/ Jul 01, 2025

Setor privado brasileiro precisa ampliar parcerias – 01/07/2025 – Políticas e Justiça

O mundo não está apenas mudando, está sendo reconfigurado. Essa foi a principal conclusão do 54º St. Gallen Symposium, realizado na Suíça em maio, que reuniu mais de 1.200 líderes globais para discutir a nova dinâmica do poder mundial. A percepção geral é de que estamos entrando em uma era multipolar, marcada por instabilidade, redesenho de cadeias de suprimento e revisão de alianças. Nesse cenário, o Brasil precisa decidir se será protagonista ou espectador.

A multipolaridade intensificou a disputa por legitimidade, capital e influência. Países como China, Índia e África do Sul agem com pragmatismo, firmando acordos bilaterais e liderando coalizões regionais. A China, por exemplo, investe mesmo sob risco, moldando dependências. O Brasil, por outro lado, ainda opera com lógica reativa, talvez por herança do mundo bipolar, focando excessivamente em EUA e China, o que limita sua atuação estratégica em outras frentes, como a cooperação Sul-Sul e mecanismos multilaterais alternativos. Apesar dos avanços diplomáticos, o setor privado brasileiro mantém uma visão estreita de inserção internacional. Em um mundo fragmentado, ampliar alianças é um investimento em soberania e relevância.

A pesquisa “Voices of the Leaders of Tomorrow” (VOLOT) revelou um dado revelador: 72% dos jovens líderes veem uma transformação estrutural na ordem global, contra apenas 39% dos executivos seniores. Esse contraste evidencia um choque geracional. Jovens cresceram em um ambiente de ambiguidade e mudança acelerada, enquanto muitos líderes estabelecidos ainda tentam controlar o presente com ferramentas do passado.

Essa tensão ficou clara em debates sobre o futuro da Europa: de um lado, a defesa da resiliência institucional; de outro, a percepção de perda de influência global. O contraste, embora tenso, foi sincero (algo raro no Brasil, onde o confronto construtivo é evitado). A habilidade de escutar e tensionar visões opostas tem se mostrado essencial entre as novas lideranças, pois amplia a visão de futuro e evita miopia estratégica.

O Brasil precisa diversificar suas opções estratégicas. A questão não é escolher entre China ou EUA, mas construir mais alternativas. Em um mundo de alianças fluidas, a escassez de opções enfraquece um país.

Outro desafio é a colaboração entre gerações. Embora 92% dos executivos seniores digam valorizar essa troca, 63% dos jovens líderes percebem resistência prática. A nova geração quer participar da construção das soluções. Liderar hoje exige fluência em ambientes ambíguos, capacidade de negociar múltiplas agendas e abertura a novas perspectivas.

Segundo a VOLOT, o Brasil é visto como potencial protagonista global nos próximos 10 a 15 anos. Mas isso exige ação. Quantos think tanks brasileiros têm voz ativa na cooperação Sul-Sul? Por que a política externa ainda é periférica na estratégia de negócios?

Saio do simpósio com otimismo pragmático. O mundo está volátil, mas há espaço para iniciativas multilaterais e cooperação entre países do Sul Global. O futuro exigirá líderes preparados e o presente demanda diálogo entre gerações. Ecossistemas como a Rede de Líderes da Fundação Lemann, Leaders of Tomorrow e Future in Black são estratégicos: formam talentos, garantem continuidade e preparam lideranças para atuar com visão e densidade em cenários complexos.

O mundo busca novos interlocutores. A pergunta é: o Brasil está pronto para ocupar esse espaço?

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço “Políticas e Justiça” da Folha de S. Paulo sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Douglas Vidal foi “Tô fazendo a minha parte”, de Diogo Nogueira.


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