/ Jul 10, 2025

Mulheres negras relatam dificuldades ao viajarem sozinhas – 09/07/2025 – Turismo

A morte da brasileira Juliana Marins, 26, em uma trilha na Indonésia, escancarou as dificuldades enfrentadas pelas mulheres que viajam mundo afora.

“Eu me vi na situação da Juliana porque eu mesma já fui deixada para trás em viagens por pessoas brancas”, relata Rebecca Aletheia, 39, empreendedora e autora do livro “EscreVIVER – Cartas de uma Viajante Negra ao Redor do Mundo”.

Juliana foi uma mulher que sonhou e que ousou colocar em prática seus sonhos, afirma Denise dos Santos Rodrigues, doutoranda em sociologia na USP (Universidade de São Paulo) e guia turística. “Ela resistiu e quebrou a lógica do trabalho, e ela fez isso sendo uma mulher negra”, diz a pesquisadora. Para Aletheia, a sociedade ainda considera que o lugar da mulher negra é o trabalho.

Além de sofrer julgamentos machistas, as negras que viajam sofrem com o racismo, segundo Rodrigues. Em sua pesquisa, ela estuda a cultura negra no campo do turismo na cidade de São Paulo. “A primeira impressão que chega em um destino é a raça, então isso diferencia a experiência de viajar”, avalia a pesquisadora.

Em uma viagem pela Turquia, dois adolescentes pediram para tirar uma foto com Rodrigues em um passeio por uma mesquita. Na hora, ela estranhou, mas eles foram gentis e ela tirou a foto. “Só anos depois, pesquisando sobre racismo, percebi que isso aconteceu porque eu era a única pessoa negra ali”, relembra.

Em Buenos Aires, Amanda Costa, 31, passou por uma situação que também demorou para classificar como racismo. “Eu estava tirando fotos em um ponto turístico e um segurança me disse que eu não podia. Quando parei para pensar, ninguém à minha volta ninguém era como eu. Todo mundo ali era branco”, relembra a jornalista. “Foi a primeira vez que vivi algo assim, de uma forma tão explícita, e não soube lidar”, conta.

Costa também tem boas memórias e histórias de viagem solo. Mas não é incomum entre mulheres relatos de assédio em viagens e, entre as negras, de racismo. “Os negros às vezes não são reconhecidos como turistas e, especialmente as mulheres, são julgadas como prestadoras de serviço”, afirma Rodrigues. “O turismo ainda é elitista.”

A percepção da especialista e de viajantes é de que as mulheres negras são minoria entre quem viaja. “Elas têm os menores salários e precisam priorizar o sustento da casa e da família, o que faz com que o turismo seja visto como supérfluo ou um sonho distante, e não como uma necessidade ou um direito”, diz Rodrigues.

Na tentativa de mudar essa ótica, Aletheia fundou o coletivo Bitonga Travel, que promove viagens para mulheres negras. O foco do negócio, além das viagens em si, é levar o público para conhecer lugares pouco usuais entre os viajantes, como países africanos.

A agência busca fomentar o afroturismo, um tipo de turismo que resgata narrativas e histórias da população negra —que também são objeto de pesquisa de Rodrigues. “O turismo ainda conta muito a história dos colonizadores, mas nunca das pessoas negras colonizadas”, diz.

Se os dados sobre mulheres viajantes ainda são incipientes, os levantamentos sobre raça entre turistas são ainda mais escassos. Utilizando dados da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) de 2017-2018, a pesquisadora Thainá Souza Santos, da USP, conclui em sua dissertação de mestrado que pessoas brancas são maioria entre os turistas, representando 54,37% das viagens nacionais a lazer, contra 44% de negros.

“Estamos tentando saber mais dados sobre esses turistas e como eles viajam, porque gênero e raça são fatores importantes para o planejamento do turismo”, diz Rodrigues.

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