A Mondelez está fazendo lobby para que a implementação da lei de desmatamento da UE (União Europeia) seja adiada novamente, enquanto os fabricantes de chocolate dos EUA reduzem seu apoio a esta regulamentação histórica em meio a pressões políticas e preços excepcionalmente altos do cacau.
A lei proposta, que deve ser implementada no final do ano, proíbe a venda no mercado da UE de importações que vão desde cacau até óleo de palma, caso tenham origem em terras desmatadas.
A proprietária da Cadbury, Mondelez, que anteriormente apoiava a legislação, alertou que a indústria de chocolate já está enfrentando “preços recordes e choques de oferta”.
“Barreiras regulatórias adicionais poderiam comprometer a competitividade de uma indústria de 70 bilhões de euros (R$ 446 bilhões) —em um momento em que a UE precisa intensificar seu foco na competitividade global e na resiliência econômica”, disse Massimiliano di Domenico, vice-presidente de assuntos corporativos e governamentais para a Europa.
“Por isso, acreditamos firmemente que há necessidade de um novo adiamento.”
Mars e Hershey, outros dois grandes fabricantes de chocolate dos EUA, recentemente se recusaram a se juntar a concorrentes europeus como Nestlé e Ferrero na assinatura de cartas à Comissão Europeia manifestando apoio à lei.
Essa decisão foi parcialmente motivada pela antipatia do presidente dos EUA, Donald Trump, em relação às regras ambientais, segundo pessoas envolvidas na redação das cartas.
A Mars disse ao Financial Times que tem sido “consistente em seu apoio” à lei de desmatamento da UE. Uma pessoa familiarizada com a posição da empresa disse que ela se opõe a um adiamento.
A Hershey afirmou que “continua apoiando os esforços da Comissão [Europeia] para garantir que esta regulamentação alcance seu impacto pretendido de combater o desmatamento”.
Os fabricantes de chocolate têm enfrentado forte pressão após condições climáticas desfavoráveis e doenças nas plantações no oeste da África, a principal região produtora de cacau do mundo, reduzirem a oferta e causarem um aumento de mais de três vezes no preço do cacau em apenas oito meses.
Os futuros em Nova York recentemente caíram de seu pico de mais de US$ 12 mil (R$ 65 mil) por tonelada, mas permanecem cerca de US$ 4.000 (R$ 21,7 mil) acima de sua faixa habitual.
A lei de desmatamento da UE, uma parte importante de sua ambiciosa agenda ambiental, tem sido criticada por ministros agrícolas do bloco, parceiros comerciais e políticos de direita, muitos dos quais afirmam que é inviável e querem que seja radicalmente diluída.
A lei deveria entrar em vigor no início de 2025, mas Bruxelas concordou em outubro em adiar sua implementação por um ano. As empresas receberam orientações adicionais para ajudá-las a se preparar para as informações alfandegárias detalhadas que terão de fornecer.
Organizações de outros setores, como agricultura e silvicultura, estão se preparando para emitir uma declaração nos próximos dias pedindo uma emenda à lei, segundo uma entidade setorial envolvida.
Em uma carta desta semana, vista pelo Financial Times, fabricantes europeus de chocolate, incluindo Ferrero, Nestlé e Tony’s Chocolonely, afirmaram que novos atrasos ou mudanças na lei “comprometeriam severamente uma das políticas emblemáticas da UE para combater o desmatamento global e a degradação da natureza”.
Antonie Fountain, diretor-gerente da Voice Network, que defende a produção sustentável de cacau, disse que a incerteza sobre a implementação da lei está causando “muito descontentamento” entre os fabricantes de chocolate.
“Eles estão dizendo ‘parem de hesitar para que possamos seguir em frente’. [Mas] algumas das empresas americanas não dirão isso em público porque veem o que acontece com aquelas que defendem a sustentabilidade.”
Os EUA há muito se opõem à lei de desmatamento. Funcionários da administração Biden enviaram uma carta à comissão em junho do ano passado dizendo que ela apresentava “desafios críticos” para os produtores americanos e deveria ser adiada.
Autoridades da UE disseram recentemente que a lei de desmatamento é uma de várias vistas como problemáticas pelos EUA. Outras incluem a Lei dos Mercados Digitais, que regula grandes empresas de tecnologia, e regras que governam emissões de metano, disseram eles.