“O clima é de caos”. É dessa forma que um representante dos produtores brasileiros de carne resumiu a situação atual, diante do anúncio feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% aos produtos brasileiros.
Os Estados Unidos são o segundo maior comprador de carne bovina do Brasil, só atrás da China. Atualmente, respondem por cerca de 14% da receita total brasileira de carne bovina. No primeiro semestre deste ano, as vendas para os EUA tiveram um aumento relevante, com a receita e o volume exportado mais que dobrando em relação ao mesmo período de 2024.
O volume total exportado até junho foi de 181.477 toneladas, uma alta de 112% sobre o resultado verificado no primeiro semestre do ano passado e que corresponde a cerca de um terço de todo o volume exportado pelo Brasil em 2024 para o mundo.
A receita total de exportações de carne bovina do Brasil para os EUA no período foi de US$ 1,04 bilhão, 102% acima do alcançado entre janeiro e junho de 2024., conforme dados oficiais da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes).
O preço médio praticado é de US$ 5.732 por tonelada. Uma tarifa adicional implicaria um custo extra de cerca de US$ 2.866 por tonelada, o que levaria o custo total para algo próximo de US$ 8.600 toneladas, um nível praticamente inviável frente à concorrência, segundo representantes do setor.
Questionada sobre o assunto, a Abiec, entidade que representa as principais empresas exportadoras de carne bovina do Brasil, declarou que qualquer aumento de tarifa sobre produtos brasileiros representa um entrave ao comércio internacional e impacta negativamente o setor produtivo da carne bovina.
“A Abiec reforça a importância de que questões geopolíticas não se transformem em barreiras ao abastecimento global e à garantia da segurança alimentar, especialmente em um cenário que exige cooperação e estabilidade entre os países”, declarou.
A associação afirmou que segue atenta e à disposição para contribuir com o diálogo, “de modo que medidas dessa natureza não gerem impactos para os setores produtivos brasileiros nem para os consumidores americanos, que recebem nossos produtos com qualidade, regularidade e preços acessíveis”.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou uma reunião de última hora nesta quarta-feira (9) com ministros para discutir a decisão do presidente dos Estados Unidos.
Estão presentes os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), além do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Trump concretizou sua ameaça e anunciou nesta quarta o aumento das tarifas a produtos importados do Brasil para 50%. O país, até então, tinha ficado com a sobretaxa mais baixa, de 10%, nas chamadas tarifas recíprocas, anunciadas pelo republicano em 2 de abril.
Caso não haja uma revisão do cenário, exportadores brasileiros tendem a redirecionar parte do volume para outros mercados, como China, Hong Kong, Egito e Emirados Árabes. O represamento de carne que deixaria de ser exportada também pode gerar um excedente no mercado interno, barateando os preços no Brasil.
A FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) também reagiu com preocupação sobre o assunto. Por meio de nota, afirmou que a medida “representa um alerta ao equilíbrio das relações comerciais e políticas entre os dois países”.
“A nova alíquota produz reflexos diretos e atinge o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras”, declarou a frente da bancada ruralista.
“Diante desse cenário, a FPA defende uma resposta firme e estratégica: é momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações. A FPA reitera a importância de fortalecer as tratativas bilaterais, sem isolar o Brasil perante as negociações. A diplomacia é o caminho mais estratégico para a retomada das tratativas”, afirmou a frente.