Engenheiros e arquitetos interessados em ingressar no serviço público federal têm uma nova chance de disputar vagas em órgãos estratégicos da administração federal. O bloco 4 do CNU (Concurso Nacional Unificado), voltado às áreas de engenharias e arquitetura, reúne oportunidades em setores como energia, defesa, infraestrutura, ciência e tecnologia.
Com inscrições abertas até 20 de julho, o certame exige que o candidato escolha um único bloco temático e, dentro dele, defina a ordem de preferência entre os cargos ofertados. No bloco 4, há postos para diversas especialidades (da engenharia civil à aeroespacial) em instituições como a ANP (Agência Nacional do Petróleo), os comandos das Forças Armadas, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e o Ministério da Saúde.
Especialistas ouvidos pela Folha apontam que o bloco concentra funções técnicas e exigentes, e orientam sobre como interpretar o edital, escolher os cargos e se preparar para as provas.
COMO POSSO ESCOLHER A VAGA IDEAL?
Filipe Miguel, professor do Gran Concursos, explica que os candidatos devem avaliar quatro pontos principais:
1) Remuneração
As 306 vagas do bloco 4 apresentam grande variação salarial. Os cargos com melhores remunerações estão na ANP (Agência Nacional do Petróleo), com salário inicial de R$ 16.413,35. Também se destacam os cargos de pesquisador e tecnologista nas Forças Armadas, cuja remuneração pode chegar a R$ 13.498.
2) Localização das vagas
Brasília concentra cerca de 57% das vagas do CNU, incluindo boa parte das oportunidades do bloco 4. Na inscrição, os candidatos devem ponderar que vagas em outros estados costumam atrair menos concorrência.
3) Expectativa de convocação
O CNU 2025 oferece 2.480 vagas imediatas e outras 1.172 para formação de cadastro reserva. No entanto, o aproveitamento desse cadastro depende do cenário fiscal e das prioridades do governo federal.
Segundo o professor, há uma boa expectativa de que parte significativa dos aprovados na lista de espera seja chamada, especialmente em áreas técnicas, mas isso costuma ocorrer em médio prazo.
4) Perfil e atribuições dos cargos
Os cargos do bloco 4 exigem, na maioria das vezes, registro em conselho de classe e, em muitos casos, formação complementar, como especialização ou mestrado.
QUAIS DISCIPLINAS COSTUMAM TER MAIS PESO?
De acordo com Miguel, os candidatos ao bloco 4 do CNU devem estar atentos à distribuição dos conteúdos da prova específica, que varia conforme o cargo e a especialidade.
Para a maioria dos engenheiros civis, os eixos temáticos com maior peso são os de número 1, 2 e 3, que abordam, respectivamente, gestão de obras e serviços de engenharia, planejamento territorial e planejamento e projeto de obras. Já para cargos voltados à agronomia, pesca e arquitetura, o foco tende a se concentrar nos eixos 4 e 5, relacionados aos setores agrário e pesqueiro e a sustentabilidade e patrimônio cultural.
No caso da engenharia civil, os temas mais relevantes são: construção civil e tecnologia das construções, resistência dos materiais e estruturas, gestão de projetos (metodologias PMI e cronogramas), normas técnicas (NBR 6118, NBR 6122, NBR 15575), e segurança do trabalho (NRs aplicáveis).
Para os cargos voltados a engenharia agronômica e a pesca, os candidatos devem priorizar temas como recursos hídricos (lei 9.433/1997), aquicultura, climatologia agrícola, solos e nutrição vegetal, além da legislação ambiental, com destaque para o Código Florestal.
No caso da arquitetura, o eixo 5 ganha importância especial. Nesse caso, os candidatos devem estar familiarizados com normativos como a NBR 15575 (edificações habitacionais), a NBR 15220 (desempenho térmico), certificações ambientais como Leed e Aqua, além de diretrizes do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) sobre preservação.
O QUE SÃO E QUAIS SÃO OS EIXOS TEMÁTICOS DO BLOCO 4?
No CNU, os conteúdos das provas são organizados por eixos temáticos, que reúnem competências comuns a diversos cargos. A distribuição e o peso desses eixos variam conforme a vaga. Por isso, é importante consultar o edital para saber quais eixos serão cobrados e o peso de cada um na vaga escolhida.
Os temas de cada eixo do bloco 4 são os seguintes:
Eixo temático 1 – Gestão de obras e serviços de engenharia: estudos de viabilidade técnica, econômica, ambiental e social; planejamento de obras e serviços: parametrização, composição de custos e orçamentação, cálculo de benefícios e despesas indiretas (BDI) e encargos sociais; licitação e contratação de obras e serviços de engenharia e arquitetura nos termos da lei nº 14.133/2021; gestão da manutenção: preditiva e corretiva; projetos de infraestrutura urbana (saneamento, drenagem, pavimentação, abastecimento de água); entre outros.
