Aristóteles dizia que a decisão é o momento em que o futuro depende da nossa razão. Mas, quando o assunto é investimento, a razão muitas vezes é sufocada pela emoção —especialmente pela frustração de imaginar o que poderia ter sido.
O investidor é, por essência, um ser condenado à dúvida e à culpa. Aplicamos nosso dinheiro em um ativo, acompanhamos sua trajetória e, inevitavelmente, nos deparamos com aquele outro investimento que não escolhemos —e que rendeu muito mais. Surge o pensamento traiçoeiro: “Ah, se eu tivesse colocado ali…”
Só que esquecemos: o caminho alternativo, tão encantador visto do presente, também teria suas dores. As noites mal dormidas nas quedas, o medo de estar errando, a tentação de desistir no meio do caminho. É fácil aceitar a volatilidade quando se conhece o final feliz. Difícil é viver cada susto, sem garantias.
Esse sentimento não é exclusivo do mercado financeiro. Jean-Paul Sartre escreveu que somos definidos pelas escolhas que fazemos —mas também assombrados pelas que deixamos de fazer. O que não vivemos parece sempre mais glorioso. E, por não termos sentido as angústias de outra escolha, ela nos soa mais leve do que realmente seria.
Na prática, isso nos ilude. A dor que sentimos com o nosso investimento é concreta: vemos o saldo cair, sentimos a ansiedade, lemos os noticiários pessimistas. Já o retorno do outro ativo, aquele que brilhou, é observado à distância —sem cicatrizes. Parece fácil ter sido corajoso depois que tudo deu certo.
Mas quase nunca é assim. Toda valorização vem acompanhada de riscos —e a maioria dos ativos promissores ficou pelo caminho e muitas vezes nem vimos. Vemos os que sobreviveram. É o famoso viés da sobrevivência: ignoramos os tombos que não viraram manchetes.
Lembra da febre dos NFTs em 2021? Ou das ações de internet em 2001? Mais perto de casa, quantos investidores viram Magazine Luiza multiplicar de valor e pensaram: “Era só ter comprado lá atrás”. Era. Só que na época parecia caro, arriscado ou fora de hora. E hoje, após quedas acentuadas, muitos desses mesmos ativos voltaram a ser evitados —agora pelo motivo oposto.
É aí que surge a armadilha mais comum: tentar corrigir o passado com uma nova decisão. O investidor, arrependido, entra no ativo que acabou de subir, convencido de que agora está mais preparado. Mas a alta já passou —e o risco, esse sim, sempre permanece.
Nietzsche escreveu que a vida só pode ser compreendida olhando para trás, mas deve ser vivida olhando para a frente. Talvez o mesmo valha para os investimentos. Só que, para olhar para a frente, é preciso aceitar o que já passou —com suas dores, aprendizados e, principalmente, com a consciência de que o retorno real inclui também o preço emocional que se pagou por ele.
Investir é como viver: cada escolha exige abrir mão de outras. E cada renúncia carrega um fantasma —o do “e se…”. A maturidade financeira está em conviver com esse fantasma sem permitir que ele nos paralise.
Se hoje você acredita que teria suportado todas as quedas só para chegar naquele ganho de 200%, cuidado. Pode ser só a memória querendo ser corajosa com os riscos que você, na verdade, nunca enfrentou.