Meu primeiro cofre era de barro. Pesado, opaco e com aquela cara de porquinho tímido, pronto para ser quebrado com uma martelada ou simplesmente uma queda no chão. Depois vieram os de papelão com tampinha de metal — cilindros simples, mas que davam aquela sensação de estar ficando rico. O ritual era sempre o mesmo: juntar moedinhas e algumas pequenas cédulas com orgulho e, um dia, quebrar tudo para ver o “tesouro” acumulado.
Só que entre o guardar e o quebrar, vinha a tentação. Eu mesmo, quando criança, aprendi a enfiar uma faca pela fresta para tirar umas moedas escondido. Assim como muitos fazem com suas economias, eu roubava de mim mesmo. Mas naquela época era para bombons, figurinhas e outras prioridades urgentes da infância. O cofre, que deveria ensinar disciplina, acabava revelando nossa ansiedade — e a ilusão de que guardar, por si só, já era um plano.
Muita gente cresceu, mas continua pensando como criança. Trocaram o porquinho por uma conta no banco, mas o comportamento continua o mesmo: jogam o dinheiro em qual quer ativo ou no produto da vez — sem saber direito por quê, só porque “melhor do que deixar parado”, né?
Mas investir de verdade não tem nada a ver com empilhar dinheiro esperando “ver no que vai dar”. Investir é fazer escolhas. É construir um plano com objetivos definidos, prazos claros e ativos que conversem com cada uma dessas metas. O que você quer alcançar? Em quanto tempo? Quanto precisa? Com que segurança?
Investir sem direção é como correr numa esteira: você se cansa, mas não sai do lugar.
Sêneca já dizia: “Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde vai”. E em finanças, isso vale em dobro. Sem um plano, qualquer aplicação do momento parece a melhor. Mas, como um barco à deriva, você pode até se mover — só não sabe para onde está indo. Benjamin Graham, mestre de Warren Buffett, defendia que o verdadeiro investidor toma decisões racionais baseadas em análise, e não em impulsos.
É por isso que investir exige mais do que disciplina. Não é só guardar todo mês. Exige intenção. Guardar dinheiro sem objetivo é como encher o porquinho esperando que ele resolva sua vida um dia. Mas ele não vai. Ele só serve para ser quebrado — e, na maioria das vezes, antes da hora certa.
Crescer financeiramente começa por amadurecer a forma de pensar o dinheiro. Isso significa parar de tratar investimento como um simples hábito de guardar. Significa planejar com clareza, distribuir recursos conforme suas metas e revisar suas decisões sempre que o caminho mudar.
Se você ainda investe como quem empilhava moedas na infância, talvez esteja na hora de deixar o porquinho no passado. Ele era fofo. Mas você não é mais criança. Seu dinheiro não pode continuar sendo preso no cofre, mas deve começar a construir algo maior.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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