Os analistas do Itaú BBA apresentaram, nesta quinta-feira (3), as perspectivas para a safra de grãos, pecuária, setor sucroenergético e biocombustíveis de 2025/26. Na avaliação deles, gostariam de mostrar um cenário mais otimista, mas não há como fugir, mais uma vez, da necessidade de cautela.
Turbulência externa, inflação, custos maiores de fertilizantes e preços menores das commodities vão determinar o ritmo do setor. Os custos vão recair mais sobre a safra de milho, uma vez que boa parte dos produtores ainda não fez a compra dos insumos.
Além dos custos dos insumos, este é um período de taxa elevada de juros em um momento de crescimento menor da economia mundial, o que cria um ambiente mais cauteloso para o setor, segundo os analistas.
Na soja, o principal produto de cultivo do país, a área continua crescendo, mas não no ritmo de anos anteriores. O Brasil volta a ter produção recorde, de 174 milhões de toneladas, ao contrário dos demais produtores mundiais, que perdem espaço. Mesmo assim, a produção mundial será recorde, e a política de biocombustíveis, principalmente a dos Estados Unidos, deverá dar rumos ao setor.
Para Francisco Carlos Queiroz, analista de soja do banco, a área crescerá 1,5% no Brasil, somando 48,3 milhões de hectares, com potencial de produção de 174 milhões de toneladas. Na avaliação do banco, 112 milhões desse volume serão exportados.
O esmagamento mundial da oleaginosa sobe para 367 milhões de toneladas, acima dos 353 milhões de 2024/25, e a demanda externa chinesa volta a superar 110 milhões de toneladas. Os custos de produção sobem 8%, puxados principalmente pela alta de 20% dos fertilizantes.
A produção mundial de milho será recorde, mas o balanço da oferta e demanda gera uma redução dos estoques finais do cereal pelo segundo ano consecutivo. Estados Unidos deverão ter safra de 402 milhões de toneladas, e a China, de 295 milhões. O Brasil poderá atingir 130 milhões, mas a segunda safra ficará mais cara, uma vez que o produtor comercializou apenas um terço do fertilizante que necessita. Com isso, as margens serão menores, afirma Queiroz.
Custos elevados e baixa rentabilidade vão provocar uma redução na área de plantio do trigo no período 2025/26. Os produtores vão enfrentar um cenário de margens apertadas na safra 2024/25, principalmente pela pressão baixista que os preços externos provocam sobre os internos, segundo Marina Marangon Moreira, analista do banco.
O arroz, após a boa safra brasileira, vem com queda de preços. As notícias externas não favorecem os produtores nacionais, uma vez que a projeção para 2025/26 é de uma oferta mundial recorde de 542 milhões de toneladas, e estoques, também recordes, de 185 milhões. Os baixos preços devem dificultar investimentos no setor, segundo Marina.
A produção mundial de algodão cai para 25 milhões de toneladas, devido à redução em três dos principais produtores mundiais. Já o Brasil deverá elevar a produção para 4 milhões, com avanço de 7%. O aumento de custos de produção, no entanto, reduzirá o ritmo de área ocupada pela fibra.
A pecuária de corte atravessa um período de virada de ciclo, segundo Cesar de Castro Alves, analista do Itaú BBA. O abate de fêmeas ainda é elevado neste início de ano, mas deverá diminuir com a reposição se valorizando e a retenção de fêmeas aumentando. Nos próximos 12 meses, haverá uma redução de gado para abate.
A demanda externa, principalmente com as dificuldades dos americanos na pecuária, continua boa.
No setor de frango, a tendência é de recordes na produção e na exportação, mas serão necessários cuidados com a biossegurança, afirma Alves.
Os custos de produção na suinocultura, setor que já vem com margens historicamente altas, devem permanecer favoráveis. Produção e exportação se manterão recordes no período 2025/26.
No café, o ciclo 2025/26 ainda será de um balanço global reduzido. A produção é recorde, mas o consumo cresce e os estoques são apertados. O mercado já olha para o possível potencial da safra brasileira de 2026/27 no patamar de 70 milhões de sacas, um crescimento de 8% sobre 2025/26.
A safra de laranja de 2025/26 deverá subir para 314,6 milhões de caixas de 40 kg, segundo o Fundecitrus, 36% a mais do que em 2024/25. O número médio de frutas por árvore e os maiores investimentos dos produtores nos tratos culturais resultaram nesse avanço, segundo Wharlhey Nunes, analista do banco no setor de citricultura. Safra melhor no Brasil, mas ruim nos Estados Unidos, associada a um consumo menor, pode manter os preços nos patamares atuais.
A produção mundial de açúcar será de 192,8 milhões de toneladas em 2025/26 (outubro de 2025 a setembro de 2026), mais 4,6%. Já o consumo sobe para 190,1 milhões, com alta de 1,3%, puxado pela recuperação da demanda na Índia, segundo Lucas Brunetti, analista do Itaú BBA.
A oferta brasileira de etanol de milho vai a 10 bilhões de litros na safra 2025/26. Pelo menos 9,5 bilhões virão da região centro-sul, que terá crescimento de 16%. A produção de etanol de cana cai 14% na região, recuando para 23,1 bilhões de litros, nos cálculos do banco.