/ Jul 09, 2025

Importação de mão de obra chinesa triplica no Brasil – 09/07/2025 – Mercado

Destino de bilhões de reais em produtos chineses, o Brasil está na rota de outro tipo de exportação do gigante asiático, a de mão de obra. Nos últimos dois anos houve um boom na chegada de trabalhadores da China, com o total de registros no ano passado mais do que triplicando na comparação com 2022.

Foram 7.772 chineses que obtiveram autorização para morar no país na categoria de expatriados de empresas em 2024. Um em cada cinco vistos para profissionais empregados foi para cidadãos do país asiático, que lidera a lista de registros.

Os dados fazem parte de um levantamento feito pelo Observatório das Migrações Internacionais, da Universidade de Brasília em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, para a Folha.

“Os imigrantes são a face humana das relações internacionais. Eles mostram na prática as mudanças do mundo, caso do aumento da relevância chinesa nas relações com o Brasil”, afirma Jonatas Pabis, coordenador-Geral de Imigração Laboral da Secretaria Nacional de Justiça.

Ele se refere a aproximação entre o Brasil e o gigante asiático neste século, que ganhou impulso nos últimos dois anos com o governo Lula e a chegada de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos.

Restrições impostas nos mercados dos EUA e da Europa levaram multinacionais asiáticas a mirarem no Brasil e em outros países da América Latina. Vieram produtos, marcas e trabalhadores.

“Antes, víamos a chegada do imigrante chinês sem muita formação, aquele que abria comércio, pastelaria. Agora quem está vindo são executivos e técnicos com formação especializada, que antes eram, na maioria, expatriados americanos e europeus “, afirma Pabis.

A exportação de mão de obra é incentivada por Pequim. Registros oficiais da viagem de Lula ao país em 2009 relatam um pedido do então líder Hu Jintao, antecessor de Xi Jinping, para que o Brasil facilitasse “procedimentos administrativos das aprovações e emissões de visto de trabalho para os funcionários chineses, melhorando mais o ambiente de atração dos investimentos estrangeiros”.

Em 2017, a lei de migração, que substituiu o antigo Estatuto do Estrangeiro de 1980, instituiu mudanças que simplificaram os processos para estrangeiros obterem autorização para trabalhar no país.

O total de autorizações para chineses em 2024 foi o maior registrado por profissionais de uma única origem desde 2013, quando 8.979 norte-americanos retiraram visto laboral no Brasil.

Até a década passada, os EUA figuravam como o país que mais exportava mão de obra empregada para o Brasil.

Desde a pandemia, porém, caíram para terceiro no ranking, atrás também de Filipinas, que tem uma peculiaridade. É que grande parte dos trabalhadores que vivem embarcados em navios pelo mundo são filipinos. Todos os anos, em média, 2.500 cidadãos do país obtêm visto temporário para permanecer na costa brasileira em embarcações.

No caso dos chineses, existe uma variação de perfil, com profissionais que chegam para trabalhos temporários, especialistas em assistência técnica para indústrias e em transferência de tecnologia, além de executivos em cargos de comando de empresas instaladas no Brasil.

A Folha apurou que de 20% a 30% dos funcionários das grandes e médias multinacionais chinesas instaladas aqui são “importados”.

“É praxe nas multinacionais asiáticas que o topo da pirâmide seja formado por expatriados”, explica Daniel Lau, conselheiro de empresas chinesas no Brasil.

Desde 2021, mais de 700 executivos chineses chegaram para posições de comando no país, segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que divulga os visto por categoria.

Os dados oficiais apontam que o perfil de trabalhadores especializados em prestar serviço de assistência técnica foi de maior incidência de registro em 2024. Mais de 4.000 chineses entraram com essa categoria, 57% dos casos.

“A gente precisa desse profissional, que tem o conhecimento do produto para fazer a transferência de tecnologia nas nossas fábricas aqui”, afirma Matjaz Cokan, vice presidente de recursos humanos para o mercado da América Latina da Hisense, que produz aparelhos televisão em Manaus. A empresa tem plano de ampliar os investimentos até 2027.

Dono de uma consultoria que presta assistência para grupos chineses, Tian Bin acredita na expansão de projetos no Brasil nos próximos dois anos. Cita, por exemplo, o desembarque de companhias de celular, automóveis elétricos e tecnologia.

“Nós participamos da abertura de 50 empresas no Brasil em 2024”, afirma o CEO da IEST, que calcula a existência cerca de 500 CNPJs de grupos da China registrados no Brasil. “Vai crescer mais. No México são 3.000”.

O país vizinho dos EUA viveu durante o primeiro mandato de Donald Trump um movimento semelhante com a instalação de indústrias chinesas. As marcas investiram para tentar ter acesso ao mercado americano, com produtos fabricados em território mexicano.

No Brasil, São Paulo, com mais de 3.000, e Bahia, 2.500, foram os que mais receberam expatriados chineses em 2024. Os dois estados tiveram investimentos de montadoras de automóveis chineses.

A BYD, em Camaçari, inaugurou sua fábrica no final de junho. No ano passado, uma força-tarefa de órgãos federais flagrou a presença de 163 operários trabalhando em condições análogas à escravidão que atuavam nas obras de construção da fábrica do grupo.

Os funcionários temporários chineses trabalhavam para uma empresa terceirizada da montadora, a Jinjiang Construction Brazil. Na época, a BYD divulgou que “não tolera desrespeito à lei brasileira e à dignidade humana” e que encerrou o contrato com a empreiteira.

A montadora e a duas empresas terceirizadas que trabalhavam na construção da fábrica foram processadas em ação do Ministério Público do Trabalho por suspeitas de trabalho escravo e tráfico de pessoas.

Em nota, a BYD afirmou que colabora com o Ministério Público do Trabalho e vai se manifestar nos autos.

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