/ Jul 01, 2025

Como responder à crise climática com inovações profundas – 01/07/2025 – Joisa Dutra

Entramos na segunda metade de 2025, ano em que o Brasil sediará a COP30. Em sua terceira carta como presidente da conferência, o embaixador André Corrêa do Lago destacou três prioridades centrais. A terceira delas —talvez a menos discutida— é a mobilização da capacidade científica e tecnológica mundial para tornar a transição energética mais inclusiva e eficiente. Trata-se de uma convocação à inovação com impacto real, baseada em ciência e engenharia de fronteira.

A mudança do clima é reconhecida como um wicked problem —um problema complexo, interdependente e urgente (“super wicked”), que não se resolve com soluções simples. Exige transformações sistêmicas. Para isso, precisamos de inovações que vão além dos aplicativos e dos ganhos incrementais. Precisamos de “deep techs” (DTs) —inovações baseadas em ciência e engenharia avançadas, com potencial para transformar setores inteiros. A boa notícia é que o Brasil pode —e deve— ousar desde já nesse processo.

Segundo a AIE (Agência Internacional de Energia), cerca de 30% das reduções de emissões necessárias até 2050 dependerão de tecnologias que ainda não atingiram escala comercial —ou sequer foram inventadas. Hidrogênio de baixo carbono, captura e armazenamento de carbono (CCS) e pequenos reatores nucleares (SMRs) são exemplos de soluções promissoras, mas que ainda enfrentam barreiras significativas. Diversas aplicações nessa direção podem ser classificadas como DTs.

Mas promover “deep techs” não é o mesmo que apoiar startups convencionais. Como destacou Lars Frolund no Energy Summit 2025, no Rio de Janeiro, esse tipo de inovação exige arquiteturas institucionais próprias e disruptivas, com capacidade de lidar com ciclos longos, riscos elevados e alto grau de incerteza.

É preciso criar ecossistemas voltados à experimentação, orientados por problemas concretos —e não apenas por demandas imediatas do mercado, como é o caso dos apps. Esse tipo de abordagem já foi testado com sucesso em iniciativas como a Darpa, nos Estados Unidos, e começa a ganhar versões adaptadas em outras partes do mundo.

Um exemplo emblemático é o das vacinas de mRNA. Antes de se tornarem centrais no combate à Covid-19, suas tecnologias foram apoiadas pela própria Darpa — a agência de inovação do Departamento de Defesa dos EUA— muito antes de haver mercado claro ou demanda previsível. A aposta parecia ousada, mas mostrou o poder transformador de investir cedo em ideias ainda vistas como “heréticas”.

Esses exemplos, segundo Lars, oferecem pistas de como promover “deep techs” aplicadas à energia, com foco em soluções capazes de enfrentar o “wicked problem” das mudanças climáticas.

O Brasil tem vantagens comparativas evidentes: recursos renováveis abundantes, base científica sólida, experiência regulatória e vocação para a energia limpa. Mas ainda enfrenta desafios persistentes para transformar ciência em inovação —e inovação em valor. A cultura de aversão ao risco, a fragmentação institucional e os mecanismos de financiamento pouco adaptados às incertezas de ciclos tecnológicos longos são barreiras que precisam ser superadas.

A boa notícia é que há movimento. A experiência do MIT REAP Rio, voltada à construção de um ecossistema de inovação em energia, é um exemplo promissor de articulação entre governo, setor privado e academia. Também despontam oportunidades como a expansão de data centers e os projetos de hidrogênio verde ——que podem funcionar como plataformas para testar e escalar novas abordagens. Quem sabe possamos, inclusive, embarcar em inovações em energia nuclear com os pequenos reatores?

A transição energética é mais do que um desafio ambiental: é uma chance estratégica de reposicionar o Brasil no cenário global. Não basta importar soluções —é hora de criá-las. Inovar em tempos de transições ambientais, digitais, energéticas e geopolíticas exige novas arquiteturas de inovação orientadas por problemas, com coragem institucional, visão de longo prazo e disposição para errar e aprender.

E, como ensina a lógica da inovação, quem aposta cedo em mudanças estruturais colhe os maiores retornos. Este é o verdadeiro chamado à ação da COP30.


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