Fogos e rufar de tambores na Faria Lima, e não falo do protesto na sede Itaú BBA. O Ibovespa, principal indicador da nossa Bolsa, fechou pela primeira vez acima dos 141 mil pontos. Isso significa o que é: aumentaram as apostas no crescimento das empresas na Bolsa, como já falei aqui outras vezes.
A taxa básica de juros a 15% ao ano dá sinais de bambear e iniciar uma queda, de olho em uma inflação mais amena. Com isso, a mão da renda fixa começa a soltar cartas e a mão da renda variável começa a comprá-las. Mas que tipo de evolução se espera das nossas poucas empresas (menos de 400) listadas em Bolsa?
Enquanto investidores celebram os números no gráfico e falam de eleições presidenciais, outra votação, essa, na Bolsa de Valores, passou quase sem ser notada.
Empresas do chamado “Novo Mercado”, o segmento de listagem considerado a “elite” da Bolsa, com mais exigências e fiscalização mais rigorosa, rejeitaram, com folga, uma proposta de reforma de governança apresentada pela B3, empresa responsável pela Bolsa.
A novas normas, rechaçadas, previam ajustes como maior independência dos conselhos, canais de denúncia mais robustos, regras mais claras de auditoria. Mas, ao que tudo indica, boa parte das listadas preferem um mercado com cara de 2005. Um retrato do nosso mercado de capitais: os preços avançam, mas a estrutura, não.
Das 190 companhias aptas a votar, quase metade rechaçou integralmente o pacote de mudanças. A justificativa mais repetida pelos contrários à reforma foi o “aumento de custos” exigidos. Como se governança e transparência fossem um luxo. A falta delas custa caro, mas normalmente é no bolso dos investidores.
Foram poucas a voltar pela aprovação integral da proposta. Curiosamente, a Vale —segunda maior empresa do Ibovespa, com 10,8% do índice— estava entre elas. Também disseram “sim” empresas como Dexco, Lojas Renner, IRB e Westwing. Todas com estruturas robustas e exposição pública relevante.
Se para elas não pesou tanto, por que o incômodo em todas as outras? Algumas justificaram que houve pouco debate sobre a reforma. Espero que agora tomem as rédeas de uma nova discussão, para implementar melhorias na governança. Não são poucos os escândalos que aparecem envolvendo empresas listadas. E o passar do tempo não resolve esse tipo de problema.
A verdade é que algumas companhias enxergam o investidor como sócio. Outras ainda o tratam como alguém a quem se presta contas por mera obrigação. Um enorme descompasso em um país no qual os investidores pessoa física já representam cerca de 12% do volume financeiro movimentado pelo mercado de ações e derivativos. O que dá uma média de mais de R$ 3,2 bilhões por dia, pelos dados da Bolsa. São eles (nós) que, muitas vezes, sustentam(os) liquidez no dia a dia, acompanhando resultados e lendo comunicados das companhias.
A recusa à reforma pode até ser explicada pelo momento, de juros altos, baixa liquidez, compressão de múltiplos, mas não pode ser romantizada. Foi uma opção tomada pelas empresas da “elite” do mercado, em meio a uma seca de IPOs, que já dura desde 2021, com capital escasso, aversão ao risco e os juros nas alturas.
Num cenário em que o mercado luta para atrair novos investidores e novas empresas para o mercado de capitais, recusar avanços em governança e transparência não é apenas um erro estratégico. É um tiro no próprio futuro.