Há quem ache que uma batata é só uma batata. Mas quem já tentou fazer purê com batata bolinha ou fritar uma batata doce sabe: dá errado. Algumas são mais sequinhas e desmancham no garfo. Outras são firmes, ótimas para saladas ou para assar com casca. E tem aquelas que ficam crocantes por fora e macias por dentro — desde que você escolha o tipo certo.
Investimentos são parecidos. Muita gente me pergunta: “Vale comprar Bolsa agora?”, “Vale aplicar no exterior?”, “Bitcoin é uma boa?”. Como se existisse um ingrediente mágico que resolvesse todos os pratos. Não existe.
A dúvida é legítima. Queremos uma resposta simples e universal, algo como: “essa é a melhor aplicação agora”. Mas não dá para responder sem saber para qual receita você está cozinhando.
Um dos erros mais comuns de quem investe é procurar o ativo da vez, sem considerar o que realmente precisa. O investidor que busca liquidez total escolhe aplicações com rendimento mais baixo e risco quase nulo. Já aquele que quer construir patrimônio no longo prazo deve aceitar oscilações em troca de retornos maiores — e isso muda tudo.
O filósofo Epicteto dizia: “Primeiro, diga a si mesmo o que você quer ser; depois, faça o que tem de fazer”. Em outras palavras: o plano vem antes da escolha.
Warren Buffett reforça esse ponto com sua natural simplicidade: “O risco vem de não saber o que você está fazendo”. E saber o que está fazendo passa por entender por que está investindo, por quanto tempo e com qual tolerância à perda.
Na prática, isso significa que a mesma aplicação que é perfeita para um pode ser um desastre para outro. Um título IPCA+2050 pode ser excelente para quem quer travar uma renda futura para a aposentadoria, mas frustrante para quem pensa em resgatar no ano que vem. Um ETF de ações americanas pode fazer sentido para diversificação de longo prazo, mas não para quem vai precisar do dinheiro em seis meses.
E quantos já passaram por isso? Quem nunca resgatou um investimento no prejuízo porque não aguentou ver o saldo cair? Talvez, não fosse um mau investimento — só era o produto errado para aquela necessidade.
Quer um exemplo cotidiano? É como se alguém perguntasse: “Vale comprar batata?”. Ora, depende. Vai fritar, assar, fazer purê, salada? Cozinhar para crianças ou para um jantar formal? A batata inglesa, asterix ou bolinha são igualmente batatas, mas servem a propósitos distintos — e podem arruinar ou transformar a receita, dependendo do uso.
Investir é a mesma coisa. O produto em si pode ser bom, mas o uso errado faz parecer que não funciona. E o pior: leva muita gente a desistir antes de colher os resultados.
A solução não está em decorar receitas prontas, mas em entender os ingredientes e suas funções. Se quiser um prato que dê certo, comece pela pergunta certa: “Para que eu preciso desse dinheiro?”. A resposta vai te mostrar o caminho.
Afinal, quem investe sem saber o que quer é como quem joga qualquer batata na panela e espera um banquete. O resultado raramente é saboroso — e, às vezes, é indigesto.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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