/ Jun 27, 2025

Onda antidiversidade é problema americano, não brasileiro – 27/06/2025 – Mercado

O retrocesso nas ações de diversidade promovido pelo governo de Donald Trump não deve ser replicado no Brasil, mas políticas de inclusão e equidade devem receber uma nova roupagem nos próximos anos, defende Guibson Trindade, gerente-executivo do Pacto de Promoção pela Equidade Racial.

Para ele, a mudança deve acontecer na comunicação das empresas, que se voltará mais a indicadores corporativos do que ao discurso social. O Pacto é formado por 85 empresas signatárias, incluindo multinacionais com sede em países da Europa e Ásia, além dos Estados Unidos. Entre os nomes estão Ambev, Bayer, Brasken, Gol, Ifood, Pernambucanas, PWC, Siemens, Vale e Vivo.

Trindade conta que, após a eleição de Trump, a organização buscou ouvir todas as signatárias, com medo de retrocessos no Brasil. A atenção se concentrava especialmente em companhias americanas com filiais brasileiras, que seguiriam o modelo de governança da matriz, e corporações sem vínculos com os Estados Unidos que pudessem ver no desmonte americano uma justificativa para se afastar das práticas de diversidade.

“A gente achava que teria um impacto negativo muito pesado, mas para nossa surpresa isso não aconteceu.” De acordo com ele, nenhuma corporação abandonou as práticas propostas pelo Índice ESG de Equidade Racial, que mede o avanço das políticas de inclusão por meio de um cálculo matemático.

Em abril, a organização anunciou que as sete empresas certificadas pelo Pacto investiram R$ 150 milhões em ações afirmativas em 2024. Uma característica desses investimentos é expansão geográfica das iniciativas para estados como Bahia, Maranhão, Ceará, Amazonas e Acre. Cerca de 60% das ações mapeadas serão desenvolvidas de forma contínua, com metas a médio e longo prazo.

Trindade defende que o movimento antidiversidade nos EUA serviu para separar as empresas comprometidas com a diversidade daquelas interessadas apenas em se promover. Ele observa que corporações alinhadas à agenda têm usado a autonomia regional para manter suas ações. “Elas precisam seguir a legislação brasileira, e o que estão fazendo é adaptar a comunicação para não desautorizar suas matrizes”, diz.

Segundo o representante do pacto, a comparação entre Brasil e Estados Unidos é equivocada no que diz respeito a ações de diversidade. “Pessoas negras representam aproximadamente 13% da população lá. Aqui, pretos e pardos são 56%. Quando se fala do cancelamento de ações afirmativas, precisamos pensar que eles começaram a implementá-las quase cem anos à frente do Brasil”, afirma.

Ele cita ainda a baixa inclusão de negros no mercado de trabalho formal brasileiro e a ausência de pretos e pardos em cargos de liderança como argumentos contra o retrocesso no país, cenário diferente do norte-americano, de acordo com ele.

Outro fator de diferenciação são as leis brasileiras, como a política de cotas na educação e no serviço público e o Plano Nacional de Igualdade Salarial entre Mulheres e Homens.

Para Trindade, corporações instaladas no país sabem que a legislação brasileira estimula a promoção de ações afirmativas para inclusão de grupos sub-representados. Além disso, há aqui uma sociedade civil ativa na cobrança dessas ações, com impacto direto na reputação das empresas.

“Esses pontos precisam ser colocados na mesa, porque parece que o modelo americano é universal, mas não é. Esse problema [do retrocesso nas ações de diversidade] é estadunidense, não é um problema brasileiro”, afirma.

Por outro lado, alguns impactos foram sentidos entre as corporações signatárias, sobretudo na comunicação. Empresas relataram ter feito um ajuste na linguagem com a qual se posicionam a respeito das ações afirmativas para respeitar as novas regras de suas matrizes. Nos próximos meses, elas devem reduzir os investimentos na divulgação dessas práticas, ainda que não deixem de realizá-las.

“A linguagem precisa estar alinhada ao cenário global, sem fazer com que conquistas e avanços retrocedam. A gente deixa a abordagem social, falando sobre inclusão de pessoas negras e reparação histórica, para adotar uma linguagem mais corporativa, mostrando como a produtividade aumentou com a inclusão de grupos minorizados e mudanças na estrutura organizacional agregaram nas ações”, afirma.

Segundo ele, trata-se de uma estratégia de sobrevivência. “São empresas adaptando sua linguagem para atender um cenário deste momento. Amanhã pode ser outro”, diz. “Essa não é a primeira vez, nós tivemos um governo há poucos anos que desestimulou todas as práticas inclusivas de mercado e passamos por essa fase. E há resistência ao Trump, basta olhar para Harvard”, termina.

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