A última entrevista coletiva do técnico Luis Enrique tinha acabado de terminar. O repórter Guilherme Pereira se aproximou e afirmou: “Este Paris Saint-Germain vai mudar o jeito de se jogar futebol.” É uma impressão séria e respeitável.
Modestamente, esta coluna se permite divergir.
A ideia é tão boa que exige o debate.
Há três dias, na conferência de imprensa do grupo de estudos da Fifa do qual o diretor é o francês Arsene Wenger, ex-técnico do Arsenal, o técnico espanhol Roberto Martínez deu sua opinião:
“É uma revolução? Não! É novo? Não! Mas o Paris Saint-Germain executa com perfeição todos os conceitos do futebol atual.”
Estamos falando de pressão. Também de jogo entre linhas. Também de polivalência, de trocas de posições constantes, de alargar o campo com o lateral Hakimi muito perto da linha lateral, da direita, e o georgiano Kvaratskhelia bem colado à esquerda.
“É inegociável para nós”, diz o zagueiro brasileiro Marquinhos. Ele fala sobre a necessidade de os atacantes saltarem para pressionar os zagueiros rivais assim que perdem a bola. Não é exatamente a Holanda, de 1974. É muito mais do que naquela época, porque o preparo físico permite aos jogadores correrem três vezes mais.
Mas os holandeses faziam algo que nunca havia sido feito com tanto ímpeto: roubar a bola no ataque. Os parisienses repetem o que foi feito por Rinus Michels, Johan Cruyff, Pep Guardiola, Luis Enrique.
A maior surpresa de ver o (provável) campeão mundial ao vivo, no estádio, é a quantidade de trocas de posições e como isto permite passes numa zona morta, que os treinadores apelidaram de entrelinhas.
Todos entram nesse espaço às costas dos volantes, longe dos zagueiros. Ora é Fabián Ruiz, com Dembelé e Doué. Outras vezes Nuno Mendes, com Ruiz na sua cobertura. Em outras, João Neves ou Kvaratskhelia.
“Por vezes, eles têm chance de confundir com quatro jogadores capazes de ocupar a posição de número 9”, disse o espanhol Roberto Martínez. Pode ser Dembelé, Doué, Fabián Ruiz, até o lateral-direito Hakimi entra nessa conta.
Luis Enrique foi categórico ao afirmar, após a saída de Mbappé para o Real Madrid, que o PSG deixava de ter um projeto baseado em seu craque e passava a se concentrar em todos. “Somos onze estrelas ou mais. Talvez doze, treze, catorze…”
A primeira temporada de Mbappé no Real Madrid foi a de pior campanha do maior campeão da Europa em cinco edições de Champions. Enquanto isso, o Paris Saint-Germain conquistava seu primeiro troféu do maior torneio europeu.
Luis Enrique rejeita a ideia de que vai ganhar o título de melhor treinador do ano: “Não acredito em prêmios individuais. Muito menos no caso dos técnicos.” Recusa o elogio de Futebol Total: “O maior elogio é quando nossos colegas de trabalho dizem que gostam de ver o PSG jogar.”
Não há Messi, nem Cristiano Ronaldo e isto tem dado pressa aos analistas de eleger o melhor jogador do planeta, enquanto o trono está vago. Em fevereiro, falava-se sobre Raphinha, em maio de Lamine Yamal, neste momento sobre Dembelé ou Vitinha.
A estrela da Copa do Mundo de Clubes é o futebol coletivo. O PSG é melhor sem o craque Mbappé do que era quando ele estava na escalação.