Um dos setores que estão exigindo medidas mais imediatas do governo após o anúncio de taxação de 50% pelo governo de Donald Trump a produtos brasileiros é a indústria nacional de aviação, mais especificamente a Embraer. Um dia após a notícia da sobretaxa, na última quarta (9), as ações da companhia chegaram a desabar mais de 8% na Bolsa.
Segundo o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, a medida inviabilizaria a exportação de aeronaves aos Estados Unidos. Ele diz que, neste momento, o diálogo é a única medida na mesa.
O anúncio de taxação já está afetando a movimentação nos portos?
O setor do pescado hoje é o mais afetado. Porque as cargas estavam programadas para sair, mas o translado demora em torno de 20 a 25 dias para chegar nos EUA. Então, as mercadorias já teriam taxação a partir do dia 1º [de agosto].
Nós também estamos atentos à indústria nacional de aviação. A Embraer é uma preocupação para nós. Os EUA são um dos grandes compradores de aeronaves —são mais de 1.500 aviões da Embraer que viajam pelos céus americanos. Essa taxação de Trump significa um custo a mais em torno de US$ 9 milhões por avião. Isso claramente inviabiliza a operação. Estamos discutindo internamente para buscar, por meio de diálogo, a construção de alternativas e soluções efetivas.
O que há por trás dessa taxação, na sua visão?
Foi um erro do presidente Trump misturar a relação institucional com a econômica, a relação comercial com a política. Infelizmente, Eduardo Bolsonaro está sendo muito irresponsável com o Brasil. É um desserviço o que os setores oposicionistas estão fazendo. Ficou claro que tem dedo deles. Porque, na hora em que o Eduardo grava um vídeo fazendo exigências, ficam claras as digitais deles. Mas essa não é uma oposição ao governo Lula, é uma oposição ao país, a quem produz. É uma oposição a quem gera emprego, quem gera renda, quem movimenta a economia.
Quais medidas estão na mesa sendo estudadas em reação à sobretaxa?
Ainda não tem nada definido. O que está definido agora é a busca por diálogo com os EUA.
O governo descartou a possibilidade de adotar uma política de reciprocidade?
Isso não foi colocado ainda em discussão séria. O governo agora está aguardando os próximos passos para poder fazer uma reflexão mais objetiva.
E a retaliação via tarifas sobre propriedade intelectual? Está na mesa?
Ainda não. Tem pouco tempo do anúncio, que pegou muita gente de surpresa. Estamos avaliando os próximos passos.
Há uma forte movimentação nos portos brasileiros atualmente. A taxação pode levar à diminuição do fluxo?
Temos que aguardar os próximos 10 dias para fazer uma avaliação mais profunda sobre isso. Mas acredito que vamos continuar crescendo. O setor portuário está vivendo o melhor momento da sua história. Em 2024, tivemos o melhor ano do setor.
Há possibilidade de o leilão no Porto de Santos ser afetado?
Nenhuma, não muda em nada. O leilão do Porto de Santos está preservado. A nossa expectativa é que ele será o maior da história do Brasil.
As regras do leilão, motivo de descontentamentos por retirar da disputa gigantes, podem ser modificadas?
Eu defendo a democratização do processo. Acho que quanto mais players internacionais participando, melhor, porque isso fortalece o Porto de Santos. Entretanto, nós temos que aguardar [o TCU dizer] se vai haver ou não concentração de mercado. A Antaq (Agência Nacional de Aquaviários) diz que sim.
O governador de SP, Tarcísio de Freitas, do seu partido, critica publicamente as regras atuais. Incomoda?
Eu respeito e tenho um excelente diálogo com o governador Tarcísio. Ele tem a posição dele e a Antaq tem a dela, que foi referendada por unanimidade na agência, que tem quadros indicados pelo governo anterior [no qual Tarcísio era ministro de Infraestrutura]. São quadros profundamente competentes, que têm uma posição que temos que respeitar.
RAIO-X
Silvio Serafim Costa Filho, 43
Formado em Administração de Empresas, foi vereador do Recife e deputado estadual de Pernambuco. No Executivo estadual, foi secretário de Turismo e Lazer e secretário de Governo. Destacou-se no Congresso por sua atuação nas áreas de infraestrutura, planejamento e desenvolvimento regional.