O dólar caiu 0,26% nesta sexta-feira (27) e encerrou a semana cotado a R$ 5,483. A Bolsa brasileira também fechou no negativo, em leve queda de 0,18%, a 136.865 pontos.
O dia foi embalado por dados de inflação dos Estados Unidos, na ponta internacional, e pelo rescaldo da derrubada do decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) no Congresso Nacional, na cena doméstica.
Com a sessão desta sexta, o dólar acumulou queda de 0,79% na semana; no ano, recuo de 11,26%. Já a Bolsa somou variação negativa de 0,12% na semana, mas valorização de 11,8% na base anual.
O PCE (índice de preços de gastos com consumo) avançou 0,1% em maio, ganho igual ao de abril e às expectativas de economistas consultados pela Reuters.
No acumulado de 12 meses, o PCE atingiu alta de 2,3%, acelerando em relação aos 2,2% do mês anterior, mas em linha com as projeções. Já os gastos dos consumidores tiveram uma queda inesperada, a 0,1%, ante expectativa de alta de 0,1%.
O indicador é o favorito do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) para balizar as decisões de política monetária. Para os investidores, os dados de maio endossam apostas de cortes nos juros, na esteira de outros fatores que sugerem a possibilidade de uma flexibilização monetária antes do previsto.
Entre eles, comentários de pelo menos dois membros do banco central sobre uma possível redução de juros já na próxima reunião, em julho, e relatos de que o presidente dos EUA, Donald Trump, estaria cogitando antecipar a nomeação do sucessor de Jerome Powell, chair do Fed, entre setembro e outubro. O mandato de Powell se encerra em maio de 2026.
“Investidores aumentaram as apostas de cortes de juros lá na frente, e alguns dados econômicos começam a sugerir uma desaceleração um pouco mais rápida, sugerindo que talvez o Fed tenha espaço para cortar juros antes do esperado”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
“Mas o Fed tem adotado um tom cauteloso, antecipando impactos inflacionários das tarifas de importação em algum momento. Então, ele gostaria de acumular mais evidências antes de retomar o ciclo de cortes.”
Na quinta, dados mostraram que o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA contraiu 0,5% no primeiro trimestre, na base anual, também fomentando expectativas de redução. Operadores precificam chances de 20% de que a primeira flexibilização aconteça na próxima reunião; 73% esperam que aconteça no encontro de setembro.
Juros mais baixos nos EUA favorecem outras moedas, como o real, uma vez que torna o diferencial de juros para com os demais países desfavorável para o lado norte-americano.
Na cena doméstica, o foco esteve na derrubada dos decretos do IOF no Congresso Nacional.
Em entrevista nesta sexta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve ingressar com ação no STF (Supremo Tribunal Federal) contra a decisão se tiver o aval da AGU (Advocacia-Geral da União).
Essa era uma das possibilidades aventadas pelo ministro em entrevista à Folha no novo videocast semanal C-Level Entrevista. As outras eram buscar uma nova fonte de receita ou fazer um novo corte no Orçamento que ” para todo mundo”.
Segundo afirmou Haddad, em entrevista à GloboNews, o presidente perguntou à AGU se o decreto legislativo do Congresso usurpa prerrogativa do Executivo e “se a resposta for positiva, (Lula) deve recorrer”. “Porque é uma usurpação constitucional”, disse o ministro.
Cabe à AGU representar o governo em ações no Supremo. Mais cedo, o jornal O Globo afirmou que Lula decidiu ingressar com ação após uma longa conversa com o ministro-chefe da AGU, Jorge Messias.
O revés no Congresso representou uma mais uma derrota para o governo. Haddad disse que acreditava ter chegado “num baita de um acordo” para calibrar as alíquotas do imposto quando se reuniu com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), na noite do dia 8.
“Saí de lá imaginando que estava tudo bem. Não só eu, todo mundo. Eu não sei o que mudou. Eu não consigo… O que mudou daquele domingo para cá?”, declarou à Folha, quase 20 dias depois da reunião.
O plano de judicializar a decisão se ampara no argumento de que o governo pretende cobrar dos ricos em favor dos pobres. Ao travar esse embate, o Executivo pode acirrar a disputa com parlamentares de centro e de direita, em um contexto já adverso às pautas da gestão petista.
Em relatório, a equipe da Genial Investimentos destaca que a derrubada do decreto tira R$ 20 bilhões do Orçamento de 2026 e reabre o debate sobre uma possível revisão da meta fiscal. “Quando o governo achava que tinha um plano de ajuste na mão, o Congresso ‘puxou o tapete’… O mercado entendeu o recado: Brasília segue imprevisível.”
A AGU (Advocacia-Geral da União) divulgou nesta sexta que iniciou, a pedido do presidente Lula, uma avaliação técnica sobre as medidas jurídicas a serem adotadas para preservar o decreto.
Ainda no cenário doméstico, os investidores pesaram a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). A taxa de desemprego recuou para 6,2% no trimestre até maio, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É o menor patamar para esse intervalo na série histórica iniciada em 2012.
O indicador estava em 6,8% nos três meses até fevereiro, que servem de base de comparação. O resultado até maio ficou levemente abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 6,3%, segundo a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 6,2% a 6,7%.