Sabe aquela fila que se forma na frente de uma padaria, mesmo sem ninguém saber o que estão vendendo? Basta um movimento maior para a fila dobrar a esquina — e atrair ainda mais gente. No mercado financeiro, isso tem nome: FOMO. O Fear of Missing Out, ou medo de estar de fora, é um dos sentimentos mais potentes — e perigosos — para o investidor.
Nesta semana, o Ibovespa renovou sua máxima histórica, superando os 140 mil pontos. A manchete fez muita gente se ajeitar na cadeira e pensar: será que eu estou perdendo enquanto os outros estão ganhando?
Esse tipo de impulso costuma levar a decisões apressadas. Um gestor experiente certa vez me disse: a Bolsa só parece barata depois que sobe muito. A frase, embora irônica, guarda uma verdade desconfortável: muitas pessoas só se sentem seguras para investir quando o mercado já subiu — mas é justamente aí que o risco aumenta.
Quem olha para o gráfico do Ibovespa dos últimos quatro anos (abaixo) vê uma história de montanha-russa. Em 2021 e 2022, muita gente comprou ações empurrada pela euforia. Quando veio a queda, venderam no pânico. Agora, com o índice batendo recorde, o ciclo ameaça se repetir.
A lógica de investir com base na alta recente é enganosa. O retorno passado não é garantia de retorno futuro — e muito menos uma justificativa para entrar agora. A alta da Bolsa é um reflexo de que ela esteve barata. Mas depois que sobe, o preço é outro — e o risco, também.
Grande parte do movimento da Bolsa tem sido ditado pelo mercado de juros. Afinal, o preço de um ativo hoje é o desconto a valor presente de seu fluxo de caixa futuro. Basta olhar o gráfico abaixo extraído da Bloomberg, que mostra a relação entre o Ibovespa (linha branca) e o índice IMA-B de títulos públicos atrelados à inflação (linha laranja). Quando os juros de longo prazo caem, os dois se valorizam juntos. Quando sobem, sofrem juntos.
Ou seja, não se trata apenas de otimismo: há fundamentos macroeconômicos por trás da recuperação. A dúvida é se a taxa de juros real vai continuar caindo e em que velocidade.
Ainda assim, os investidores locais continuam retirando recursos da Bolsa. O consolidado da ANBIMA mostra que, só em 2025, os fundos de ações já registram resgates líquidos de R$ 43,6 bilhões. Nos multimercados, o volume é ainda maior: R$ 78,9 bilhões no vermelho no ano. E isso tudo aconteceu com o Ibovespa subindo. O movimento foi capitaneado pelo investidor estrangeiro. Este está comprando por outras razões.
Enquanto uns celebram os ganhos, outros seguem vendendo. Mas é justamente nessa divergência que o viés comportamental se manifesta. A alta do mercado cria a sensação de urgência, como se fosse a última chance de aproveitar. E o medo de perder pode levar a decisões que só fazem sentido no calor do momento — não na lógica do longo prazo.
Investir bem não é entrar no que já subiu. É saber o que faz sentido para você, com base no seu perfil, na sua necessidade de liquidez e nas expectativas para o futuro. O que passou, passou. Quem entra olhando só para o retrovisor pode muito bem acabar batendo no poste da realidade.
Porque se a Bolsa parece barata só depois que sobe, talvez você esteja sempre investindo no passado — enquanto o futuro segue à venda, com desconto, na outra esquina.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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