O Digimais, banco da igreja Universal, enfrenta uma crise de identidade, que o jogou em uma encruzilhada: ou é vendido por menos do que pede o bispo Edir Macedo ou vira um banco capaz de competir por clientes que não sejam só fiéis.
Em março, o banqueiro Maurício Quadrado, ex-sócio do Master e atual dono do BlueBank, voltou atrás na intenção de adquirir o controle do Digimais. O motivo não foi revelado e, consultado, Quadrado não quis comentar. Ele informou que as negociações foram protegidas por sigilo.
No ano passado, o banco da Universal fechou com prejuízo operacional de cerca de R$ 95 milhões e um passivo acumulado de R$ 9,5 bilhões ante R$ 7,4 bilhões em depósitos.
Assessores financeiros que atuaram na estruturação do negócio em ambas as partes afirmam que os problemas começaram com os empréstimos a fiéis.
Doações
Segundo relatos, o empenho financeiro com os empréstimos prejudicou o pagamento do dízimo, um dos pivôs financeiros da Universal.
Isso serviu de alerta e a saída foi impulsionar o crédito de veículos, que hoje responde por 77% da carteira do banco com um estoque de R$ 1,7 bilhão em empréstimos.
O restante é, em grande maioria, crédito consignado para funcionários da TV Record, emissora que pertence ao bispo, e da própria Universal.
Um braço do banco também cuida de um fundo de investimento imobiliário, que concentra os imóveis próprios onde hoje funcionam as igrejas. Há uma pequena receita decorrente da valorização patrimonial.
Com o revés no plano original, foi preciso armar uma estratégia de negócio desvinculada ao público da Universal e concentrada em transformar o Digimais em um banco digital, apto a competir com as demais fintechs.
A competição agressiva nesse mercado fez Macedo optar pela venda do banco, mas, até o momento, não há interessados. No mercado,
A Igreja Universal do Reino de Deus disse, via assessoria, que não tem qualquer informação sobre o Digimais. O bispo Macedo não respondeu até a publicação desta reportagem.
Com Stéfanie Rigamonti