O dólar abriu em estabilidade na manhã desta terça-feira (10) ante o real, conforme os investidores aguardam detalhes sobre as medidas do governo para compensar mudanças no IOF, enquanto seguem de olho nas negociações comerciais entre Estados Unidos e China, em Londres, que entram no segundo dia.
Às 9h04, o dólar à vista subia 0,09%, a R$5,5675 na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,09%, a 5,590.
Na segunda (9), o dólar fechou em queda pela terceira sessão seguida e renovou o menor valor de fechamento do ano, de R$ 5,561, um recuo de 0,13%.
É a menor cotação para a moeda desde 8 outubro do ano passado, quando encerrou em R$ 5,532. Em 2025, o dólar acumula perdas de 9,98%.
O dia foi marcado pelo anúncio do ministro Fernando Haddad (Fazenda) de recuar das alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e pelo encontro de autoridades dos Estados Unidos e da China para debater a guerra comercial que os países travam.
Às 9h07, logo após a abertura do mercado à vista de câmbio, o dólar atingiu a cotação mínima de R$ 5,552, um recuo de 0,30%. Mas passou a subir diante do noticiário sobre as medidas, chegando a R$ 5,598, na máxima do dia, uma alta de 0,52%, às 10h29.
Ao longo da sessão, porém, passou a desacelerar alta e inverteu o sinal, encerrando com queda leve. Investidores evitaram se posicionar em uma direção específica até que fique mais claro o efeito do pacote do governo sobre os ativos financeiros e as contas públicas.
Já a Bolsa encerrou com queda de 0,29%, a 135.699 pontos, com Petrobras e outras blue chips, como Itaú e Bradesco, entre as maiores perdas. Mais cedo, o índice recuou mais de 1%, chegando aos 134.118 pontos na mínima do pregão. No melhor momento, bateu nos 136.105 pontos.
No domingo (8), Haddad se reuniu com líderes de partidos e anunciou que chegou a um acordo para diminuir o alcance do decreto com mudanças no IOF e adotar novas medidas para compensar a perda de arrecadação.
As medidas anunciadas foram o aumento da taxação de apostas esportivas, mudança na tributação de instituições financeiras e a cobrança de Imposto de Renda de 5% sobre títulos atualmente isentos, como LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito Agrícola). Segundo três parlamentares, Haddad também citou na reunião uma mudança na alíquota de JCP (Juros sobre Capital Próprio).
As medidas serão adotadas com a edição de uma MP (Medida Provisória). Haddad disse que vai discutir os detalhes desse plano com o presidente Lula (PT) nesta terça, após o retorno do presidente ao Brasil.
Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos, avalia com cautela o real impacto das mudanças propostas. Para ele, a discussão esbarra em desafios estruturais de longo prazo.
“Fica muito difícil fazer qualquer conta de se essas medidas compensam a redução do IOF e se ajudam no pacote fiscal. Acho que tudo isso é cortina de fumaça para um problema muito mais sério do fiscal, que é cortar gasto. Enquanto ficar tentando só arrumar formas de arrecadar mais, o problema do fiscal de longo prazo continua existindo”, disse Rodrigo Marcatti economista e CEO da Veedha Investimentos.
Nesta segunda, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse não conseguir garantir que o Congresso aprovará as medidas de compensação ao aumento do IOF apresentadas pelo governo federal na véspera.
Durante toda a semana passada, investidores manifestaram expectativa com o resultado da reunião de membros do governo com os parlamentares, em meio à percepção de que o anúncio de Haddad e sinais de maior articulação entre Executivo e Legislativo na pauta fiscal poderiam levar a um maior otimismo com os ativos brasileiros.
Os recuos no projeto original do IOF, que havia repercutido mal em parte do mercado e entre parlamentares, têm sido, em geral, bem recebidos.
“O governo conseguiu alinhar uma comunicação diferente em relação ao que vimos duas semanas atrás. No dia do anúncio da alta do IOF, veio junto com uma política de corte de gastos. O que então, teoricamente deveria ter sido positivo, acabou tendo o efeito contrário no mercado”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
“Então, a partir do momento em que o governo consegue articulação com o Congresso, mantendo a pauta de equilíbrio fiscal, a reação é sempre boa”.