Eixo temático 2 – Planejamento territorial: lei de parcelamento do solo urbano (lei nº 6.766/1979); princípios e diretrizes da política de gestão do patrimônio imobiliário e fundiário da União (lei nº 9.636/1998); Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas – PNGATI (decreto nº 7.747/2012); regularização fundiária rural e urbana (lei nº 13.465/2017); entre outros.
Eixo temático 3 – Planejamento e projeto de obras: elaboração de projetos: definição de programa de necessidades, dimensionamento, zoneamento das atividades, orientação e implantação da edificação; acessibilidade e inclusão (Estatuto da Pessoa com Deficiência), coordenação modular e dimensional; intervenções em imóveis e bens tombados: conservação e restauração (metodologias, justificativa conceitual, especificações técnicas); entre outros.
Eixo temático 4 – Agrário e pesqueiro: política agrícola; certificação e rotulagem de produtos agroecológicos; zoneamento ecológico-econômico, reforma agrária, agricultura familiar e comunitária; registro geral da atividade pesqueira, Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura; ecologia de ecossistemas aquáticos marinhos e continentais; noções de ordenamento e gestão dos principais recursos pesqueiros e aquícolas no Brasil; entre outros.
Eixo temático 5 – Sustentabilidade e patrimônio cultural: gestão ambiental; Política Nacional sobre Mudança do Clima; Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural; licenciamento ambiental; Política Nacional de Resíduos Sólidos; Política Energética Nacional; Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH); entre outros.
QUAIS SÃO OS DIFERENCIAIS DE CARGOS EM ÓRGÃOS MILITARES?
Um dos destaques do bloco 4 do CNU é a presença de dezenas de vagas para profissionais civis atuarem em estruturas das Forças Armadas. Embora esses postos sejam vinculados a órgãos militares, os profissionais selecionados não se tornam militares.
Durante anos, funções semelhantes eram preenchidas internamente por militares de carreira, por meio de escolas específicas como a EAOEAR (Aeronáutica), o CPCEM (Marinha) e o CForm (Exército).
Apesar de atuarem em estruturas militares, os servidores civis não se submetem ao Estatuto dos Militares. O professor também explica que os candidatos aprovados para cargos civis em órgãos militares não realizam teste de aptidão física, como ocorre com militares de carreira. No entanto, o processo seletivo inclui etapas obrigatórias como investigação social, exames médicos detalhados e avaliação psicológica.
Outras vantagens apontadas pelo professor do Gran Concursos é o potencial de ganho salarial maior, benefícios específicos, estabilidade e trabalho em tecnologias de ponta (cibersegurança, inteligência artificial, sistemas autônomos).
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS ERROS E COMO EVITÁ-LOS?
Filipe Miguel aponta os principais equívocos cometidos por quem está iniciando a preparação para o CNU:
1) Não conhecer a banca: a FGV é uma banca que já tem muita experiência em concursos grandes, suas provas trazem questões extensas, complexas, com forte exigência em interpretação de texto e aplicação prática.
Para evitar, ele indica resolver muitas questões anteriores específicas da FGV, com atenção especial para interpretação de texto e casos práticos.
2) Achar que precisa vencer todo o edital para ser aprovado: segundo o especialista, o edital do CNU é extenso, mas não é necessário “zerar” todo o conteúdo. Ele indica, assim, que é importante priorizar os eixos temáticos com maior peso para o cargo pretendido.
3) Confundir preparação pré e pós-edital: muitos candidatos confundem essas fases e acabam desperdiçando tempo após o edital publicado. No pós-edital o foco deve ser total até a data da prova. A organização deve priorizar as disciplinas com maior peso, com sessões de uma hora a uma hora e meia por matéria e estratégias baseadas em análise estatística.
4) Gestão inadequada de tempo: a FGV é conhecida por provas que exigem resistência mental e física. Muitos candidatos têm domínio do conteúdo, mas não conseguem performar bem no dia da prova por falta de preparo para o tempo e o volume.
TENHO CONHECIMENTO TÉCNICO, MAS NUNCA FIZ CONCURSO. O QUE POSSO FAZER?
André Rocha, professor e coordenador no Estratégia Concursos, diz que é muito comum que pessoas formadas em engenharia e arquitetura achem que têm boa formação, vasta experiência e que isso vai ser suficiente para a prova de concurso.
“Não se enganem, a prova de concurso é diferente, cobra-se de uma forma diferente do que a gente vê na faculdade, do que a gente vê na prática. Então, é preciso que esses candidatos se familiarizem com a forma como as bancas examinadoras e também a FGV cobram os assuntos”, diz.
A PROVA DO BLOCO 4 DEVE SER MAIS CONTEUDISTA OU INTERPRETATIVA?
