A maior empresa de petroleiros com capital aberto do mundo está recusando novos contratos para navegar através do Estreito de Ormuz, entre o Irã e Omã, após o ataque de Israel ao Irã, declarou seu CEO.
A decisão de Lars Barstad, da Frontline, é um dos primeiros sinais da ampla disrupção nos padrões globais de transporte marítimo esperada após o início do conflito na sexta-feira (13).
As preocupações concentram-se nos movimentos pelo o estreito corredor de água que conecta o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã e, em seguida, ao Mar da Arábia.
Cerca de um quarto do petróleo mundial e um terço da produção de gás natural liquefeito passam pelo estreito. É também uma rota vital para navios porta-contêineres com destino ou origem no polo logístico de Jebel Ali, em Dubai.
Barstad afirmou que “extremamente poucos” armadores, incluindo a Frontline, estão aceitando fretes para entrar na região.
“Não estamos contratando para entrar no Golfo,” disse Barstad. “Isso não está acontecendo agora.”
Outros especialistas em segurança marítima confirmaram que os donos de navios estão relutantes em usar essa via vulnerável.
Barstad acrescentou que a empresa tem vários navios já dentro do Golfo, que sairão pelo Estreito de Ormuz com esquemas de segurança reforçados e escolta de marinhas internacionais.
“O comércio vai se tornar mais ineficiente e, claro, segurança tem um custo”, afirmou.
O Irã tem capacidade de causar grande disrupção no tráfego marítimo pelo estreito. Teerã também pode estimular os rebeldes Houthis do Iêmen, que apoia, a intensificar ataques contra embarcações internacionais no Mar Vermelho.
Em abril de 2024, a Guarda Revolucionária do Irã apreendeu o cargueiro MSC Aries perto do Estreito de Ormuz e forçou a tripulação a navegar até águas iranianas. O navio era de propriedade da Gortal Shipping, empresa ligada à Zodiac Maritime, controlada pela família israelense Ofer.
Os ataques dos Houthis, iniciados no final de 2023, já forçaram muitas grandes companhias de navegação a evitar a rota tradicional entre Ásia e Europa via Canal de Suez, optando por contornar o Cabo da Boa Esperança.
Corretores de seguros relataram na sexta-feira um aumento de 20% nas taxas para cargas pelo Mar Vermelho, reflexo do maior risco de ataques com drones, mísseis, pirataria e outros perigos relacionados.
Segundo um corretor do setor, esse aumento se deve à ameaça crescente de ataques dos Houthis a navios comerciais. Nesta semana, Israel bombardeou alvos na cidade portuária de Hodeidah, em área controlada pelos Houthis no Iêmen.
Peter Sand, analista-chefe da empresa de dados logísticos Xeneta, disse que o agravamento do conflito torna improvável o retorno dos navios porta-contêineres à sua rota normal em grande escala.
As companhias de navegação de contêineres — que transportam principalmente produtos manufaturados — têm sido especialmente relutantes em cruzar o Mar Vermelho.
Sand acrescentou que haveria “inevitáveis disrupções e congestionamentos portuários” se as linhas de navegação deixassem de usar Jebel Ali como centro logístico e passassem a utilizar portos menos equipados fora do Golfo.
Ele também sugeriu que o Irã poderia impor um “fechamento de fato” do Estreito de Ormuz.
No entanto, Barstad não acredita que o Irã vá fechar completamente a passagem, devido à sua forte dependência da receita do petróleo:
“Eles não têm interesse em prejudicar o próprio cofrinho”, disse Barstad.
Contudo, ele afirmou que o Irã pode ter dificuldades para manter seus volumes normais de produção de petróleo após o ataque. Isso poderia forçar importadores como a China, que dependem do petróleo iraniano, a buscar novos fornecedores, favorecendo empresas como a Frontline, que operam dentro das normas internacionais.
Para contornar sanções, as exportações do Irã utilizam uma “frota fantasma” de navios não conformes com as regras internacionais. Porém, compradores precisarão recorrer a fontes confiáveis e transportadoras regulares, afirmou Barstad.
As ações da Frontline subiram 7,5% em Nova York na sexta.