O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ao jornal argentino La Nación, que nenhum país está preso ao Mercosul, mas que o Brasil defende que a união dos países da região os fortalece em negociações.
Ele também destacou a necessidade de manter as contas públicas equilibradas, ainda que por um caminho diferente do que tem feito o governo argentino.
Haddad veio a Buenos Aires na última quarta-feira (2) ao participar de um encontro de ministros da Fazenda do bloco, no evento que marcou a passagem da presidência temporária da Argentina para o Brasil.
Ele aproveitou para ter uma reunião bilateral com o colega argentino Luis Caputo, enquanto o presidente Lula, que esteve na cúpula no dia seguinte, não teve uma reunião com Milei.
Ao jornal argentino, Haddad ressaltou que, apesar dos desafios, o Brasil defende a negociação do Mercosul com a União Europeia, pois isso fortalece a posição do bloco no comércio internacional.
“Nenhum país está preso ao Mercosul, qualquer país pode sair”, disse Haddad. “Não há nada que nos obrigue a estar lá. O que o Brasil defende é que podemos negociar como um bloco, porque isso nos fortalece.”
Em inúmeras ocasiões, inclusive em seu discurso de despedida da presidência temporária do bloco, na quinta-feira (3), Milei aventou a possibilidade de a Argentina deixar o grupo, em busca de maior liberdade para negociar acordos bilaterais, sobretudo com os Estados Unidos.
“Penso que há espaço para isso, desde que a centralidade dos pilares do Mercosul não seja afetada. Mas acho que seríamos mais capazes de negociar juntos do que isoladamente. Não faz muito sentido, tendo a força de um mercado de cerca de 300 milhões de pessoas, que você, com apenas uma parte disso, tenha mais poder de barganha. Por exemplo, com a União Europeia, um acordo só é possível porque estamos juntos.”
Ele também observou que o recente aumento do turismo argentino no Brasil foi um reflexo das melhorias econômicas do país vizinho, mas também trouxe preocupações para a Argentina, que enfrenta um crescente déficit bilateral. Haddad reconheceu a complexidade da atual situação e apontou a importância de olhar para o futuro, não apenas para o presente.
Haddad sugeriu que a integração com outras regiões, como a Europa, é vital. Ele também destacou a importância de diversificar as relações comerciais para não depender de grandes potências, usando o exemplo do México, que se tornou muito dependente dos Estados Unidos.
Durante as discussões com ministros da Argentina, Haddad mencionou o interesse em cooperar em áreas como política aduaneira, padronização de produtos e integração monetária, inclusive o uso de moedas locais para facilitar o comércio entre os dois países. Ele viu um potencial para aumentar a colaboração sem barreiras ideológicas.
Haddad reconheceu as diferenças estruturais entre Brasil e Argentina e afirmou que cada país deve seguir seu próprio caminho democrático. Ele defendeu que o desenvolvimento econômico é essencial e criticou abordagens que reduzem a participação do estado na economia.
O ministro ressaltou que enquanto o Brasil busca manter as contas em ordem cobrando mais dos ricos, isso não impede que ambos os países encontrem pontos em comum.
Ele também destacou que diferentes governos, seja de esquerda ou direita, têm responsabilidade sobre isso. Haddad criticou a falta de contribuição de determinados setores em períodos anteriores e defendeu que o ajuste fiscal deve ser feito com justiça, apontando a responsabilidade da parcela mais rica que ainda não pagou por ele.