/ Jun 26, 2025

Há uma histeria na transição energética, diz CEO – 21/06/2025 – Painel S.A.

Ex-secretária de Economia do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, Cristiane Alkmin Schmidt hoje comanda a MSGás, distribuidora estatal do Mato Grosso do Sul, a maior do Centro-Oeste. Lá ela vive um dos problemas que tentou combater quando foi conselheira do Cade: o monopólio da Petrobras no mercado de gás.

Em 2019, no governo Jair Bolsonaro, a estatal decidiu assinar um acordo com o órgão antitruste e vender seus braços de transporte e distribuição. A medida foi revista no governo Lula e, em 2024, a Petrobras voltou atrás.

A executiva critica a medida, que afeta diretamente a gestão da companhia e diz que esse legado ajuda a manter os preços elevados. Ela defende a construção de termelétricas como saída para estimular o mercado e servir para garantir a segurança energética do país diante da incapacidade de eólicas e solares de entregarem energia firme ao sistema.

É a favor da redução do uso dos combustíveis fósseis?

Existe uma certa histeria na transição energética. O Brasil não é tão poluente quanto o restante do mundo e é muito claro que temos uma matriz elétrica e energética limpa. Podemos sempre melhorar, mas não de qualquer forma e a qualquer custo.

Como seria isso?

A gente precisa fazer as coisas aos poucos, pensando no custo, porque quem paga a conta não quer que ela seja tão alta.

O que é urgente, então?

Pensar na segurança energética, porque hoje o que a gente tem pode ser um problema futuro, com essas energias intermitentes. Já é um problema. Há grandes desafios e eles estão postos. A gente tem que explorar o petróleo. Se o mundo está demandando petróleo até 2050, temos de aproveitar esse ‘boom’.

Mas a senhora comanda uma empresa de gás natural.

A gente tem que fazer uma matriz complementar, não tem que pensar em transição necessariamente. Agora, o que a gente pode fazer é, por exemplo, trocar algumas fontes por outras. Por exemplo, carvão e diesel poderiam ser alijados. E acho que aí entraria o gás natural, que, ainda que seja um combustível fóssil, é menos poluente do que essas duas. Futuramente, quando o custo estiver bom, o gás natural seria substituído pelo biometano. Não adianta querer empurrar à força, com o custo lá em cima, porque também não tem quem pague.

O governo quis abrir o mercado de gás com o novo marco legal. Funcionou?

Teve um up [alta]. Em 2022, o mercado, dominado pela Petrobras, começou a ser um pouquinho modificado com a entrada de novos players [competidores].

A Petrobras rompeu o acordo assinado com o Cade que a obrigava a vender suas empresas de transporte e distribuição de gás. Isso atrapalhou?

Quando fui do Cade, pedimos a desverticalização da Petrobras e, hoje, vejo como acertada aquela decisão. Ela foi revertida, mas muitas das privatizações não. Teve, no transporte, a venda da TAG e a da NTS. Quando chegou a vez da TBG [dona do Gasoduto Brasil-Bolívia], o Cade voltou atrás. Isso ainda é um problema, porque você tem uma empresa monopolista na produção. Ela escoa, processa e transporta, via TBG.

O que, então, atrai as novas empresas?

O potencial do mercado. Há players importando GNL [gás liquefeito] não só da Argentina, mas de outros países, chegando por navios. Ainda é uma proporção pequena, mas já estão conseguindo fazer com que o preço da molécula caia, porque a Petrobras está vendo a competição chegar e ela mesma está diminuindo o preço para não perder esse mercado.

Como ganha dinheiro em um mercado ainda sem escala?

A TBG passa pelo Mato Grosso do Sul e conseguimos a molécula um pouco mais barata. Porque a gente tem contratos não só com a Petrobras, mas com outras comercializadoras.

As empresas que compraram os braços de transporte da Petrobras reclamam que herdaram contratos muito caros. Essa conta dura muito ainda?

São os chamados contratos legados, que estavam vigentes e incorporaram um preço muito elevado. Esta é uma das razões para termos um preço maior do que deveria. A gente não pode simplesmente rasgar esse contrato e diminuir o preço. Acho que isso é um dano para o mercado muito maior do que você esperar terminar o contrato legado. O regulador falhou aí. Deveria, lá atrás, ter observado. Mas esses contratos estão vencendo. No nosso caso, um termina em 2026.

Qual o peso de uma termelétrica no seu negócio?

Um terço da nossa capacidade vai para a termelétrica. Com essas novas agora, desse leilão de capacidade, vai aumentar a demanda por gás. A maior indústria hoje no Mato Grosso do Sul consome 300 mil metros cúbicos de gás por dia. Uma termelétrica oscila entre 1 milhão e 2 milhões de metros cúbicos por dia. Uma usina dessa puxa e dá estabilidade.


RAIO-X

Rio de Janeiro, 1971 — Doutora em Economia (EPGE/FGV), foi secretária-adjunta de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (2000-2003), conselheira do Cade (2015-2018) e secretária de Economia de Goiás (2019-2023). No setor privado, atuou na Embratel e na Itaú Asset. No Banco Mundial e na ONU, prestou consultorias.


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