O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aceitou nesta quinta-feira (12) a entrada da Minerva como terceira interessada no processo que analisa a incorporação da BRF pela Marfrig.
Em petição protocolada nesta terça (11), a Minerva afirma que vê riscos concorrenciais na operação e defende a reabertura da análise do ato de concentração para avaliar demais impactos no mercado de processados de carne.
A entrada da rival no processo ocorre a uma semana da aprovação definitiva da fusão, marcada para 15 dias após o aval da Superintendência-Geral do Cade, caso não haja manifestação de membro do Tribunal da autarquia ou interposição de recursos. O prazo agora foi estendido em mais 15 dias.
Assembleia dos acionistas da Marfrig vai deliberar sobre a fusão na próxima quarta (18).
Na petição, a Minerva afirma que a integração vertical entre a fornecedora Marfrig e a produtora de processados BRF vai afetar o setor de compra de carne como um todo, já que a BRF chegou a deter participação de mercado superior a 50%.
A Minerva também solicitou uma consulta às participações das rivais no mercado de hambúrgueres, almôndegas e quibes no segmento de foodservice (alimentação fora de casa) e aos produtores de carne bovina.
O presidente do Cade, Alexandre Cordeiro Macedo, disse na decisão que a empresa demonstrou ser agente econômico diretamente afetado pela operação.
“A pertinência entre os argumentos apresentados e o objeto do ato de concentração é inequívoca, tratando-se de temas concorrenciais centrais à análise da operação, como estrutura de mercado, alinhamento de incentivos e possibilidade de fechamento de mercado”, afirmou Macedo
Procuradas, a Marfrig e a BRF não comentaram.
No texto, a Minerva também destaca riscos concorrenciais decorrentes da presença simultânea da Salic, fundo da Arábia Saudita, no seu próprio capital e no da Marfrig, o que poderia comprometer a rivalidade no setor e permitir alinhamento estratégico entre concorrentes.
“A presença comum da Salic nos dois concorrentes pode potencializar práticas coordenadas como uniformização de estratégias comerciais e alinhamento de preços, reduzindo significativamente a concorrência efetiva, com prejuízos potenciais tanto para fornecedores quanto para consumidores finais”, afirma a Minerva na petição.
Em meados de maio, a Marfrig anunciou o plano de incorporar as ações da BRF não detidas pela companhia, formando a MBRF, uma empresa global do setor de carnes e alimentos processados com receita de R$ 152 bilhões consolidada em 12 meses.
A BRF é a maior produtora brasileira de frango e dona das marcas Sadia e Perdigão. Com a operação, a empresa vai se tornar uma subsidiária integral da Marfrig, que tem foco em carne bovina e parte de suas operações nos Estados Unidos e no Brasil. A Marfrig já possui 50,49% de participação na BRF.
A transação prevê uma relação de troca de 0,8521 ação da Marfrig por cada ação da BRF detida, considerando já uma “distribuição máxima” de proventos pelas companhias, sendo R$ 2,5 bilhões pela Marfrig e R$ 3,5 bilhões pela BRF.