/ Jul 01, 2025

Veja como Índia produz iPhones, meta de Trump para os EUA – 01/07/2025 – Mercado

Uma nova fábrica de celulares em um canto remoto da Índia parece uma nave espacial de outro planeta. A Foxconn, a empresa taiwanesa que monta a maioria dos iPhones do mundo para a Apple, instalou-se entre as pedras e campos de milheto de Devanahalli, na região de Bangalore.

Os edifícios elegantes que surgem no terreno de 121 hectares, já operacionais, mas ainda em crescimento, evidenciam cada vez mais um investimento estimado em US$ 2,5 bilhões.

Isso é o que o presidente Donald Trump quer que a Apple faça nos Estados Unidos. O que está acontecendo nessa parte da Índia mostra por que isso é atraente e por que provavelmente não acontecerá sem apoio financeiro público constante para reviver a indústria americana.

Na Índia, a Apple está redobrando uma aposta que fez após o início da pandemia de Covid-19 e antes da reeleição de Trump. Muitos países, começando pelos Estados Unidos, estavam ansiosos para reduzir a dependência de fábricas na China. A Apple, ainda mais interligada à produção chinesa, agiu rapidamente.

Analistas da Counterpoint Research calcularam que a Índia havia conseguido satisfazer 18% da demanda global por iPhones no início deste ano, dois anos depois que a Foxconn começou a fabricar os celulares no país.

Até o final de 2025, com a fábrica de Devanahalli totalmente operacional, espera-se que a empresa de Taiwan esteja montando entre 25% e 30% dos iPhones na Índia.

Essa nova fábrica é a maior de várias que fabricam produtos da Apple na Índia. Sua estrutura completa ainda está surgindo da poeira vermelha. Guindastes trabalham acima dos esqueletos de dormitórios de vários andares para funcionários. Mas cerca de 8.000 pessoas já estão trabalhando em dois andares da fábrica. Em breve deverão ser 40 mil.

Os efeitos na região são transformadores. É um momento de oportunidades para quem procura emprego e para os proprietários de terras. E a cadeia de suprimentos fragmentada por trás das cidades-fábrica da Apple na China está se consolidando no coração da Índia.

Empresas estão vendendo à Foxconn os bens e serviços necessários para fabricar iPhones, incluindo pequenas peças, equipamentos de linha de montagem e recrutamento de trabalhadores.

Algumas das empresas são indianas; outras são taiwanesas, sul-coreanas ou americanas. Algumas já estavam na área, enquanto outras estão se estabelecendo na Índia pela primeira vez.

As mudanças impulsionadas pela Foxconn estão se espalhando amplamente por Bangalore, uma cidade de 8 milhões de pessoas que começou no século 20 como sede dos primeiros centros aeroespaciais da Índia. Mas sua base manufatureira foi deixada de lado, primeiro pelos call centers e depois por trabalhos mais chamativos em design de microchips e serviços profissionais terceirizados. Voltar ao chão de fábrica, como estão fazendo em Devanahalli, é o que Trump quer que os trabalhadores americanos façam.

Ver as mudanças em curso na região é entender o fascínio de trazer de volta a manufatura. Os salários estão aumentando de 10% a 15% ao redor da fábrica da Foxconn. Empresas estão silenciosamente fechando acordos para fornecer à Foxconn e a outros terceirizados da Apple.

Uma fábrica que produz peças plásticas para caixas eletrônicos recebeu uma equipe da Foxconn para uma visita. Uma fundição que fabrica máquinas de fiação estava esperando que pudesse começar a produzir as peças metálicas que a Foxconn poderia precisar em sua nova fábrica.

Nem a Foxconn nem a Apple responderam aos pedidos de comentários sobre suas operações na Índia.

A Índia vem trabalhando para um avanço como esse há muito tempo. O primeiro-ministro Jawaharlal Nehru (1889-1964) chamou as barragens hidrelétricas, usinas siderúrgicas e institutos de pesquisa de “templos da Índia moderna”.

