Há um QR Code para acessá-la.
Tirei a minha, ficará eternizada. Estive, mesmo que virtualmente, ao lado de um deus do futebol.