/ Jul 12, 2025

Tarifaço de 50% é insustentável para os EUA – 11/07/2025 – Mercado

Vista no conjunto, a balança comercial entre Brasil e Estados Unidos mostra forte disparidade a favor do parceiro. O mercado americano é o 2º maior comprador do Brasil, ficando com 12% das exportações brasileiras. No sentido oposto, o Brasil é o 18º vendedor para os EUA, com apenas 1% das importações americanas.

Analisado no detalhe, porém, nesse 1% estão produtos de peso no consumo final e estratégicos em cadeias produtivas, indicando que o tarifaço de 50% de Donald Trump para todos os produtos importados do Brasil inviabilizaria o fornecimento, gerando custos e prejuízos também para os americanos.

Na pauta do agronegócio, historicamente, o suco de laranja do Brasil representa de 65% a 70% das importações totais dos EUA desse tipo de produto. O Brasil também é o maior fornecedor individual de café, com importações que variam de 20% e 30%, a depender das safras. Responde ainda por 12% da oferta de açúcar de cana e por 9% da carne bovina.

Na estrutura de produção industrial, o Brasil está em pontos estratégicos de cadeias produtivas concentradas.

Responde por 37% das compras externas de celulose, insumo básico para papel, embalagens, fraldas descartáveis, por exemplo. Fornece cerca de 20% do ferro-gusa, ferro e aço, base de fabricação de uma gama ampla de produtos, como latinhas de bebidas, carros, navios e estruturas para construção civil. Está entre os cinco maiores fornecedores de aeronaves e suas peças, representado especialmente pela Embraer.

“Somos produtores internacionais muito relevantes em mercados oligopolizados, com poucos fornecedores. É questão de vantagem absoluta mesmo, que pode criar impacto direto no consumo americano”, explica Verônica Cardoso, diretora de Economia do Direito na consultoria LCA.

“Não tem minério em todo lugar, não é todo mundo que faz celulose, Embraer faz produtos específicos não disponíveis em qualquer lugar e, no caso do aço, por exemplo, o grande concorrente direto no mercado internacional é a China, que também está em disputa com os Estados Unidos.”

É complexo mexer até nos setores em que a substituição parece mais fácil. Cardoso lembra que um racional, associando preço, logística e qualidade, elegeu o produto brasileiro.

“Não é fácil homologar fornecedores ou atender questões sanitárias, existe ainda logística e frete. Então, não se faz trocas do dia para noite, e feitas, será preciso assumir consequências em termos de custo de transação”, afirma.

Cardoso afirma ainda que a substituição demanda ajustes até quando há alternativa no mercado interno. Os Estados Unidos são produtores e exportadores de petróleo, mas importam cerca de 5% do óleo brasileiro. Para fazer a troca seria necessário promover adaptações que, com certeza, vão elevar o preço. “Se fosse simples, já teriam substituído o petróleo importado pelo doméstico”, diz ela.

Em resumo, ainda que as perdas possam ser maiores para os brasileiros, perdem também os americanos.

“Possivelmente, os compradores norte-americanos consigam encontrar exportadores com preço mais interessante, mas, ainda assim, devem sentir um impacto”, explica o advogado e consultor da área de comércio internacional Felipe Rainato, do escritório Hondatar, que atende entidades e indústrias.

Rainato reforça que Trump tenta passar a mensagem de que a reindustrialização americana passa pelo choque de tarifas, uma concepção clássica de proteção de mercado, mas controversa e com efeitos já conhecidos.

“Seria até presunçoso da minha parte dizer que o consumidor americano vai pagar com o bolso dele, mas a tendência de qualquer política protecionista num mundo muito globalizado como o nosso é essa —o produto se torna mais caro, e o custo é invariavelmente absorvido pelo mercado interno.”

Essa questão, lembram especialistas, é um elemento importante para se colocar na mesa nos próximos meses.

Diplomata de carreira e experiente negociador do Brasil em assuntos econômicos, José Alfredo Graça Lima reforça que os produtos estratégicos da pauta de exportação são trunfos para o Brasil e seus parceiros dentro do mercado americano. Empresas locais insatisfeitas já fizeram Trump recuar.

Em abril, depois de sobretaxar smartphones, computadores e outros eletrônicos importados, o governo Trump voltou atrás e colocou esses itens numa lista de exceções para não prejudicar empresas do setor de tecnologia, que fabricam fora dos Estados Unidos e importam também componentes.

“É certo que jogaram a bomba aqui no nosso quintal, gerando quase pânico no governo e em setores que temem perder um mercado tão importante, pois essa tarifa de 50% inviabiliza o comércio”, diz Graça Lima, que atua como vice-presidente do Conselho Curador do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais).

“Mas não podemos esquecer que os importadores americanos devem estar muito chateados, até porque quem pagará essas tarifas serão eles.”

Independentemente do desfecho dessa e outras discussões tarifárias, a avaliação é que o legado de Trump tem forte potencial corrosivo para as relações com os Estados Unidos.

“Não há como saber o que move suas decisões. Na tarifa de 50%, Trump mistura o tema do comércio internacional, a ameaça do Brics, a defesa das empresas de tecnologia e pede o fim do julgamento de Bolsonaro”, diz Marta Castilhos, professora de Comércio Internacional no Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Indústria e Competitividade.

“No fim, ele cria incertezas para a economia global e mina a confiança dos empresários, o que tende até a comprometer decisões de investimentos.”

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