/ Jul 03, 2025

Izabella Teixeira: Brasil precisa rever política mineral – 03/07/2025 – Mercado

O Brasil tem uma das cinco maiores reservas do mundo dos minerais críticos, usados na fabricação dos semicondutores dos chips e nas baterias que movem os mais recentes veículos elétricos. O problema é que não há mapa nem estratégia para explorar esses recursos, diz a ex-ministra do Meio Ambiente (2010-2016) Izabella Teixeira, 63.

Nesse cenário, o país detém, por exemplo, 23% das reservas mundiais de terras raras, um total de 21 milhões de toneladas, e produziu apenas 20 toneladas durante o ano passado. Os dados citados são do serviço geológico americano, porque o equivalente brasileiro mapeou apenas 27% do território nacional na escala necessária para uso em pesquisa.

Ela argumenta que, embora o Brasil tenha uma Agência Nacional de Mineração [ANM], os fiscais são insuficientes para a extensão territorial do país. A ANM tem hoje, no total, 600 funcionários.

“Se for apostar no modelo de governança do Estado como era antigamente vai levar um século para fazer um uso estratégico desses recursos”, afirmou Teixeira.

Ela, hoje, copreside o Painel Internacional de Recursos da ONU (Organização das Nações Unidas) e teve breve conversa com a Folha via videoconferência antes de viajar para Londres onde participou de evento.

Os minerais críticos, citados pela ex-ministra, são aqueles cuja escassez ameaçaria a viabilidade da transição energética, e os estratégicos, considerados essenciais para a geração de superávit da balança comercial.

Ela lembrou que o Brasil discute hoje um projeto que, além de desonerar as mineradoras na prospecção de minerais críticos e estratégicos, cria um conselho responsável por gerir a pesquisa sobre esses recursos.

“O relator deputado Zé Silva [Solidariedade-MG] disse com todas as letras: ‘nós vamos votar o PL da Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos até a COP 30 [marcada para novembro]”, afirmou a ex-ministra.

“Esse processo de regulação, de discussão sobre pesquisa mineral no Brasil e de governança precisa ser contemporâneo para lidar também com a governança climática, com a governança tecnológica, com a governança de segurança alimentar”, acrescentou.

NOVO ARRANJO DE PODER EM TORNO DAS BIG TECHS

Para Teixeira, os minerais críticos brasileiros, assim como a matriz elétrica renovável e a biomassa, serão essenciais para o país traçar uma visão de futuro e selar alianças durante o atual processo de reorganização de poderes com novos vetores como a inovação tecnológica e as mudanças climáticas.

“As big techs têm um poder de convocação enorme político”, diz ela em relação às empresas chinesas e americanas.

De acordo com a ex-ministra, o debate não se resume ao acesso à tecnologia e contempla também os recursos naturais por trás dos eletrônicos. “Sem lítio, não se opera o mundo digital, e sem cobre, sem ferro, não existe bateria”, exemplificou.

O presidente americano Donald Trump, diz ela como exemplo, atua para ampliar os recursos naturais americanos, minérios inclusos, em busca de uma independência digital tecnológica. “É por isso que vemos, por exemplo, os Estados Unidos redefinindo o seu domínio de território, da Groelândia ao Panamá.”

Em outro fronte da inovação digital, os complexos de processamento de dados (data centers) onde funcionam os grandes modelos de inteligência artificial, Teixeira recorda que faltam aos Estados Unidos energia renovável.

O governo americano, diz ela, não tem um plano de investimento em energia renovável, tirando esforços tímidos na área de geração geotérmica. “Toda a segurança energética americana está em cima de gás e petróleo extraído por fracking”, diz ela.

Ainda no caso dos data centers, ela lembra que é impossível construir os computadores sem dois elementos estratégicos da natureza: os minerais críticos, a água para refrigerá-los. “Portanto, estamos falando de recursos naturais em que o Brasil é rico.”

BRASIL PRECISA DE ESTRATÉGIA PARA DATA CENTERS SUSTENTÁVEIS

Além da liderança no Painel Internacional de Recursos, a ex-ministra passou a atuar, hoje, no conselho de várias empresas, incluindo a holding Piemonte, uma das maiores controladoras de complexos de processamento de dados no Brasil e que presta serviços para as big techs.

Para ela, o governo brasileiro, que discute hoje também uma política de fomento para data centers, deve incluir parâmetros de sustentabilidade hídrica e energética para o setor.

Nesse sentido, a política precisa considerar a disponibilidade de água e eletricidade de cada área do país, além do tempo de obsolescência dos equipamentos. “Eles terão que decidir em cima dos cenários possíveis daqui a 20 anos”, afirmou.

“Se eu tiver numa região onde eu tenho escassez hídrica e vou gastar água para o empreendimento, eu vou comprometer o abastecimento humano”, exemplificou. “Se eu tiver um lençol freático com água subterrânea, eu posso fazer uma reserva”, ponderou.

A ex-ministra defende que o risco climático deve ser estimado nos projetos e considerado pelos bancos de investimento na hora de ceder financiamento a novos projetos. “O próprio BNDES, do qual eu sou conselheira, trabalha o risco climático como uma variável nessas operações.”

Teixeira afirma que o Brasil precisa olhar para o futuro. “Não pode tomar uma decisão com a cabeça de 50 anos atrás, que nos fez, na posição de grande produtor de ferro no mundo, conhecer menos de 40% das nossas reservas minerais.”

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