Seis anos após iniciar sua movimentação no agronegócio, a TIM pretende chegar ao final de 2026 com 26 milhões de hectares conectados, amparadas em parcerias com fabricantes de máquinas agrícolas e em busca de grandes clientes de regiões como o Matopiba e o Centro-Oeste.

A meta é considerada ambiciosa, já que a empresa chegou ao final de 2024 com 20 milhões de hectares cobertos por conexão 4G desde 2019, mas ganhou um impulso com a assinatura de um contrato com o grupo sucroenergético Pedra Agroindustrial, que cobrirá uma área de 1 milhão de hectares em Minas Gerais.

O movimento da operadora não é único: concorrentes diretos têm travado uma batalha acirrada pela renda gerada no campo, que inclui até mesmo a Starlink, do bilionário Elon Musk, que fez parceria com dois dos maiores players do mercado.

Mas, se por um lado a meta da TIM é ambiciosa, por outro há um enorme potencial de mercado: segundo a ConectarAgro, associação da qual a operadora faz parte e que abriga marcas ligadas ao agronegócio, atualmente apenas 33,9% da área disponível para uso agrícola no país tem cobertura 4G ou 5G, com maior concentração nas regiões Sudeste e Sul.

Em entrevista à Folha, o executivo Alexandre Dal Forno, diretor de IoT (internet das coisas, em inglês) e 5G da TIM Brasil, afirmou que para buscar atingir a meta no agro a empresa criou uma estrutura dedicada de venda regionalizada.

“No Matopiba tenho pessoas da região, Mato Grosso, Centro-Oeste ali, toda a parte da cana, que está em São Paulo, Triângulo Mineiro, sudoeste de Goiás. Onde tem agricultura intensiva no cerrado estaremos lá. Com pessoas do agro, que vieram do agro”, afirmou.

A busca pelos clientes dessas regiões se deve às extensas propriedades rurais, caso do Matopiba —fronteira agrícola que compreende regiões de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia— e do Centro-Oeste, e à força que o setor sucroenergético representa, com a produção de etanol, açúcar e energia.

“O produtor rural precisa investir, porque ele precisa colher mais, precisa ser mais eficiente. Na fazenda conectada, houve 25% de redução de diesel. Isso é maravilhoso. Como é que está o juro ou não está o juro? Na verdade, se ele investir, tiver redução de custo, vai ser mais eficiente. Ele vai deixar de investir para botar o dinheiro no banco? Não, porque o negócio dele é esse. Ele precisa comprar máquina, comprar terra, o negócio dele não é botar dinheiro no banco.”

Uma fazenda em Água Boa (MT) foi totalmente conectada pela TIM e a Case IH, fabricante de máquinas, e os resultados mostraram que a safra foi 7,4% superior à média regional, 7,6% acima do rendimento médio de Mato Grosso e 13,4% maior que o rendimento médio do país. A fazenda usa em tempo real a telemetria nas dez máquinas disponíveis, monitora a frota, usa drone e faz monitoramento meteorológico.

A operadora iniciou no agro em outubro de 2018 e, conta o executivo, sentiu necessidade de trabalhar o ecossistema que envolve a conexão no campo. Foi daí que surgiu, com outras empresas, a ConectarAgro —que reúne concorrentes como Agco (Massey Ferguson, Valtra e Fendt) e CNH Industrial (Case IH e New Holland), além de outras marcas como Nokia e Solinftec.

A conexão é feita por meio de uma antena 4G, que opera a frequência de 700 MHz, que ficou disponível após o desligamento gradual do sinal da TV analógica no país.

No recente acordo com o grupo Pedra, envolvendo a Usina Uberaba, está prevista a instalação de novas antenas 4G que permitirão a conexão de mais de 200 equipamentos. A usina conseguirá monitorar em tempo real máquinas e estações meteorológicas, além de beneficiar com o sinal aberto quem trafega próximo às rodovias MG-452 e MG-190.

“É uma potência aqui da região de São Paulo, 1 milhão de hectares cobertos, o que já vai ajudar a chegar nos 26 milhões projetados. Eles têm 250 mil hectares, e você vê como a questão social faz muita diferença aqui. Tenho ali mais 4.000 propriedades rurais que vão ser beneficiadas, escolas, posto de saúde.”

O objetivo, afirma o executivo, é que todo o sistema esteja em funcionamento ainda neste ano. Os 20 milhões de hectares já cobertos contemplam uma população de 1,9 milhão de pessoas e 300 mil propriedades rurais.

A operadora também fez uma parceria com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) para conectar um hub de inovação no campo em Jaguariúna, no interior paulista. O hub foi criado a partir de um edital da estatal, vencido pela empresa Impactability.

CORRIDA PELA CONEXÃO

A busca por conexão no campo é algo que tem movimentado todos os players envolvidos com o agronegócio, como fabricantes de máquinas e operadoras de telefonia.

Durante a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), que terminou no início de maio em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), Cristiano Correia, vice-presidente de sistemas de produção da John Deere para a América Latina, afirmou que a empresa, por meio de uma parceria com a Sol, já instalou mais de 200 antenas no campo. A diferença em relação à rede TIM é que ela é fechada, com acesso limitado aos contratantes.

Ainda no ano passado, a John Deere anunciou um acordo com a SpaceX, de Elon Musk, para conectar a produção agrícola brasileira por meio da rede Starlink.

A empresa tem a meta de conectar 1,5 milhão de máquinas até o final do ano que vem. Atualmente, são 775 mil conectadas.

O modem coleta os dados das máquinas, como informações operacionais e agronômicas, e os envia para um terminal satelital, que transmite as informações para a nuvem utilizando a rede de satélites Starlink.

A CNH Industrial também anunciou a assinatura de um acordo com a Starlink para levar conectividade via satélite aos agricultores que possuem tratores e colhedores New Holland e Case IH.

No início de junho, as Usinas Batatais e Cevasa, que pertencem ao mesmo grupo na região de Ribeirão Preto, anunciaram acordo com a Vivo para um projeto, também com conexão 4G, com condições de cobrir 712 mil hectares. Serão instaladas 12 antenas até o início de 2026.