O dólar abriu em queda nesta terça-feira (8) com os investidores avaliando o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de impor tarifas a 14 países.
Às 9h04, a moeda norte-americana caía 0,15%, cotada a R$ 5,4727. Na segunda-feira (7), o dólar fechou com uma forte alta de 1%, cotado a R$ 5,478, antes de Trump anunciar as tarifas aos 14 países. O mercado repercutiu a ameaça do presidente dos EUA de aplicar uma tarifa adicional de 10% a países que se alinharem ao Brics.
Formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco foi ampliado recentemente para 11 países e representa quase metade da população mundial e cerca de 40% do PIB (Produto Interno Bruto).
A alta da divisa dos EUA seguiu em linha com a valorização do dólar mundialmente. O índice DXY, que mede a força da moeda norte-americana frente a uma cesta com outras seis divisas, subia 0,31%, a 97,48, ao fim do pregão.
Já a Bolsa encerrou com uma desvalorização de 1,25%, a 139.489 pontos, após renovar máximas históricas na última sexta-feira (4), quando fechou acima dos 141 mil pontos pela primeira vez.
A nova ameaça tarifária de Trump sobre os países alinhados ao Brics impulsionou a alta do dólar frente ao real e a outras divisas dos países integrantes do bloco, como o rand sul-africano, a rupia indiana, o peso mexicano e a rupia indonésia.
No domingo (6), em uma declaração conjunta na abertura da cúpula do Brics no Rio de Janeiro, o grupo alertou que o “aumento indiscriminado de tarifas” ameaça o comércio global. O Brasil é um dos membros fundadores do bloco.
Horas depois, em sua plataforma Truth Social, Trump prometeu impor uma tarifa adicional de 10% a países que se “alinhem” com o Brics.
“A qualquer país que se alinhe com as políticas antiamericanas dos Brics, será cobrada uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a esta política”, ameaçou Trump.
Em reação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou duramente as declarações do republicano, e classificou de “irresponsável” a postura de ameaçar países por redes sociais.
“Eu acho que nem deveria comentar, porque não é responsável e sério e um presidente da República, de um país do tamanho dos Estados Unidos, ficar ameaçando o mundo através da internet”, disse Lula após reunião do Brics nesta segunda, ao ser questionado sobre a declaração de Trump.
“O mundo mudou, não queremos imperador. Somos países soberanos. Se ele acha que pode taxar, os países têm o direito de taxar também. Existe a lei da reciprocidade. Eu acho muito equivocado e muito irresponsável um presidente ficar ameaçando os outros em redes digitais”, afirmou Lula.
A China também respondeu à ameaça de Trump ao Brics.
“O mecanismo Brics é uma plataforma importante para a cooperação entre mercados emergentes e países em desenvolvimento”, disse a porta-voz do Ministério do Exterior, Mao Ning. “Defende abertura, inclusão e cooperação ganha-ganha e não tem nenhum país como alvo.”
Posteriormente, Trump anunciou as tarifas sobre 14 países, que o mercado vê com desconfiança. “Não se pode contar que as tarifas anunciadas nas próximas horas permaneçam inalteradas por mais de um dia. Essa é a realidade, e as manchetes mais recentes não apontam para um caminho tranquilo”, afirmou a analista sênior Ipek Ozkardeskaya, do Swissquote Bank.
“O drama comercial provavelmente não desaparecerá tão cedo. Essa incerteza continuará obscurecendo a visibilidade”, afirmou Ozkardeskaya.
Na cena doméstica, os investidores monitoraram as novas projeções do boletim Focus divulgado nesta segunda. Analistas consultados pelo Banco Central reduziram a projeção para a inflação brasileira neste ano pela sexta semana consecutiva.
O levantamento, que capta a percepção do mercado para indicadores econômicos, mostrou que a expectativa para a inflação, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), é de 5,18% ao fim deste ano, abaixo da previsão de 5,2% na pesquisa anterior.
O centro da meta perseguida pelo BC é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
A pesquisa semanal mostrou ainda a previsão de que o PIB (Produto Interno Brasileiro) suba 2,23% neste ano, acima da projeção de crescimento de 2,21%, que ficou nesse patamar nas últimas duas semanas.
No Focus desta segunda, houve ainda manutenção na expectativa para o preço do dólar no final de 2025, a R$ 5,70.
Os investidores também seguiram atentos a qualquer novidade em relação ao impasse em torno das tentativas do governo de elevar as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), com a disputa entre Executivo e Legislativo agora no âmbito do STF (Supremo Tribunal Federal).
O presidente Lula afirmou que a derrubada do decreto do IOF pelo Congresso Nacional foi inconstitucional, mas que divergências políticas fazem parte da democracia.
“Nós mandamos uma proposta para o Congresso. O Congresso resolveu fazer uma coisa, na minha opinião, totalmente inconstitucional, porque decreto é uma prioridade do governo, do Executivo”, afirmou.
A crise do IOF começou em 11 de junho, quando o governo fez novas mudanças nas cobranças do imposto depois de uma série de reuniões que buscavam um acordo com os líderes no Congresso.
Antes mesmo de o texto chegar ao Congresso, o pacote já estava sob ataque. Na quarta-feira, 25 de junho, veio a derrota da gestão petista: a Câmara e o Senado derrubaram as medidas.
Na última sexta-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, suspendeu os decretos presidenciais que aumentaram o IOF e também o decreto legislativo que barrou os reajustes.
Para Moraes, o embate entre Executivo e Legislativo sobre o IOF “contraria fortemente” o princípio da harmonia entre os Poderes. Ele determinou uma audiência de conciliação entre os chefes dos três Poderes para o dia 15 de julho, no Supremo, e a decisão vale até nova análise da Corte.
Na prática, a decisão de Moraes abre uma janela de oportunidade de quase duas semanas para que lideranças do governo e do Congresso discutam medidas fiscais alternativas.
Em entrevista ao C-Level, novo videocast semanal da Folha, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, havia defendido que a melhor solução para o impasse seria o tribunal buscar resolver o problema de maneira consensual do que pela via do litígio.
“Vejo com naturalidade e até como desejável que as soluções sejam consensuais quando seja possível. Se não for possível, a gente decide”, disse Barroso.