/ Jul 05, 2025

O risco de não jogar é ficar bom só na teoria – 04/07/2025 – De Grão em Grão

Conheci um investidor que parecia um grande enxadrista. Estudava todos os movimentos, lia teoria, assistia partidas históricas. Mas nunca jogava. O tabuleiro, pra ele, era sempre um risco.

No fim, virou especialista em xadrez… teórico. Nunca saiu da fase de treino.

No mundo dos investimentos, há muitos “jogadores” assim. Estudam tanto as oportunidades que acabam se tornando especialistas… em não fazer nada.

Anos depois, comentam com pesar: “eu quase comprei aquele investimento, quase entrei naquela estratégia, quase aceitei aquele conselho”. Mas quase nunca fez ninguém enriquecer.

Em uma palestra que assisti há alguns anos, Luis Stuhlberger — gestor do Verde, um dos fundos mais bem-sucedidos do Brasil — foi perguntado sobre como tomava decisões em comitê. Ele respondeu com franqueza: “Se eu tivesse que juntar todos os dados e fundamentos, explicar racionalmente e convencer um grupo de pessoas sobre todas as minhas apostas, teria perdido boa parte das que deram certo ou pelo menos parte de seus ganhos.”

Isso não significa agir por impulso. Mas reconhecer que nem tudo pode ser explicado com todos os detalhes e fatos antes que aconteça. A intuição faz parte do processo de investimento — especialmente quando o tempo exige agilidade e o cenário muda mais rápido do que as planilhas conseguem prever.

Warren Buffett, conhecido pela racionalidade, já disse: “nem tudo que conta pode ser contado.” Ray Dalio, outro gigante da gestão, fala da importância de respeitar o “princípio da incerteza” e agir mesmo com informações imperfeitas. George Soros costumava dizer que boa parte de suas decisões vinham de “desconfortos no estômago”. Ou seja: os maiores investidores escutam seus instintos.

O filósofo Sêneca escreveu: “Enquanto perdemos tempo hesitando, a vida passa.” O mesmo vale para o investidor: quem exige todas as respostas no presente se nega a viver o futuro.

E você? Já percebeu que muitas vezes, mesmo sem todas as informações, havia algo em você sinalizando que aquela decisão fazia sentido? Talvez uma sensação incômoda ao deixar passar uma boa oportunidade… e que mais tarde se confirmou?

Essa é a voz da intuição — que costuma ser abafada por um viés muito comum: o viés da omissão. Ele nos leva a supervalorizar os riscos de agir e a subestimar os custos de não fazer nada. Depois, o viés da retrospectiva entra em cena, e tudo parece óbvio — mas só depois que passou.

É fundamental estudar, comparar alternativas e medir riscos. Mas o momento ideal raramente vem com selo de garantia. E, na dúvida eterna, o tempo passa — e as oportunidades também.

Investir exige coragem. Não cega, mas informada. E exige, principalmente, aceitar que parte das decisões vai dar errado — e tudo bem. O maior erro, quase sempre, é não decidir.

O tempo é cruel com os indecisos. E os gráficos que mais doem são os que mostram os ganhos que você não teve. Da próxima vez que se pegar mergulhado numa análise infinita, ouça também a sua intuição. Pensar é essencial. Mas agir é o que muda a sua vida.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

Siga e curta o De Grão em Grão nas redes sociais (Instagram).


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

Notícias Recentes

Travel News

Lifestyle News

Fashion News

Copyright 2025 Expressa Noticias – Todos os direitos reservados.