A saca de café está terminando junho com queda de 20% nos preços praticados no campo. A colheita do robusta avançou bem, e deverá terminar em meados de julho. Já a de arábica está próxima dos 50% colhidos.
Os números são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Para Renato Garcia Ribeiro, pesquisador de café na entidade, o avanço da colheita dá um aumento momentâneo na oferta, puxando os preços para baixo. “A oferta de café estava muito limitada, havia pouco produto estocado e os produtores não estavam muito dispostos a aumentar as vendas”, diz Ribeiro.
Além das notícias internas de maior oferta de café, devido à colheita, as externas também dão indicações de melhoras no setor. O Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) prevê safra recorde de 178,7 milhões de sacas em 2025/26, graças a uma melhora no desempenho dos países asiáticos.
Olhando especificamente para o Brasil, Ribeiro diz que as coisas não estão definidas ainda, com relação à safra brasileira de 2025/26. Nos anos recentes, os invernos quentes e secos debilitavam a planta para a fase de floração. Neste ano, o cenário se apresenta melhor, segundo o pesquisador. Ele alerta, no entanto, que “as condições de frio mais intenso também podem trazer preocupações. Os riscos climáticos ainda existem, e o setor ficou perto de ter uma geada recentemente”.
Essas incertezas sempre vão influenciar os preços. Se a florada vier boa, eles devem continuar mais fracos, diz o pesquisador. “Até o momento, tudo indica que o cenário de preços menores deverá perdurar.”
Mesmo com a queda atual dos preços do café arábica e do robusta, eles ainda continuam favoráveis aos produtores. E ainda há um cenário de aperto nos estoques mundiais, que, na safra 2021/22, estavam em 31,9 milhões de sacas. Para a 2025/26, mesmo com a recuperação em relação à safra anterior, estão previstos em apenas 22,8 milhões.
Além de uma produção mundial recorde, o Usda prevê também exportações de 122,3 milhões de sacas, 700 mil acima das da safra anterior. As perdas no Brasil e na Colômbia serão compensadas por Vietnã, Etiópia e Indonésia. Os preços elevados do café permitiram ao cafeicultor investir mais nas lavouras e a obter produtividade maior.
O consumo mundial também sobe para o recorde de 169,4 milhões de sacas, inibindo uma expansão maior dos estoques, segundo o órgão americano. A produção brasileira de café arábica e robusta deverá recuar 300 mil sacas em 2025/26, na avaliação do Usda. A de arábica cai para 40,9 milhões de sacas, e a robusta sobe para 24,1 milhões. Ribeiro não acredita que a produção de robusta chegue ao número projetado pelo Usda. Deve ficar próximo dos 22 milhões de sacas, afirma.
A saca de café arábica, que esteve em R$ 2.800 em fevereiro último, vale R$ 1.000 a menos agora no campo. A do robusta recuou para R$ 1.100, após ter atingido R$ 2.088 no final de janeiro. Mesmo com a queda, os preços atuais ainda são bem superiores aos do início de 2023, quando a saca do arábica era negociada a R$ 994, e a do robusta, a R$ 767, segundo o Cepea.
Os bons preços atingidos pelo café renderam muitos dólares ao setor. Nos últimos 12 meses, de junho de 2024 a maio de 2025, as exportações totais do setor atingiram US$ 14,7 bilhões, 55% a mais do que em igual período anterior, segundo a Secex (Secretaria do Comércio Exterior).