Em 2015, o primeiro-ministro Narendra Modi anunciou uma política “Make in India” (Fabrique na Índia). Desde 2020, seu governo comprometeu US$ 26 bilhões para subsidiar objetivos estratégicos de manufatura.

O motivo mais urgente da Índia para desenvolver a indústria é criar empregos. Ao contrário dos Estados Unidos, ela não tem o suficiente: nem em serviços, manufatura ou qualquer outra coisa. Quase metade de seus trabalhadores está envolvida na agricultura. Com a população da Índia atingindo seu pico, ela precisa de cerca de 10 milhões de novos empregos por ano apenas para se manter.

Também quer alcançar o tipo de poder financeiro e autonomia tecnológica que a China encontrou ao se tornar a fábrica do mundo.

Um problema é que as fábricas de eletrônicos da Índia ainda importam os mais valiosos dos mil componentes que entram em um iPhone acabado, como chips e módulos de câmera. Céticos menosprezam o sucesso da Índia com a montagem final de iPhones como “trabalho de chave de fenda”, reclamando que muito pouco do valor dos dispositivos é gerado na Índia.

Mas o governo, oferecendo subsídios, está persuadindo empresas como a Apple a obter mais dessas peças localmente. Já está recebendo carcaças, vidros especializados e tintas de empresas indianas. A Apple, que abriu suas primeiras lojas indianas há dois anos, é obrigada pelo governo indiano a obter 30% do valor de seus produtos na Índia até 2028.

A Centum é uma fabricante terceirizada de origem indiana, como a Foxconn é para a Apple. A Centum fabrica placas de circuito que vão para produtos como mísseis, empilhadeiras e scanners de fertilidade. Nikhil Mallavarapu, seu CEO, disse que a empresa estava em negociações para personalizar equipamentos de teste para a fábrica da Foxconn.

Engenheiros recém-contratados e outros profissionais estão chegando à área. Muitos se mudaram de cidades a centenas de quilômetros, enquanto outros precisam viajar horas por dia para chegar ao trabalho. Alguns acordam às 3h30 da manhã para pegar o turno das 8h.

Mas a Índia é densa em população. A cinco minutos a pé, uma vila chamada Doddagollahalli parece a mesma de antes da chegada da Foxconn. Quase todas as casas agrupadas em torno de um bosque sagrado pertencem a famílias de agricultores que cultivam milheto, uvas e vegetais.

Alguns moradores estão alugando quartos para trabalhadores da Foxconn. Muitos mais estão tentando vender suas terras. Mas Sneha, que usa apenas um nome, encontrou um emprego no turno diurno da fábrica da Foxconn. Ela tem mestrado em matemática. Pode voltar para casa para almoçar todos os dias, com um crachá corporativo pendurado no pescoço.

São pessoas como Sneha, e os milhares de seus novos colegas que se aglomeram em seu lugar ancestral, que tornam possíveis as ambições da Foxconn para a Índia. Trump quer reviver a fortuna das cidades-fábrica americanas abandonadas, mas o fluxo de jovens graduados qualificados não existe lá.

Josh Foulger recrutou muitos trabalhadores indianos motivados como Sneha. Ele dirige a divisão de eletrônicos da Zetwerk, uma empresa indiana com fábricas em Devanahalli que se vê como uma concorrente menor da Foxconn.

Ele disse que rotineiramente recebe 700 candidaturas por ano de escolas técnicas locais. É uma questão de escala: apenas o estado de Karnataka, ele destacou, tem uma população equivalente à metade do Vietnã, outro polo manufatureiro.

Todos os estados da Índia “estão muito interessados em atrair manufatura”, disse Foulger, que cresceu no sul da Índia e estabeleceu residência no Texas antes de retornar à Índia, onde montou operações para a Foxconn.

A Índia tem empregos para engenheiros e gerentes e para todos os níveis hierárquicos. “A manufatura faz um trabalho muito democrático” de atender à demanda por bons empregos, disse.

Notícias Recentes

Travel News

Lifestyle News

Fashion News

Copyright 2025 Expressa Noticias – Todos os direitos reservados.