Sabe quando o sinal está amarelo e você acelera para aproveitar a passagem, contando que o carro da frente também vai acelerar? O problema é quando ele resolve frear. Aí, não tem freio que salve. Eu mesmo já passei por esse sufoco. Em finanças, essa aposta na continuidade de um movimento alheio também é comum — e pode ser perigosa.
Desde a reunião do Copom em 19 de junho, em que o Banco Central elevou a Selic em 0,25 ponto e sinalizou o fim do ciclo de alta de juros, pipocaram mensagens no meu celular: “Agora é hora de travar o prefixado, certo?”
A lógica parece boa: se a Selic vai cair, é hora de garantir uma taxa alta. Mas como disse Schopenhauer, “o otimismo é uma forma de desatenção perigosa”. E nesse caso, o otimismo ignora o que já está embutido nos preços.
Como já abordei em outras ocasiões, para que você tenha resultado positivo, ou seja, em excesso ao CDI ou ao índice de referência, não importa sua opinião absoluta, mas na verdade apenas a relativa. E relativa ao que o mercado já está precificando.
Por exemplo, o título Tesouro Prefixado 2028 negocia hoje com taxa de 13,35% ao ano. Parece atrativo, mas essa taxa já carrega uma aposta embutida: o mercado precifica uma queda de dois pontos na Selic em 2026 e estabilidade nos anos seguintes. Ou seja, para ter algum ganho sobre o CDI, a Selic precisa cair mais que isso — e rápido.
Se ela cair só 1% em 2026, você perde do CDI. Na verdade, já está perdendo desde o início do investimento, pois essa taxa de 13,35% é menor que a Selic atual. Seu ganho só se concretiza se o cenário for muito otimista. E, mesmo assim, o prêmio pode ser equivalente a um CDB de banco médio, só que com mais risco e menor liquidez.
Quer um número? Se a Selic cair 2,5%, depois 1% e mais 1% nos próximos três anos, esse mesmo título prefixado renderia o equivalente a 114% do CDI. Sério que vale correr esse risco todo para ter o que um título menos arriscado já entregaria?
É verdade que a inflação tem arrefecido, mas não pelo lado da demanda. O PIB de 2025 está sendo revisado para cima, com estimativas acima de 2,5%. A taxa de desemprego está nas mínimas, em torno de 6,2%. E 2026 será um ano eleitoral — quando tradicionalmente o gasto público aumenta e a inflação pressiona.
Além disso, o cenário mais favorável para ativos de risco — dólar mais baixo, bolsa mais alta — tem origem externa. A entrada de capital estrangeiro, incentivada pelos juros altos no Brasil e pela aversão aos EUA, turbinou esses ativos. Mas isso muda rápido. Se os juros caírem por aqui ou melhorarem lá fora, o movimento se inverte.
Hoje, o Brasil parece atrativo para o investidor estrangeiro porque o retorno é alto. Mas será que continuamos tão atraentes com juros menores?
No fim, quem aplica no prefixado agora precisa torcer para que tudo dê certo: inflação sob controle, economia desacelerando na medida certa, política fiscal comportada em ano eleitoral e cenário externo colaborando.
Pode acontecer? Pode. Mas vale o risco? Como no trânsito, o maior perigo é quando confiamos que o carro da frente vai seguir — e ele freia de repente.