A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) afirma que o Censo Agropecuário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) deve ser tratado como “prioridade de Estado” e diz que o impasse sobre a liberação de verba para a pesquisa gera “grande preocupação”.

A coleta das informações está prevista para 2026, mas o IBGE confirmou neste mês que ainda não tem orçamento para iniciar os testes necessários até o final de 2025.

O Censo Agropecuário faz um mapeamento detalhado das condições dos produtores rurais no país. A edição mais recente é relativa a 2017, quando o IBGE contabilizou 5,1 milhões de estabelecimentos do setor.

O argumento da CNA é que, de lá para cá, o campo passou por importantes transformações, com avanços tecnológicos, mudanças no perfil dos produtores e alterações na ocupação do território.

Assim, a atualização dos dados seria essencial para identificar de forma mais assertiva oportunidades de negócios e desafios.

“A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil avalia com grande preocupação a indefinição orçamentária que ameaça o cronograma do Censo Agropecuário”, afirma a entidade em nota enviada como resposta a questionamentos da Folha.

A manifestação é assinada por Isabel Mendes, assessora técnica da CNA.

“A pesquisa está prevista para ser realizada em 2026 e, para isso, é fundamental assegurar recursos ainda em 2025 para despesas essenciais, como o desenvolvimento de sistemas, aquisição de equipamentos de tecnologia da informação e comunicação, treinamento de pessoal e ações de comunicação”, diz.

“A indefinição e o possível atraso na liberação de recursos comprometem essa etapa preparatória, podendo inviabilizar a coleta de dados no prazo adequado”, acrescenta.

Em entrevista no dia 6 de junho, o diretor de pesquisas do IBGE, Gustavo Junger, afirmou que a intenção do órgão seria iniciar os testes em novembro de 2025, mas reconheceu que a etapa ainda depende da liberação de recursos.

“A gente está aguardando, mas segue com todos os outros trabalhos de desenvolvimento de sistema, de aplicativo de coleta, preparação para treinamento”, afirmou na ocasião.

O IBGE está vinculado ao MPO (Ministério do Planejamento e Orçamento). Consultada pela Folha no início deste mês, a pasta disse que tem feito esforços, dentro dos seus limites, para viabilizar o Censo Agropecuário junto ao Congresso, mas reconhece que “o principal entrave” ainda é a necessidade de suplementação orçamentária.

De acordo com o MPO, em 2025, foi levada à JEO (Junta de Execução Orçamentária) a demanda do instituto de R$ 649,6 milhões.

A pasta também afirmou que, segundo o IBGE, o valor total estimado para as atividades do Censo Agro, no período de 2025 a 2028, é de cerca de R$ 2,9 bilhões.

“No entanto, na última avaliação bimestral de receitas e despesas foi identificada a necessidade de contenção orçamentária e financeira de R$ 31,3 bilhões”, afirmou o MPO. Desse modo, acrescentou a pasta, ainda está pendente o atendimento aos recursos demandados pelo IBGE.

Ao defender o Censo Agro como “prioridade de Estado”, a CNA diz que atua junto ao instituto, ao MPO e à Frente Parlamentar da Agropecuária para tentar garantir a verba.

“O adiamento do Censo prejudica não apenas o setor agropecuário, mas compromete o país como um todo, especialmente em um momento em que o Brasil busca ampliar sua liderança global em temas como segurança alimentar, energia renovável e agricultura de baixo carbono”, afirma a entidade.

Na visão da confederação, os dados do IBGE são fundamentais para formulação de políticas públicas, planejamento territorial, obras de infraestrutura, monitoramento do desenvolvimento socioeconômico na área rural e realização de estudos acadêmicos.

O instituto vive uma crise interna que explodiu no segundo semestre de 2024. A situação ficou marcada pelo atrito entre o quadro de servidores e a gestão do órgão.

O economista Marcio Pochmann tomou posse como presidente do IBGE em agosto de 2023. Ele foi indicado ao cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).