/ Jun 28, 2025

Selic alta encarece crédito e eleva inadimplência no país – 18/06/2025 – Mercado

O ciclo de alta da Selic, iniciado em março de 2021 e mantido nesta quarta (18) pelo Banco Central com a elevação da taxa para 15% ao ano, tem impacto direto nas operações de crédito bancário, reduzindo a oferta de financiamentos, encarecendo os empréstimos e contribuindo para o aumento da inadimplência em diversas modalidades, sobretudo nas linhas voltadas às famílias, segundo analistas ouvidos pela Folha.

A Selic serve de referência para o custo de captação dos bancos e instituições financeiras. Na prática, juros mais altos tornam o crédito mais caro e escasso —tanto para o consumidor que pretende financiar um bem quanto para o empresário que busca capital de giro.

Segundo a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), a escalada da Selic elevou a taxa de juros média para pessoa física de 92,59% ao ano em janeiro de 2021 para 124,71% ao ano em maio de 2025. Modalidades populares como cartão de crédito rotativo, empréstimo pessoal e cheque especial foram especialmente impactadas.

O rotativo do cartão, por exemplo, atingiu uma taxa média de 448% ao ano, o que levou o governo a implementar um teto de 100% sobre o valor da dívida. Ainda assim, o uso dessas linhas cresceu diante da perda de poder de compra e da dificuldade de acesso a modalidades mais baratas.

“Esses produtos sem garantia, como cartão de crédito e cheque especial, são os que mais sofrem com o aumento da Selic. A inadimplência acaba sendo uma consequência natural desse cenário”, afirma Jorge Azevedo, especialista em crédito e riscos.

Cálculos da Anefac mostram tendência de alta dos juros nos últimos 12 meses encerrados em maio com os custos das operações significativamente mais elevados do que a taxa básica de juros da economia.

TAXA BÁSICA X JUROS COBRADOS – PESSOA FÍSICA











Linha de crédito Juros ao ano Variação em relação à Selic
Juros do comércio 87,54% 493,49%
Cartão de crédito 448,01% 2.937,36%
Cheque especial 151,26% 925,49%
Financiamento de veículos 28,32% 92%
Empréstimo pessoal bancos 60,10% 307,46%
Empréstimo pessoal financeiras 130,32% 783,53%
Taxa média 124,71% 745,49%

TAXA BÁSICA X JUROS COBRADOS – PESSOA JURÍDICA








Linha de crédito Juros ao ano Variação em relação à Selic
Capital de giro 25,93% 75,80%
Desconto de duplicatas 25,05% 69,83%
Conta garantida 151,54% 927,39%
Taxa média 59% 300%

Dados da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) mostram que mais de 72 milhões de brasileiros estão inadimplentes, com forte concentração entre os que ganham até dois salários mínimos.

No mesmo período, o crédito para empresas, especialmente para capital de giro, também encareceu, e concessão, desacelerou. A taxa média dessas operações passou de 17,8% para 26,9% ao ano.

Caio Tonet, diretor de operações da W1 Capital, afirma que o crédito para capital de giro e antecipação de recebíveis tende a desacelerar ainda mais. Para ele, a manutenção do patamar alto da Selic por meses pode ainda levar a um pico de inadimplência no segundo semestre, pois o custo do crédito se torna insustentável para quem já possui alta alavancagem.

Ele conta que os bancos vêm adotando postura mais conservadora. “Selic alta é o remédio amargo que estamos tendo que tomar por conta de uma política fiscal questionável e inflação fora da meta”, diz.

O aperto é sentido com mais força por empresas de médio porte, que, segundo Azevedo, têm estrutura suficiente para não pararem as atividades, mas não possuem o fôlego das grandes corporações nem a flexibilidade dos pequenos empreendedores.

“Empresas médias precisam continuar operando, pagar salários e aluguel. Elas são as mais expostas em cenários de incerteza”, diz.

Para Paula Reis, economista do DataZAP, a alta de 0,25 na Selic tende a impactar o mercado imobiliário, uma vez que o valor da taxa influencia o custo de operações de empréstimos e torna a aquisição do imóvel mais custosa, dificultando o acesso das famílias brasileiras à casa própria.

No setor automotivo, os financiamentos se tornaram menos acessíveis. A exigência de entrada aumentou, os prazos foram reduzidos e os juros subiram. De acordo com a Fenabrave (Federação Nacional Distribuição Veículos Automotores), cerca de 60% das vendas de veículos no país dependem de algum tipo de crédito —e o setor registrou queda de 18% nos financiamentos desde 2022.

Gabriel Jacques, CEO da Ibratan, alerta para o risco dessa desaceleração afetar o ritmo de crescimento da economia e, consequentemente, o mercado de trabalho. “Para o dia a dia, a mensagem é clara: cautela no uso do crédito, priorização das dívidas mais caras e busca por planejamento financeiro para atravessar este período de juros mais altos”, afirma.

André Matos, CEO da MA7 Negócios, diz não ter dúvida de que a pressão sobre o consumidor vai aumentar no curto prazo, mas que vê um cenário “bastante otimista e promissor para a economia brasileira”, com o PIB, a inflação e as exportações superando as expectativas.

Notícias Recentes

Travel News

Lifestyle News

Fashion News

Copyright 2025 Expressa Noticias – Todos os direitos reservados.