Em um hangar desativado do aeroporto de São Carlos, no interior de São Paulo, a luz do dia atravessa a entrada principal e revela dezenas de aeronaves históricas. Não há iluminação no interior, que é frio, úmido, sujo e tem algumas manchas de óleo no chão.
Os aviões fazem parte do acervo do antigo Museu da TAM, que foi aberto ao público em 2006, mas encerrou suas atividades em 2016. Recentemente, o museu também encerrou o contrato com a Latam que permitia o uso do espaço em São Carlos, segundo Marcos Amaro, dono da companhia de compartilhamento de voos Amaro Aviation e filho de Rolim Amaro (1942-2001), fundador da companhia aérea.
Agora, parte do acervo será transferida para o Museu Asas de Um Sonho, em Itu (SP), que também é presidido por Marcos Amaro. Algumas aeronaves, porém, serão levadas para o Campo de Marte, na zona norte da capital paulista, onde o empresário monta um novo acervo em parceria com a FAB (Força Aérea Brasileira) e o Museu Asas de Um Sonho –por enquanto batizado de Mapa (Museu Aeroespacial Paulista).
“Queria pedir desculpa pela quantidade de sujeira no hangar”, diz Amaro logo no começo de um discurso a jornalistas e militares presentes no aeroporto em São Carlos nesta semana.
Por baixo de uma camada espessa de poeira, os modelos ali são diversos. Alguns aviões comerciais exibem o logo da TAM, antes da empresa brasileira se fundir com a chilena Lan e formar a atual Latam. Mais à frente, um Lockheed L049/149 Constellation ainda preserva a pintura da Panair do Brasil, companhia aérea cuja falência foi decretada em 1965.
Segundo Amaro, a maioria das aeronaves chegou ao museu por meio de parcerias pela TAM com seus fornecedores, na década de 90.
Três aviões se destacavam no hangar. Pareciam recém-fabricados: estavam limpos, com a manutenção em dia, e as cores da pintura eram vívidas. As aeronaves em questão eram a americana Vought F4U Corsair, a alemã Messerschmitt Bf 109 e a britânica Supermarine Spitfire, modelo da Força Aérea Real que aparece no filme “Dunkirk” (2017).
Todos eles foram caças utilizados durante a Segunda Guerra Mundial. Os três modelos serão levados ao Campo de Marte para integrar o novo acervo organizado pelo empresário. A desmontagem para o transporte teve início na segunda-feira (23).
Amaro conta que o avião alemão Messerschmitt Bf 109 foi encontrado congelado em um lago na Europa, onde caiu após ser abatido na Segunda Guerra Mundial. Nas cores bege e amarelo, a aeronave ainda expõe a pintura da época, com uma suástica na parte traseira.
Junto com as três aeronaves, também será incorporado ao Mapa um caça P-47 Thunderbolt, que será doado pelo Musal (Museu Aeroespacial), do Rio de Janeiro.
O projeto do museu na capital paulista está sendo realizado em parceria com a FAB (Força Aérea Brasileira). Segundo o brigadeiro Luiz Cláudio Macedo Santos, que também participa da iniciativa, a FAB poderá fazer a gestão do museu, mas também há possibilidade de que o espaço seja repassado à iniciativa privada. Ele afirma que o caso está sendo analisado pelo Governo de São Paulo.
Por enquanto, o novo museu não tem data para ser inaugurado.
Segundo Amaro, os três caças que integrarão o acervo da instituição serão expostos na Labace deste ano. A tradicional feira de jatinhos paulistana fará sua primeira edição no Campo de Marte –antes, o evento era realizado em Congonhas, mas precisou ser realocado por causa das obras no aeroporto.
Para o executivo, a iniciativa é uma forma de dar continuidade ao legado de seu pai, Rolim Amaro, e de seu tio, João Amaro, que criou junto com Rolim o museu Asas de Um Sonho. “Nosso trabalho é o compromisso com a memória”, afirma Marcos Amaro.