O protesto na sede do Itaú, em São Paulo, realizado na tarde de quinta-feira (3) por uma frente de movimentos sociais ligada ao deputado federal Guilherme Boulos, do PSOL, incomodou integrantes do governo Lula (PT).
Militantes da Frente Povo Sem Medo entraram de surpresa no saguão do prédio do Itaú BBA, na avenida Faria Lima, com cartazes e bandeiras que pediam a taxação de bilionários. O grupo tem a participação do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), do qual Boulos foi coordenador.
O movimento diz que o local da ocupação foi escolhido por razões simbólicas: custou R$ 1,4 bilhão ao Itaú. “Esses mesmos bancos, quando começam a quebrar, vão pedir ajuda para o governo, isenção de imposto, e o rico no Brasil está pagando menos imposto que nós”, disse uma liderança ao megafone dentro do saguão.
Um ministro do governo Lula afirmou, sob reserva, que a manifestação “estreita” a mobilização pela taxação dos mais ricos, defendida pelo governo dentro de um discurso de justiça tributária e defesa da redução de impostos para os mais pobres. A campanha se tornou peça central do governo, num esforço de recuperação de popularidade de Lula.
Outro aliado do presidente disse que atos como esse isolam o MTST, movimento ligado a Boulos, e que será difícil convencer a opinião pública de que o deputado desconhecia o ato.
Esse interlocutor do presidente se queixou do fato de o protesto ocorrer no momento em que o presidente tenta recuperar sua popularidade.
Boulos disse que não comentaria a manifestação, embora tenha publicado mensagem de apoio ao ato. “O movimento social tem autonomia”, afirmou à reportagem.
Como mostrou a Folha, o deputado tem liderado ataques ao centrão após a derrota do governo no tema do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), desde a semana passada. Em vídeos gravados para as redes sociais, ele argumenta que há uma aliança entre centrão e direita para aprovar cortes em políticas sociais, aumentar a impopularidade de Lula e abrir caminho para uma candidatura de direita nas eleições presidenciais de 2026.
“[Eles] se juntam para derrubar o decreto do Lula e tentar forçar o governo a fazer os cortes no lombo do povo. É o lobby dos bilionários que atuou para que eles não paguem nada e o povo pague a conta”, diz o deputado em uma das postagens.
Mesmo que a própria gestão esteja em ofensiva nas redes e no STF, usando vídeos feitos com ferramentas de inteligência artificial que mostram pobres carregando o fardo dos impostos no Brasil, a postura do deputado do PSOL contrasta com a de outros membros da coalizão.
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), saíram em defesa do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), quando ele virou alvo de ataques e memes.
Sobre eventuais divergências dentro do governo em relação ao grau de engajamento necessário, Boulos diz que há convergência nas pautas –”diferença de perfis, mas não de visão”– e que Gleisi está certa em defender Motta.
“Eu nunca fiz ataque pessoal. A nossa discussão é política”, afirmou o deputado. “É natural que o governo Lula tenha que fazer diálogo e construir pontes e também que a esquerda manifeste as suas pautas.”
Além de incomodar ao governo, a manifestação com participação do MTST ganhou apoio de perfis de esquerda nas redes e gerou reação negativa de figuras da direita.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) fez referência à manifestação com os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. “Quantos anos vão pegar de cadeia? Ou só vale para quem tá de verde e amarelo?”, escreveu.
Luciano Hang, o dono das lojas Havan, postou: “Fim do mundo! Baderneiros e desocupados invadiram a sede do Banco Itaú, em São Paulo, pedindo ‘taxação dos ricos'”.
A Frente Povo Sem Medo convocou uma manifestação no dia 10 de julho pelo fim da jornada de trabalho 6×1, isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000 e pelo que o governo chama de taxação “BBB”: de bancos, bets e bilionários.
Boulos tem convocado o protesto nas redes sociais e em agendas políticas na Grande São Paulo nos últimos dias.