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Viajar sozinha de carona exige coragem na estrada – 09/07/2025 – Turismo

“Como você tem coragem? Isso é muito perigoso!” Sim, ser mulher e viajar sozinha exige muita coragem, inclusive para enfrentar o medo em alguns momentos. Mas a verdade é que, para quem é mulher, cruzar o país pode ser tão perigoso quanto cruzar o próprio bairro.

Falo isso da perspectiva de quem viaja sozinha e mora num carro há mais de quatro anos, tendo atravessado 11 estados brasileiros e rodado mais de 40 mil km, sempre acompanhada de Kali, minha cachorra. Já percorri longos trechos “haciendo dedo” (como dizem em alguns cantos do mundo) e compartilho aqui minhas descobertas para tornar esse tipo de viagem mais segura.

É interessante buscar suas caronas durante o dia. Se for mulher, melhor usar roupas largas e escuras, prender os cabelos e usar chapéu de palha, que também protege do sol forte. São táticas que fazem eu me sentir mais discreta e segura. Um saco, mas um fato.

Comecei a me aventurar nas boleias por aí indo de um Natal em Aracruz (ES) para o Ano Novo do Universo Paralello, festival que acontece em Pratigi, na Bahia —uma viagem de 850 km. O carro que me levava deu perda total numa enchente e, no desespero, decidi pedir carona. Foram 3 dias, mais de uma dezena de caronas, e muito perrengue. Mas cheguei.

Na época, eu parava em pontos aleatórios e ficava ali, esperançosamente dando sinal, o que estendia consideravelmente o tempo de deslocamento. Outra dica, portanto, é sempre ter papelão e canetão em mãos para fazer placas com o seu destino e agilizar a busca. É mais fácil trocar de boleia a cada 150 ou 250 km do que conseguir uma carona até um destino específico, bem mais distante dali.

Desde então, eu já cruzei a Bahia, fiz várias viagens Pernambuco adentro e fui de lá até a Paraíba e o Ceará. Na última vez, cruzei de São Luís do Maranhão para Arcoverde, no sertão de Pernambuco. Foi um bate e volta de 2.600 km para fazer uma surpresa de aniversário, com Kali me acompanhando em toda a jornada. Foi nessa viagem que descobri o grande pulo do gato das caronas: os postos fiscais, que podem ser encontrados no Google Maps buscando por “Sefaz”.

Do Maranhão ao Pernambuco, peguei nove caronas. Já na volta, depois de descobrir os postos fiscais, foram apenas três —a partir deles é mais fácil ir pingando de posto em posto até o seu destino final. No último deles, o próprio Roberto, funcionário do posto, me indicou um motorista de confiança. Não levou 15 minutos e lá estava eu indo de Teresina a São Luís. Foi tão rápido que quase recusei, só para continuar a prosa com ele.

Vale dizer que é muito mais rápido conseguir caronas nesses postos, com caminhões, do que direto nas lombadas e rotatórias das BRs, com carros. Mas quando não for possível, opte por postos de gasolina, onde você também pode ter um contato prévio com o condutor antes de topar entrar no veículo. Caso não sinta segurança, é nesse momento que você diz “Ah, você vai para esse lado? Porque eu vou para o outro” e tchau.

Os arredores dos postos fiscais concentram pernoites econômicas. Nas vezes em que peguei carona acompanhada, me senti segura para montar a barraca nos postos, tanto de gasolina quanto fiscais, o que diminui drasticamente o valor da viagem. O aplicativo iOverlander, alimentado por viajantes que se deslocam de maneiras alternativas, é um ótimo guia de locais seguros para pousar.

Brinco que essas aventuras são como um estudo antropológico. Teve a vez em que tirei cartas para Daltin e fizemos uma sessão de tarot na sua cabine. Outra em que recebi muitas orações e um saco de dim-dim do segurança da Sefaz. Também já fui confidente de dores alheias ao som do ronco ritmado do motor, afinal, não é nada fácil viver anos se despedindo da família e se submetendo a condições precárias de trabalho.

Embalada pelas memórias de estranhos que se tornaram breves espelhos, senti muito mais empatia do que medo. Ouvi segredos que só dividi com as longas estradas e o asfalto quente. E também já dei esporro em pelo menos cinco motoristas que contaram sobre suas traições e aventuras nos aplicativos de namoro, rogando para que suas esposas estivessem fazendo o mesmo.

A estrada já me sussurrou quando será a próxima aventura correndo trecho por aí, pulando de cabine em cabine. Será a travessia mais longa que já fiz. Me lanço na promessa de vento no rosto e histórias a serem escritas por aqueles que cruzarem meu estradar.

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