A Air France-KLM anunciou nesta sexta-feira (4) que adquirirá ações na SAS (Scandinavian Airlines) e passará a ser sócia majoritária na aérea. Com isso, a empresa espera que o “acordo direto” evite a resistência antitruste de Bruxelas que tem atrapalhado tentativas recentes de consolidação de companhias aéreas europeias.

A Air France-KLM disse que aumentará sua participação na SAS de 19,9% para 60,5%. Os valores não foram divulgados, mas espera-se que a participação seja avaliada mais alta do que os US$ 145 milhões que a Air France-KLM pagou para ter os 19,9% em 2023, como parte de uma reestruturação da SAS.

Ben Smith, diretor executivo da Air France-KLM, destacou a melhora que a companhia terá nessa negociação: “A equipe de gestão fez um trabalho fantástico superando o plano de negócios. Será uma situação vantajosa para todos que nosso investimento justifique um preço maior”, avaliou.

Ele acrescentou que o acordo permitiria à Air France-KLM passar a interferir mais em decisões da SAS como possíveis cortes de empregos e o aumento da oferta de voos de longa distância do grupo.

A Air France-KLM espera que o acordo seja concluído no segundo semestre de 2026. É provável que seja questionada pela Comissão Europeia, que expressou preocupação de que aquisições de companhias aéreas possam levar a tarifas mais altas.

“Esperamos que isso seja direto e não leve o mesmo tempo [que outros acordos]”, disse Smith, que sugeriu que a alta competição na Escandinávia da Norwegian Air significa que a aquisição não daria à Air France-KLM uma posição dominante no mercado.

Nesta semana, a SAS anunciou que chegou a um acordo com a Embraer para comprar 45 aeronaves E195-E2 com opção para mais dez. A fabricante brasileira disse que o valor do pedido é de aproximadamente US$ 4 bilhões (R$ 21,71 bilhões).

Recentemente, a União Europeia frustrou algumas negociações entre aéreas. A Ryanair fez no passado várias ofertas para comprar a rival irlandesa Aer Lingus, enquanto a IAG, proprietária da British Airways, abandonou planos de comprar a espanhola Air Europa devido às exigências dos reguladores de concorrência.

Paris e Berlim já pediram anteriormente à comissão que fizesse mais para permitir fusões tanto no setor aéreo quanto no de telecomunicações, enquanto a Europa busca construir gigantes regionais capazes de enfrentar rivais maiores de países como China e EUA.

A Air France-KLM aumentará sua participação na SAS comprando as participações do grupo de private equity Castlelake e da Lind Invest, o family office do bilionário dinamarquês Henrik Lind. O governo dinamarquês manterá sua participação de 26,4% e permanecerá no conselho da empresa.

Smith disse que a medida permitiria expandir no mercado escandinavo, incluindo a conexão com a rede de longa distância da KLM a partir de Amsterdã.

Companhias aéreas mais antigas como a Air France-KLM enfrentaram forte concorrência de companhias aéreas de baixo custo nos últimos anos. Mas Smith disse estar confiante de que a tendência de viajantes de lazer escolherem assentos premium continuaria, apontando para o crescimento do tráfego premium nos EUA.

A SAS havia lutado com altos custos e fraca rentabilidade e foi atingida pelo colapso das viagens globais durante a pandemia de Covid-19. Em 2023, a SAS eliminou os acionistas existentes, incluindo o governo sueco, em uma reestruturação que retirou a empresa da Bolsa e levou a Air France-KLM e a Castlelake a se tornarem novos investidores ao lado do estado dinamarquês.

A Air France-KLM também expressou interesse em adquirir a companhia aérea portuguesa TAP, que foi colocada à venda pelo governo português. Enfrenta concorrência neste acordo da Lufthansa e da IAG.

Smith disse que assumir o controle majoritário da SAS não afetaria as ambições da Air France-KLM de comprar a TAP.