A reforma tributária está levando as empresas a uma reavaliação de suas cadeias de suprimentos e estratégias de precificação.
Um trabalho realizado por uma empresa de capital aberto do setor de serviços, por exemplo, apontou inicialmente um aumento de custos de 8% com o novo sistema, mas que poderia ser neutralizado a partir de um trabalho junto a fornecedores e do aproveitamento dos novos créditos tributários.
A análise revelou que, do universo de quase 2.000 fornecedores, aproximadamente 60% teriam um aumento na carga tributária de seus produtos ou serviços, enquanto 40% veriam uma diminuição após a reforma.
Rene Ivan Saracho, executivo da área de tributos que participou do estudo, afirma que a empresa realizou uma seleção de fornecedores por valor e importância. Cerca de 38 empresas-chave, que representam 55% da linha de custos, foram abordados inicialmente.
A meta é garantir que a cadeia de suprimentos também ajuste seus preços dentro do previsto. Ou seja, negociar para que os aumentos estejam dentro do limite esperado pela contratante e que as reduções sejam integralmente repassadas.
Nesse segundo caso, evitando o chamado “efeito Black Friday”, onde as empresas alteram preços para simular um desconto que não existe. Segundo ele, falar com todo mundo é impossível, mas esse é um trabalho que ainda pode ser expandido até a implantação do novo sistema.
Saracho afirma que é possível manter o preço final para o cliente, mesmo sabendo que a carga tributária vai ser maior, desde que se faça uma gestão estratégica na parte de custos, focando principalmente no trabalho em conjunto com toda a cadeia de suprimentos. “O sucesso da reforma para a empresa depende do sucesso de seus parceiros”, afirma.
O trabalho mostrou que é necessária uma atenção especial às empresas do Simples Nacional. Aquelas que atuam predominantemente como fornecedores de bens ou serviços para outras empresas podem ganhar competitividade ao migrar para o novo regime em relação aos impostos sobre consumo, com direito a créditos que garantem a desoneração dos seus insumos. Empresas de menor porte no meio da cadeia que não aderirem, por outro lado, podem perder competitividade e deixam de ser interessantes em termos de preços.
Uma das coisas que tornou possível tal trabalho é que a empresa analisada já possuía um projeto de transformação digital iniciado em 2022, que consistia na criação de um banco de dados unificado com todas as informações tributárias, o que lhe deu uma vantagem significativa para tentar antecipar os efeitos da reforma. À mão, com planilha, você nunca vai fazer, diz o especialista.
Um desafio destacado por vários tributaristas é a necessidade de se trabalhar com os preços sem tributos no novo sistema. Juliana Porchat de Assis, sócia da área Consultoria e Planejamento Tributário do FAS Advogados, afirma que o escritório já está ajustando a apresentação de seus preços, separando o valor dos tributos atuais, para familiarizar os clientes com essa nova lógica. “Estamos migrando para um outro sistema, em que o tributo vai ser creditável, e que demanda uma educação entre fornecedores e clientes para que não se entenda que esse é um aumento que precisa ser absorvido.”