Você pagaria mais de R$ 1.500 por mês por algo que só vai começar a usar em 13 anos — e que talvez mude a regra antes desse prazo e nem tenha direito? Essa é a dúvida de um leitor, mas também de muitos brasileiros que chegam aos 50 anos com uma longa carreira formal e se veem diante de uma bifurcação: continuar contribuindo para o INSS pelo teto… ou reduzir o valor ao mínimo e investir a diferença?
Esse é o caso de um leitor, mas a história é comum: ele contribui com o teto do INSS desde 1997 e já acumula 28 anos de pagamentos no valor máximo. Aos 52 anos, ainda faltam cerca de sete anos para completar os 35 anos de contribuição e, pelas regras atuais, algo em torno de 13 anos para atingir a idade mínima para aposentadoria. A dúvida é legítima: ele foi demitido e se não conseguir outro emprego e, assim, deixar de ser CLT, vale continuar pagando o teto por conta própria ou basta contribuir com o mínimo?
Pelas regras, o valor da aposentadoria é de 60% da média de todos os salários desde 1994, acrescidos de 2 pontos percentuais por ano que ultrapasse 20 anos de contribuição. Com 35 anos, o valor final será 90% da média salarial. Todos os salários entram na conta, inclusive os menores.
Se o leitor seguir contribuindo com o teto pelos próximos 13 anos, seu benefício tende a se manter próximo ao teto do INSS, hoje é proximo de R$ 8.000. Como ele já tem 28 anos de contribuição no teto, manter essa média o ajudaria a se aposentar recebendo 90% do teto ou cerca de R$ 7.200 mensais. Para isso, teria que desembolsar pouco mais de R$ 234 mil em contribuições até lá, ou seja, cerca de R$ 1.500 mensais.
Se optar por pagar o mínimo, contribuiria cerca de R$ 200 por mês — um total de R$ 31 mil em 13 anos. Mas isso reduziria bastante a média salarial, e o benefício poderia cair para cerca de R$ 5.000, dependendo da proporção de contribuições menores.
Ou seja: pagar R$ 203 mil a mais para ter uma aposentadoria mensal de cerca de R$ 2.000 maior. Faz sentido? Depende.
Se ele investir a diferença mensal em uma carteira conservadora com rendimento real de 6% ao ano, teria mais de R$ 300 mil ao final do período. Isso permitiria gerar uma renda vitalícia de cerca de R$ 1.800 mensais, corrigida pela inflação. Somada ao benefício reduzido do INSS, essa renda equivale ao valor da aposentadoria caso tivesse contribuído pelo teto.
E há um ponto a mais: a incerteza sobre o futuro da Previdência. O déficit da Previdência projetado na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) é de R$ 328 bilhões em 2025. Uma nova reforma é quase inevitável, com riscos de aumento na idade mínima, redução dos benefícios e revisão de regras. Quem ainda tem mais de dez anos até a aposentadoria carrega esse risco.
Essa decisão não é apenas financeira — é comportamental. O leitor quer algum grau de previsibilidade, se é que dá para ter com o INSS, ou prefere autonomia? Suposta segurança ou liberdade? Mas, principalmente: teria disciplina para investir a diferença?
A escolha errada não é a que rende menos dinheiro, e sim a que ignora seu estilo de vida e o que espera da aposentadoria. E agora, em quem você apostaria seu dinheiro: em sua disciplina de poupar ou na esperança de que as regras do INSS não mudem?