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Você investe como alguém que vai viver 30 anos ou só mais três? – 25/06/2025 – De Grão em Grão

Imagine que você está se preparando para uma expedição. Mas, em vez de levar bússola, barraca e provisões, você escolhe só um guarda-chuva e um lanche rápido — porque, segundo você, “deve chover e voltar logo”. O problema? Era uma travessia de 30 dias por uma floresta. E você descobriu isso no meio do caminho.

É assim que muitos brasileiros investem.

Frequentemente, ouço pessoas exigindo que todos os seus investimentos tenham vencimento em até dois anos. Às vezes, nem isso: o pedido é por ativos com liquidez diária, vencimento em seis meses, ou que “possam resgatar a qualquer hora, sem perda”. O que chama atenção é que essas mesmas pessoas têm 30, 40, 50 ou até 60 anos — e pretendem viver mais 40, 30 ou 20.

Parece haver uma contradição entre o tempo da vida e o tempo dos investimentos.

É natural querer acesso fácil ao dinheiro. Vivemos em um país de crises recorrentes, e essa busca por liquidez é, em parte, um trauma coletivo. Mas quando transformamos esse medo em regra absoluta, criamos um paradoxo: esperamos viver por décadas, mas investimos como se a morte fosse ocorrer semana que vem.

Contraditoriamente, esses mesmos que acreditam que podem morrer em menos de um ano não querem fazer um seguro de vida. Ora, se o medo é de morrer no próximo mês, um seguro de vida seria a aplicação com maior retorno. Afinal, você contribuiria com R$ 2 mil e seus beneficiários poderiam ter mais de R$ 1 milhão no próximo mês.

Não há coerência nas decisões destes investidores.

O horizonte de tempo é um dos elementos mais importantes de qualquer decisão financeira. Ele é o que permite que o risco se dilua, que os juros compostos trabalhem e que a volatilidade deixe de ser ameaça para virar oportunidade. Ignorar isso é o mesmo que abrir mão do único fator que está, de fato, ao nosso lado no mercado: o tempo.

O problema não está em manter uma parte do patrimônio disponível para emergências ou projetos de curto prazo — isso é prudência. O erro está em deixar que esse critério contamine 100% das decisões. Isso cria carteiras que parecem seguras, mas que, na prática, não crescem como deveriam ou tenham cargas tributárias mais elevadas. E quando chega o momento da aposentadoria, o investidor percebe: poupou, mas não prosperou.

Estamos vivendo mais. Segundo o IBGE, a expectativa de vida ao nascer no Brasil subiu para 76,4 anos — e quem já chegou aos 60 pode viver facilmente até os 83 ou mais. Isso significa que os investimentos não precisam apenas durar: precisam render por muito tempo.

E, por ironia, é justamente nos prazos mais longos que muitas das melhores oportunidades estão. A própria teoria financeira explica: quando a maioria prefere ativos mais curtos e líquidos, o mercado precisa oferecer um prêmio maior para atrair quem topa esperar. Esse “prêmio de prazo” recompensa a paciência — e, com o tempo, é ele que faz a diferença entre apenas preservar e realmente multiplicar o patrimônio.

Investir pensando em três meses, quando sua vida financeira ainda terá 30 anos, é como planejar um piquenique para uma travessia no deserto. Você pode até sair animado, mas no meio do caminho vai perceber: o problema não foi o deserto. Foi ter preparado uma lancheira quando o que você precisava era uma mochila de expedição.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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