Rocha diz que a FGV, por natureza, é uma banca que exige bastante interpretação e análise, mas que não é possível fugir do conteúdo.
“Ela vai contextualizar, vai exigir análise interpretativa, mas no fim das contas o candidato vai ter que saber aquele conteúdo, vai ter que saber aquela norma, aquela legislação. Ela vai talvez ter uma pegada um pouco mais transversal, às vezes fazendo relação de uma matéria com outra, um tópico com o outro, mas lembrando que as questões se limitam aos próprios eixos, então ela não vai relacionar um tópico de um eixo com um tópico de um outro eixo, por exemplo”, afirma o professor do Estratégia Concursos.
VAI CAIR MUITO CÁLCULO E DESENHO TÉCNICO? COMO ME PREPARAR?
Como essa é uma prova que vai ser aplicada a diversas formações, André Rocha diz que não vai exigir tantos cálculos. “Pode até exigir, e provavelmente vai, mas não vai ser algo tão pesado nesse sentido”, diz.
“Sobre desenho técnico também se aplica a mesma coisa, esse assunto não é cobrado no edital, já as normas, sim, são diversas as presentes no edital, tanto normas federais, leis, por exemplo, diversos decretos federais, quanto normas técnicas, por exemplo, norma ABNT”, afirma o professor. Ele diz que a banca deve explorar esses conteúdos, às vezes de uma forma mais interpretativa, mas cobrando conteúdo sobre as normas.
QUAIS SÃO AS VAGAS DO BLOCO 4?
*O salário pode variar conforme titulação: graduação, especialização, mestrado ou doutorado
Órgão | Cargo | Salário Inicial (R$)* | Quantidade de Vagas |
---|---|---|---|
ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) | Especialista em regulação de petróleo e derivados, álcool combustível e gás natural | 16.413,35 | 12 |
Comando da Aeronáutica | Pesquisador | 7.710,83 | 6 |
Comando da Aeronáutica | Tecnologista | 7.710,83 | 37 |
Comando da Marinha | Engenheiro de tecnologia militar | 7.212,78 | 20 |
Comando da Marinha | Tecnologista | 7.710,83 | 17 |
Comando da Marinha | Pesquisador | 7.710,83 | 1 |
Comando do Exército | Engenheiro de tecnologia militar | 7.212,78 | 5 |
Comando do Exército | Analista de tecnologia militar | 7.212,78 | 1 |
Comando do Exército | Pesquisador | 7.710,83 | 5 |
Comando do Exército | Tecnologista | 7.710,83 | 28 |
Fundacentro | Pesquisador | 7.710,83 | 8 |
Fundacentro | Analista de ciência e tecnologia | 7.710,83 | 1 |
Fundacentro | Tecnologista | 7.710,83 | 1 |
Funarte | Profissional técnico superior 1 | 5.982,49 | 1 |
Imprensa Nacional | Engenheiro | 8.215, 07 | 4 |
INSS | Analista do seguro social | 5.654,72 | 10 |
Iphan |
Técnico 1 | 5.982,49 | 17 |
Ministério da Fazenda | Arquiteto | 8.215,07 | 2 |
Ministério da Fazenda | Engenheiro | 8.215,07 | 3 |
Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional | Engenheiro | 8.215,07 | 10 |
Ministério da Pesca e Aquicultura | Arquiteto | 8.215,07 | 1 |
Ministério da Pesca e Aquicultura | Engenheiro | 8.215,07 | 30 |
Ministério da Saúde | Analista de gestão em pesquisa e investigação biomédica | 7.710,83 | 3 |
Ministério da Saúde | Analista em ciência e tecnologia | 7.710,83 | 5 |
Ministério das Cidades | Arquiteto | 8.215,07 | 3 |
Ministério das Cidades | Engenheiro | 8.215,07 | 10 |
Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar | Engenheiro agrônomo | 8.215,07 | 60 |
Ministério do Turismo | Arquiteto | 8.215,07 | 1 |
Ministério do Turismo | Engenheiro | 8.215,07 | 2 |
Ibram | Técnico em assuntos culturais | 5.982,49 | 2 |
VEJA O CALENDÁRIO DO CNU 2025
Inscrições | das 10h de 02/07/25 até 23h59 de 20/07/25 (pagamento até 21/07) |
Solicitação da isenção da taxa de inscrição | 02/07/2025 a 08/07/2025 |
Prova objetiva | 05/10/2025 |
Convocação para prova discursiva | 12/11/2025 |
Convocação (confirmação de cotas e PcD) | 12/11/2025 |
Envio de títulos | 13/11/2025 a 19/11/2025 |
Procedimentos de confirmação de cotas | 8/12/2025 a 17/12/2025 |
Prova discursiva para habilitados na 1ª fase | 07/12/25 |
Previsão de divulgação da primeira lista de classificação | 30/01/2026 |